Vamos ter Governo? E por quanto tempo?
Caríssimos(as) leitores(as) esta semana que passou tivemos eleições. Os resultados vieram confirmar em grande parte a tendência das sondagens, com o país a virar à direita.
Esta viragem não é de todo inesperada, é algo que vinha já no ar.
Ao fim de 8 anos de poder o PS foi apeado do governo. Primeiro 6 anos com o apoio do PCP e BE na GERINGONÇA, mas também contando com os apoios pontuais do PAN e LIVRE.
Durante estes 6 anos as pessoas tiveram a esperança de ver uma melhoria substancial quer na vida profissional quer nos serviços públicos.
Foram conseguidos alguns avanços: podemos contar com um passe social a 40 euros. Só na zona de Lisboa podemos viajar desde Setúbal até Mafra ou Vila Franca de Xira usando uma variedade de meios de transporte de forma intermodal.
Os salários em particular o salário mínimo nacional teve um grande incremento.
Mas nem tudo foi um mar de rosas. A GERINGONÇA acabou por cair em 2019 porque António Costa e Mário Centeno não quiseram devolver aos professores o tempo de serviço (6 anos; 9 meses e 15 dias) que tinha sido congelado no governo de José Sócrates.
E António Costa também não aceitou aumentar os impostos sobre as empresas produtoras de eletricidade.
Face a tudo isto o país foi para eleições em 2019 com o PS a obter uma maioria absoluta. Os portugueses nessa altura preferiram dar ao PS uma maioria absoluta para que o mesmo pudesse fazer uma governação sem ter as mãos atadas.
O PS tinha tudo para poder fazer uma governação com rumo. Poderia ter feito as reformas de que o país carece.
Em vez disso focou-se em apresentar excedentes orçamentais. Claro que isto foi grandemente conseguido às custas de cativações e sub-orçamentação de vários ministérios e não execução de investimentos públicos.
As escolas continuam com falta de professores e auxiliares educativos. A ferrovia tem sido esquecida. Com os investimentos em linhas de ligação ibérica quase parados. O que a continuar assim nunca mais vamos conseguir tirar o máximo potencial do porto de Sines.
Outro exemplo é a reabertura do troço da linha do Douro entre o Poçinho e Barca de Alva. Este troço se já estivesse concluído poderia incrementar o turismo no alto Douro mas também a possível ligação à cidade espanhola de Salamanca.
Este governo não parece compreender que a ferrovia é uma artéria vital não só no desenvolvimento do turismo nacional, mas também no repovoamento do interior do país. As pessoas para se fixarem no interior precisam de meios de transporte fiáveis.
A ferrovia é neste caso a melhor opção. A linha já existe juntamente com as pontes. O impacto ambiental é mínimo.
Já no caso da sub-orçamentação dos ministérios os que saltaram mais à vista foi o da Saúde e da Educação.
António Costa prometeu um médico de família a cada português. Essa promessa nunca foi cumprida, e a melhor prova disso talvez seja eu. Ainda não consegui um medico de família desde que a minha médica foi para a reforma. Já lá vão 5 anos.
O SNS no seu todo continua a ter faltas de pessoal médico; enfermeiros; auxiliares e técnicos de diagnostico.
E de cereja em cima do bolo até agora ninguém foi capaz de explicar onde andam os ventiladores encomendados durante o tempo em que Marta Temido foi ministra da Saúde.
Na educação os professores ainda não conseguiram recuperar um só dia do tempo de carreira que foi congelado (6 anos; 9 meses e 15 dias)
As forças de segurança em particular a PSP e GNR vieram para a rua protestar apoiadas em movimentos inorgânicos. Os sindicatos tradicionais estão a perder o controlo do protesto.
No plano político passámos a ter de contar com a presença do partido populista e ultra-direita, o CHEGA. Primeiro só com a presença de André Ventura. Depois com Ventura e mais 11. Nestas eleições passou a ter 48 deputados. Ora com este número de deputados vai ser impossível continuar a ignorar o CHEGA para as políticas públicas.
Primeiro porque passaram a ter um grupo parlamentar com bastante tamanho. Depois porque vão passar a poder eleger quase de forma automática para as vice-presidências da AR; conselho superior de justiça e conselho de estado (órgão consultivo do presidente da república)
Isto vai ser algo de novo porque vai influenciar tudo a nível de orientação política.
Como é que se chegou a este estado de coisas? Como é que um governo com uma maioria absoluta com tudo para conduzir a política governativa da maneira que bem entende-se, com todos os trunfos políticos para impor a sua vontade, veio a soçobrar deixando o poder cair na rua.
António Costa só se pode culpar a si mesmo. António Costa tinha um mandato claro.
Uma maioria absoluta e um Presidente da República colaborante. Uma oposição umas vezes colaborante outras vezes inócua e ineficaz e ainda com fundos comunitários à disposição do PRR para executar.
O problema foi desde sempre o elenco governativo. Juntar uns quantos indivíduos arrogantes e incompetentes sem brilho político deixou o peso das coisas nas costas de António Costa, que teve de estar constantemente a dar o peito às balas.
Teve que gerir os casos e casinhos que os membros do governo criaram a TAP foi disso o melhor exemplo. Decidir uma indemnização de meio milhão de euros por WhatsApp é no mínimo risível. No máximo um escândalo político.
Com tantos casos e más companhias António Costa bateu com a porta após o caso do chefe de gabinete e dos 75.000 €.
E se também formos buscar os casos do ministro Eduardo Cabrita, tudo isto dará quase um manual de anedotário político.
Paradigma da contestação nas ruas mudou
Costa teve ainda que lidar com a contestação nas ruas, só que desta vez não se tratou da contestação organizada e ordeira do PCP, que deixou de ter esse feudo, passando a ter de dividir a rua com o BE e com o CHEGA.
Agora já não se vê ninguém a dizer que são os comunistas que controlam isto tudo em termos de greves. Mudou o paradigma da contestação.
As pessoas ficaram fartas das soluções que o sindicalismo tradicional permite.
Não podemos desmerecer as conquistas sociais que o sindicalismo tradicional proporcionou. Mas houve sempre um óbice, porque muitas das lutas sindicais estiveram sempre dependentes da agenda do PCP.
Embora fossem sempre lutas sindicais justas, mas que estiveram sempre sobre a batuta de um partido.
A luta sindical esteve sempre ligada à esquerda. Mas nem todos os que aderem à greve são de esquerda. Nem partilham dos seus valores. Querem liberdade de pensamento; económica; querem meritocracia. Não querem ter um cartão de militante nem de funcionário do Partido. Não querem ter que obedecer a um comissário político.
Eu pessoalmente sempre fui avesso à mentalidade do rebanho.
Factor CHEGA
Já na AR António Costa e Augusto Santos Silva (o homem que gosta de malhar na direita) ,d decidiram ter como tática política hostilizar o CHEGA.
A coisa até teria resultado bem, e se em contrapartida o governo fosse mais proactivo a resolver os problemas reais do país em vez de dar espaço mediático ao CHEGA, talvez o resultado fosse diferente.
Vem nos livros os partidos populistas sabem usar bem a vitimização. E levantar as bandeiras do descontentamento popular.
A tentativa de Costa e restantes partidos de criar uma cerca sanitária ao CHEGA saiu furada.
Mesmo com as ajudas de alguma comunicação social, em particular das televisões, o CHEGA soube montar uma máquina de propaganda nas redes sociais.
António Costa não soube ler o sentimento popular. E os restantes partidos também não. Cada um deles procurou apenas atender à sua própria agenda política. Aos seus sindicatos de voto e aos seus lobbys.
A esquerda maioritária na AR andou entretida com o acarinhar da ideologia de género. E com leis como a eutanásia. Que agora a provedora Maria Lúcia Amaral de justiça veio pedir ao tribunal constitucional a fiscalização das normas que regulam a morte medicamente assistida.
Outro problema é a imigração descontrolada. A primeira coisa que a esquerda se lembrou foi extinguir o SEF.
Se os processos de legalização já estavam atrasados, agora ainda ficaram pior. Há pessoas com tempo de espera por um título de residência de 3 anos. Se a tudo isto juntarmos as máfias da emigração, temos um barril de pólvora.
Foi graças a estas situações que também se pode explicar o crescimento do CHEGA.
Campanha eleitoral sem brilho
Nestas eleições legislativas podemos concluir que a campanha não teve especial brilho quer por parte do PS quer do PSD, onde até não faltaram os casos da casa de Montenegro e de Pedro Nuno Santos com os seus subsídios de deslocação.
O PCP apesar de toda a boa vontade do novo secretário geral Paulo Raimundo não se saldou em ganhos de causa, tendo até perdido no distrito de Beja o deputado que historicamente sempre elegia.
O PCP continua a ser castigado pela sua participação na GERINGONÇA, mas também pelo apoio ao regime de Vladimir Putin, quando devia ter tido uma posição de demarcação clara das posições de Moscovo. Não o fez e por isso também foi castigado.
O Alentejo virou o voto do PCP para o CHEGA. Acho que os partidos políticos em particular o PCP deveriam fazer uma profunda reflexão sobre as causas de tão abrupta perda de eleitorado.
O BE se não fosse o seu eleitorado militante urbano; alguma franja de professores agregados através do sindicato STOP; os ambientalistas radicais do CLIMÁXIMO e as associações LGBT, poderia ter ficado reduzido a meros 2 deputados.
Mariana Mortágua decidiu recorrer à mentira grosseira, primeiro com o caso do arrendamento da casa da avó, e depois com o caso de alegadamente o pai ter sido condenado a prisão perpétua pela PIDE.
Ora a PIDE não condenava ninguém. Prendia e torturava mas não decretava penas de prisão. Já agora o pai foi condenado IN ABSENTIA (à revelia) a 17 anos por roubo. E pelo assalto ao paquete Santa Maria.
O pai de Mariana Mortágua tem as mãos manchadas de sangue de um tripulante inocente que foi morto durante o assalto.
O LIVRE, com a casa arrumada, optou por fazer uma campanha pragmática e conseguiu um bom resultado. Trata-se à partida de uma esquerda menos agarrada a dogmas e com um pendor ambientalista.
O PAN esteve quase a ser despejado da AR e ser substituído pelo ADN. O PAN teve que lidar com a desfiliação de muitos militantes e de membros-chave do partido. Inês Sousa Real não convence. Não entusiasma, é demasiado auto-centrada em si mesma e nas suas convicções. Assumidamente vegan não consegue alcançar um eleitorado rural que vive da pecuária e de uma agricultura de subsistência, e no eleitorado urbano ficou-se pelas franjas que não representam muitos votos.
O PAN é um partido de franjas que não tem em conta a idiossincrasia dos portugueses. O português gosta de um bife; de um cozido à portuguesa; de uma sopa da pedra.
O PAN conseguiu também votação junto dos defensores de animais domésticos.
O IL, entalado entre a AD e o CHEGA, consegue manter o mesmo número de deputados.
A AD venceu, mas sem convencer. O fantasma de Pedro Paços Coelho ainda está na cabeça de muita gente. Os brutais cortes e aumentos de impostos, que foram além do que a Troika definira, teve os seus custos sociais. E vai levar muito tempo a reconciliar o eleitorado com o PSD e com o CDS.
O PPM, que também faz parte desta aliança, é um partido que nos últimos 20 não tem história política. Trata-se de um partido supostamente monárquico num país onde o povo não tem entusiasmo especial pela restauração de uma monarquia. Aliás acha essa ideia uma relíquia e excentricidade histórica.
Hoje que estou a escrever este artigo ainda faltam contar os resultados eleitorais da emigração da Europa e resto do mundo. No total 4 deputados. Provavelmente poderão dar mais um deputado ao CHEGA e os restantes 3 a dividir pelo PS e AD.
Com um Parlamento onde a esquerda toda junta não consegue 50%, a AD apesar da maioria não tem gente suficiente para governar de mãos livres, e vai ter que se apoiar na IL, no PS e no CHEGA. Quando se tem que governar em geometria variável é ter um governo com prazo de 6 meses.
Luís Montenegro teve uma vitória de Pirro. Vai ter que governar espartilhado. E ou vai demonstrar grandes dotes de que consegue negociar e agregar à sua volta ou arrisca sucumbir a uma moção de censura ou um chumbo do orçamento.
Provavelmente vai ser um governo sem espírito reformista. E o país necessita de reformas e todos os sectores como de pão para a boca.
Os dossiers do aeroporto e ferrovia têm que ser concluídos sob pena de o dinheiro dos contribuintes ir pela sarjeta abaixo.
Professores; policias; militares e o SNS são assuntos que vão ter que ser abordados com toda a coragem. Assim como a reforma fiscal. O ensino também precisa de ser revisto e de lhe ser dado um rumo. É preciso preparar as próximas gerações para o mercado laboral.
É preciso resolver o problema da habitação. As pessoas precisam de um tecto para morar.
Com todos estes cenários quem não queria ser primeiro-ministro era eu. Talvez por isso Pedro Nuno Santos vendo que a direita tinha a maioria do parlamento assumiu logo no discurso eleitoral que iria passar à oposição. Foi de todos dos discursos da noite eleitoral o mais realista e escorreito. O mais inteligente e precavido.
Vamos ver o que o futuro nos vai trazer.
(artigo escrito segundo o antigo acordo ortográfico)
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