Plano Ferroviário Nacional tem uma “visão retrógrada e nacionalista”, afirmam técnicos e académicos
Vários empresários, técnicos e académicos qualificam o Plano Ferroviário Nacional (PFN) como “retrógrado e nacionalista”, indicam numa carta aberta ao Presidente da República e à Assembleia da República.
De acordo com a Agência Lusa, na carta assinada por inúmeros empresários, dirigentes associativos, especialistas e académicos, os subscritores dizem que “este Plano Ferroviário Nacional [PFN], na sua visão retrógrada e nacionalista é um plano fora do seu tempo, não cumpre nenhum dos objetivos definidos pela União Europeia, que são afinal objetivos globais, da Europa à China, de redução do consumo de energias fósseis, da substituição do transporte rodoviário de mercadorias e de passageiros pela ferrovia, da eliminação do transporte aéreo para distâncias inferiores a mil quilómetros e a limitação em curso do transporte individual a favor do transporte coletivo, não apenas no plano nacional mas global”.
Na carta está descrito que há anos que tentam “sensibilizar o Governo, a Assembleia da República e os partidos para a realidade de que a política ferroviária da última década e o PFN não cumprem, antes se opõem aos objetivos europeus de interoperabilidade ferroviária”, recordando que “está regulamentada a conclusão da rede principal até 2030, com inexistência de obstáculos técnicos à circulação de comboios de todas as nacionalidades em todos os países da UE”.
Segundo a carta, “o Plano Ferroviário agora apresentado pelo governo é um plano caseiro, não interoperável com o resto da Europa, desenhado para impedir a entrada em Portugal da concorrência ferroviária europeia”, sendo um “objetivo já expresso pelos anteriores ministros das Infraestruturas ao proteger monopólios ferroviários domésticos e, principalmente, ao condenar as exportações portuguesas à dependência dos centros logísticos que a Espanha tem criado”.
“Trata-se de um plano que mal começou já está atrasado dois anos e que ignora novos avanços da tecnologia ferroviária mundial, nomeadamente o transporte de camiões e semi reboques de mercadorias em plataformas ferroviárias como já há anos se vem fazendo na Europa, um plano que engana os portugueses sobre o conceito de Alta Velocidade e continua a apostar no transporte rodoviário de mercadorias com destino à Europa, que vai ser cada vez menos competitivo”, sublinham.
“O Governo português propõe-se investir na chamada modernização da nossa ferrovia do século XIX, sempre e só em bitola ibérica, com a promessa de no futuro (que agora é 2050) voltar a realizar novos investimentos, com vista, finalmente, à adoção da bitola europeia”, reprovam.
De acordo com os assinantes, “não há ainda confirmação oficial, à data de 22 de dezembro de 2022, da obtenção de fundos comunitários para a linha Lisboa-Porto em bitola ibérica na fase de candidaturas que termina em 18 de janeiro de 2023”, acrescentando que “no período 2014-2020 o Governo português previa angariar 1.250 milhões de euros do CEF-Geral (fundos atribuídos com base na qualidade dos projetos) e nem conseguiu um oitavo desse valor”.
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