Opinião

No escuro gritou-se: Liberdade, Liberdade!

Uma crónica de Luís Rodrigues.

Não eram muitos; eram os que havia.

Pelas noites – que a bem dizer eram os dias também de tão escuro que se revelava aquele céu onde outrora os passáros voavam, olhavam para baixo, e nada mais viam senão homens e mulheres caminhando para onde tinham de ir – o ar era pesado, a brisa trazia os ventos dos outros, aqueles que respiravam outros ares. 

Faziam o que podiam com o que tinham: poucos panfletos, algumas palavras de resistência fáceis de serem entendidas no escuro – aquele escuro – e assim seguia a vida dos burburinhos entre casas de conhecidos e portas amigas.

Por vezes, a noite tinha guardas – os que não dormiam para que o sol não nascesse. Ao que parece, para que o escuro se prolongue, há que ter ouvidos em todo o lado: e assim era.

Precisamente para não serem ouvidos, sussurravam – sussurravam sempre que a perdiam de vista – “Liberdade, Liberdade”. Porém, de tão baixo que tinham de falar, às tantas questionavam-se acerca das capacidades auditivas da mulher por quem lutavam. E se não os ouvisse? Mas ouvia, ouvia sempre: parte dela estava neles também.

Certa noite, um dos poucos foi apanhado. E, depois disso, tantas outras noites se seguiram com o mesmo desfecho.

Ainda assim, pairava a sensação de que por cada um que se ia, outros mais se erguiam. E erguiam-se mesmo, até que um dia se gritou “Liberdade, Liberdade”, e as vozes ecoaram até ela, juntas, como sempre vão e até nós.


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