Se conseguissem falar… seria fantástico, não acha? Muitos compreendem o que lhes dizemos. As nossas palavras e, principalmente, a entoação com que as verbalizamos permitem aos bichos perceber um pouco de nós. Só é pena que respondam com sons para nós imperceptíveis. Mas será que são tão imperceptíveis assim?
Vou falar de seres marinhos, terrestre e de aves. Começo pelos golfinhos, os mais enigmáticos dos seres marinhos no que diz respeito à capacidade de comunicação. Assobiam e fazem cliques repetidos que sabemos ser usados como ecolocalização. Mas não podemos saber mais?
Apresento-lhe o cymascope, um instrumento criado pelo britânico John Stuart Reid que transforma sons em imagens. Não acredita?
A cymatics é a ciência que veio revolucionar o mundo ao permitir a visualização do som. Quando este embate numa membrana, como é o caso da água, é possível imprimir um padrão invisível de energia. As vibrações produzidas pelo som são convertidas em ondulações periódicas de água, potenciando a criação de padrões geométricos.
Fizeram uma experiência com um golfinho fêmea – mostraram-lhe em ambiente subaquático desenhos com figuras geométricas e o próprio mergulhador (Jim McDonough). Munidos de um microfone à prova de água de alta frequência (hidrofone) os investigadores descobriram o impensável. Conseguiram provar que o golfinho fêmea que visualizou as imagens comunicava aos restantes o que tinha acabado de ver.
Para mais informações, consulte este link:
https://www.cymascope.com/cyma_research/oceanography.html
Mas os golfinhos não são os únicos seres evoluídos em termos de comunicação. Para além de algumas aves, como é o caso paradigmático dos papagaios, já se conhecem outros animais que conseguem verbalizar palavras compreensíveis para o ser humano. Como é isto possível?
O ar que é expelido dos pulmões, que passa pela laringe, fazendo depois vibrar as cordas vocais é modelado através da língua. Já reparou como é capaz de fazer os mais diversos movimentos com a sua língua? É assim que conseguimos falar. Vá, vamos fazer um teste: mexa a língua para baixo, depois para cima, lado direito, a seguir esquerdo. Agora enrole para dentro e deixe cair para fora. Já que está de fora, faça movimentos rápidos para cima e para baixo, aproveitado para enrolar em várias posições. Isso mesmo. Ora os bichos não têm esta polivalência lingual.
Com efeito, o organismo dos outros animais é diferente do nosso. Para além de a língua não assumir grande mobilidade e versatilidade, limitando a produção de determinados sons, acreditou-se que os animais não conseguiam falar porque a sua laringe está mais junto à garganta, se a compararmos com a posição que ocupa no ser humano. Esta conclusão caiu por terra quando se comprovou que quando emitem sons, a laringe dos animais desce. O que realmente os impede de falar é o facto de os animais não terem uma conexão dos nervos do córtex cerebral com os neurónios que controlam o canal vocal.
Ainda assim, há quem consiga desafiar todas as probabilidades e surpreenda com a sua fantástica aprendizagem vocal. Veja estes exemplos:
1 – A foca Hoover, que imitava o seu tutor na perfeição – com a arrogância e agressividade própria do marinheiro que a recolheu;
2 – O elefante Kochik, capaz de imitir a voz do seu tratador pondo a tromba dentro da sua cavidade bocal, permitindo-lhe modelar um som idêntico ao de um ser humano;
3 – O papagaio Griffin que consegue dizer o nome das cores quando lhe são apresentadas, demonstrando uma inteligência que aparenta estar ao nível de uma criança de 6 a 8 anos;
4 – O papagaio Disco, que conhece 250 palavras com as quais consegue formar frases;
5 – O tentilhão zebra, essa ave canor, campeã da aprendizagem vocal, portadora de circuitos cerebrais em muito semelhantes ao do ser humano. No cérebro desta existem 4 regiões que se conectam aos neurónios e que lhes permitem controlar a sua voz – os genes da comunicação que existem nos seres humanos estão presentes nestas aves.
E outros seres há que são muito suscetíveis à aprendizagem vocal, como as baleias, os beija-flor, os morcegos e provavelmente muitos outros cujas capacidades vocais nunca foram testadas.
Voltarei, porque, afinal, “somos todos iguais”.
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