Opinião

Benjamin Netanyau tem as mãos cheias de sangue

Caros(as) leitores(as) recentemente assistimos a mais um ataque terrorista no estado de Israel perpetrado pelo HAMAS no passado dia de 7 de Outubro.

Se por um lado este ataque do HAMAS só pode merecer uma total condenação sem qualquer sombra para dúvida. E porque o HAMAS que é um acrónimo para Ḥarakat al-Muqāwamah al-Islāmiyyah em português Movimento de Resistência Islâmica.

O CONTEXTO HISTÓRICO DO CONFLITO

Fundado em 1987 teve sempre uma oposição à abordagem secular/laica que caracterizou sempre a acção da OLP que actualmente está transformada na autoridade palestiniana.

As raízes políticas do HAMAS remontam à irmandade muçulmana do Egipto.

A abordagem política deste grupo pauto-se sempre por nunca ceder qualquer milímetro de terra a Israel e por uma valorização do Alcorão como guia politico/social por oposição à OLP actual FATHA. E com resistência armada tendo como arma o terrorismo para além da luta política.

O Hamas actuava quer na Cisjordânia quer na faixa de Gaza. Embora o movimento inicial que era a irmandade muçulmana egípcia tivesse uma actuação de resistência não violenta.

Durante a primeira intifada (do árabe intifāḍah, “sacudir”) hamas decide partir para resistência armada. Tendo também ficado em conflito com a OLP que reconheceu o direito à existência do estado de Israel. Para o hamas o território onde se situa o estado de Israel é pátria muçulmana não devendo ser entregue a qualquer não muçulmano qualquer parcela de território em particular Jerusalém a terceira cidade sagrada do Islão (segundo o Corão foi na pedra que está na mesquita de Al-aqsa que Maomé terá ascendido aos cús.

A situação de Israel nunca foi fácil. Primeiro porque trata-se de um estado relativamente jovem e criado de forma administrativa em 1948 durante a administração britânica após o fim do império otomano (turco) no fim da primeira guerra mundial.

Depois porque nunca existiu de forma continua uma ocupação efectiva durante 2000 anos de judeus neste território. Os mesmos foram expulsos do local ainda durante o império romano.

Em 1948 contrariando o propósito inicial de criar na zona dois estados (Israel e Palestina) com Jerusalém como cidade internacional.

A Inglaterra abandona o local e no dia em que Israel é oficialmente criado David Ben Gurion teve que enfrentar uma guerra contra 5 exércitos (Egipto; Síria; Líbano; Iraque e Jordânia) tendo ainda havido tropas sauditas; marroquinas; iemenitas e sudanesas.

Em 1967 Israel enfrenta a GUERRA DOS SEIS DIAS seguida em 1973 da GUERRA DO YOM KIPPUR.

Basicamente Israel nunca conheceu um dia de paz desde que foi criado.

Muito embora as tensões tenham diminuído com vários acordos de paz celebrados com o Egipto o que permitiu que gradualmente Israel passa-se a viver num clima de relativa paz.

Mas houve sempre um problema para o estado de Israel o facto de não haver um estado palestiniano. Isto serviu sempre para combustível a movimentos de resistência armada. Que recorreram a todas as formas de luta inclusive ao terrorismo. Com a OLP à cabeça e mais tarde o Hamas. 

A ACTUALIDADE

Explicado o contexto histórico desta contenda convém relembrar que em 20 de Agosto de 1993 o Primeiro Ministro Itzhak Rabin e o lider da OLP Yasser Arafat assinaram em Oslo um acordo de paz com vista ao estabelecer um estado palestiniano. No qual a autoridade palestiniana passaria a controlar politicamente quer o território da Cisjordânia quer a Faixa de Gaza.

Com um mandato interino de 5 anos ao qual se deveriam seguir eleições.

Com a morte de Itzhak Rabin morto pelo militante de extrema-direita Ivgal Amir em 1995 por se opor aos acordos de Oslo.

Sim também do lado israelita há quem não queira a paz. Prefira a limpeza étnica com base na premissa de que os árabes na zona devem ser exterminados.

Ora quem veio a ganhar politicamente com este assassinato foram os judeus extremistas e ortodoxos.

E em particular o seu paladino Benjamim Netanyahu.

Em 1996 é o partido conservador o Likud quem ganha as eleições com Benjamim Netanyahu a ocupar o lugar de primeiro ministro.

E começa o trabalho de sabotar e desmantelar todo o processo de paz dos acordos de Oslo.

Ao implementar a chamada política das 3 negativas. Não discutir o status-quo da cidade de Jerusalém previsto nos acordos de Oslo; não retirar dos montes Golã; não negociar qualquer acordo de com os palestinianos com base em quaisquer pré condições inclusivé  as escritas nos acordos de Oslo.

Netanyhahu tentou fazer um túnel por debaixo do bairro árabe de Jerusalém colocando em causa a sustentabilidade dos edifícios o que levou a um levantamento popular dos palestinianos fortemente reprimido pela polícia israelita.

Convém lembrar que Netanyhau tem sido desde 1996 quase de forma ininterrupta o primeiro ministro de Israel.

Foi ele quem implementou o muro da Cisjordânia não respeitando a linha verde que eram as fronteiras de 1948 roubando território aos palestinianos inclusive sancionando os colonatos considerados ilegais pela ONU e pelo Tribunal Internacional  de Justiça de Haia. Que decretou a ilegalidade da construção do mesmo em 2004.

A tudo isto os governos do partido Likud no Knesset (parlamento de Israel) têm feito orelhas moucas.

Em 1993 os colonatos judeus na Cisjordânia tinham 110 mil judeus. Com a política de continua expansão de colonatos actualmente existem mais de 700 mil judeus a ocupar a Cisjordânia. Isto tudo à revelia das leis internacionais.

Quando em 2006 os conflitos pelo controlo político Gaza entre a Fatah e o Hamas que resultou na ocupação do poder pelo Hamas. Na qual Netanyhau seguiu a política de dividir para reinar. Ao sabotar a viabilidade económica de um futuro estado da palestina.

Se a isto juntarmos os problemas com a justiça que Netanyhau enfrenta desde 1997 em que surgiram as primeiras acusações de trafico de influências e corrupção. Veremos temos um primeiro ministro que precisa desesperadamente de um inimigo externo para desviar as atenções de si mesmo.

A última jogada Netanyhau procurou fazer uma “reforma” do sistema judicial no qual o Knesset poderia anular e alterar qualquer sentença judicial inclusive do supremo tribunal de Israel.

Ou seja, como o governo de Netanyhau detém a maioria dos assentos parlamentares poderia invalidar qualquer investigação ou sentença que levasse Netanyhau para a cadeia.

Israel apesar de ser formalmente uma democracia não possui qualquer constituição da república; carta magna ou carta constitucional. 

Apenas possui leis básicas que eram o esboço em 1948 da futura constituição.

Sendo assim chegamos aos acontecimentos de 7 de Outubro deste ano da forma como sucederam porque havia interesse em não prestar atenção aos relatórios da comunidade de serviços secretos.

Israel tem seguramente talvez devido à sua história o sistema de informações mais temido e eficaz de todo mundo. Só agências secretas conhecidas são 3:

A AMAM (serviços secretos militares); A MOSSAD (serviços secretos para actuar no estrangeiro). O SHIN BET (serviços secretos internos)

Estes serviços têm um orçamento anual estimado de cerca de 10 biliões de Shekels (moeda de Israel) 2.5807 biliões de Euros. Sim caríssimos leitores 2.5807 biliões de euros. É mesmo muito dinheiro é uma maquina cara. Com um contingente de cerca de 7000 pessoas.

Ora o governo de Israel querer vender a toda a gente que não previu o que ia acontecer é querer passar um atestado de incompetência a mais de 7000 funcionários e agentes do serviço secreto mais eficaz de todo o planeta. Ou pelo menos de todo mundo ocidental. Mas por acaso Netanyhau pensa que o mundo inteiro come gelados com a testa????

É impossível que caia uma agulha no chão na Faixa de Gaza ou na Cisjordânia que não chegue um relatório ao primeiro ministro de Israel.

Houve aqui um verdadeiro crime de omissão.

Os acontecimentos de 7 de outubro não aconteceram do dia para a noite tiveram que ser preparados com bastante antecedência envolveram muitas pessoas. Israel tinha um sistema de Zeplins (balões dirigireis) a patrulhar a faixa de Gaza 24 horas por dia, 7 dias da semana. Um sistema de drones de vigilância e ataque.

A faixa de Gaza é um enclave fechado com uma fronteira com o Egipto onde Israel consegue facilmente saber o que entra para aquela área.

Como é que se explica o armamento que o Hamas adquiriu? Por muito que os rockets sejam produzidos de forma artesanal o combustível para os mesmos e os explosivos tiveram que entrar na faixa de Gaza de alguma forma. Os materiais para fabricar os mesmos também.

Os terroristas que invadiram os Kibbutz não foram somente armados com paus e pedras. Limparam um posto militar num instante como se fosse um mero castelo de cartas. Anularam o sistema de câmaras de segurança. Os que atacaram o festival de música não voaram para lá no bico de uma cegonha.

Os militares do exercito que deveriam estar a patrulhar a fronteira com a faixa de Gaza estavam na Cisjordânia a proteger os colonatos da extrema-direita. Em vez de protegerem aqueles que naquela zona votaram na esquerda.

1400 mortos e cerca de 300 reféns. É o preço que o povo israelita teve que pagar por causa dos problemas de Netanyhau com a justiça.

E numa espécie de fuga para a frente o governo de Israel permitiu que 2 milhões de habitantes da faixa de Gaza ficassem reféns de um grupo terrorista.

Agora a ultima pedrada no charco foi o ataque político/diplomático que decidiram dirigir à ONU em particular ao seu secretário geral António Guterres. Que num rasgo de coragem política decidiu apontar o dedo aos erros do governo de Israel.

Ora o governo de Israel veio rasgar as vestes mostrando-se ofendido.  Porque alguém teve o desplante de dizer a verdade à vista de todos. Criou mais um facto político para distrair a opinião pública interna.  E também a internacional para assim conseguir justificar a sua agenda.

Israel tem o direito de se defender, mas dentro do quadro do direito internacional; do direito de guerra e do direito humanitário internacional.

Não é a arrasar bairros inteiros que vai destruir o Hamas. Vai ter que colocar soldados no terreno. As bombas não distinguem civis de combatentes. E muito menos inocentes de terroristas.

O que Israel vai conseguir com isto é apenas criar mais inimigos. Sim porque parte dos sobreviventes iram ser facilmente doutrinados para o terrorismo.

O Hamas coloca propositadamente os seus centros de comando junto de hospitais; escolas; mesquitas e centros da ONU e outras ONG`s. Israel sabe disto. Sempre soube. Deixou criar um monstro debaixo dos próprios pés. E muito em particular Netanyhau. Porque a existência do grupo islamita Hamas serviu para álibi para a continuação da política de ameaça externa. Quando há um inimigo externo. As pessoas são levadas a votar num salvador da pátria.

Ele pode ser um corrupto, incompetente ETC. Mas é nisto que se vota.

Netanyhau a sua sede de se perpetuar no poder não hesitou em se aliar à extrema-direita de Israel. De prosseguir a política de roubo de terra; com o muro da Cisjordânia; com o atropelo do direito internacional; com o rebentar dos acordos de paz de Oslo; com o dividir politicamente os palestinianos.

Por tudo isto Netanyhau tem as mãos cheias de sangue.

De judeus; de Palestinianos; Russos; Norte-Americanos; Portugueses; Tailandeses; funcionários da ONU e outros.

A única maneira que há de alcançar a paz em Israel e na Palestina é regressar à solução de dois estados.

Destituir Netanyhau e julga-lo por crimes de corrupção; trafico de influencias; e atentado à segurança do estado de Israel. Também deveria ser julgado por crimes de guerra e crimes contra a humanidade.  Mas por esses nunca será julgado.

Até.

Samuel Marques, Chefe de Máquinas Marítimas 


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2 Comentários

  1. E o Hamas tem o quê nas mãos????? Se foram eles que começaram aquele genocídio,,, são um grupo terrorista que cometeu as maiores e imagináveis atrocidades aquelas pessoas e crianças…

    1. Se você deixar crescer um vespeiro no seu quintal e alguém for picado e morrer. A culpa é sua.
      Se um primeiro ministro fez tudo para sabotar os acordos de Oslo. E favoreceu a existência do HAMAS. Deixando o mesmo crescer politica e militarmente. Se desguarneceu militarmente a zona à volta de Gaza para colocar os militares a proteger colonatos ilegais na Cisjordânia .
      Se não quis tomar medidas em relação aos relatórios dos serviços secretos.
      A culpa é de quem????

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