Inquérito/CGD: Santos Ferreira diz que nunca falou com Sócrates sobre convite para banco
O ex-presidente da CGD Santos Ferreira disse esta terça-feira, no parlamento, que a relação com Sócrates era “normal”, sem visitas a casa, e que nunca falou com o ex-primeiro-ministro sobre o convite para liderar o banco público.
“Eu e o engenheiro José Sócrates não somos visita de casa um do outro, hoje não temos relação, na altura da Caixa tínhamos a relação normal entre dois membros do mesmo partido, mas sem sermos visitas de casa, nunca falei com ele sobre este convite da Caixa”, afirmou Santos Ferreira em audição na comissão parlamentar de inquérito à Caixa Geral de Depósitos (CGD).
O presidente do banco público entre 2005 e 2008 pediu que as suas palavras não sejam vistas como um modo de “fazer piorar a situação” de José Sócrates, que considerou “extremamente complicada e delicada”.
Santos Ferreira disse que, como presidente do banco público, com quem falava regularmente no Governo era com o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, e com o secretário de Estado da tutela.
Afirmou ainda que quando foi convidado para liderar a CGD não sabia que Armando Vara e Francisco Bandeira iam também fazer parte da administração, referindo que então não conhecia Bandeira e que conhecia Vara, mas não o via há cerca de 20 anos.
Com o ministro das Finanças, indicou, não discutia com créditos e, quando o tema foi o investimento na La Seda Barcelona, o que quis saber era se aquele projeto fazia “sentido para este país [Portugal]”, vincando que nunca falava sobre investimentos em específico.
“Para mim era claramente um projeto de interesse nacional, foi-me referido que se fosse apresentado com pés e cabeça podia ser candidato a um daqueles PIN [projetos de potencial interesse nacional]”, afirmou Santos Ferreira.
Já sobre o empreendimento de Vale do Lobo, Santos Ferreira respondeu que não foi Armando Vara que lhe deu a conhecer o projeto e que o normal, se a operação não tivesse algum problema, era ter acesso às propostas de crédito na véspera da reunião em que seriam discutidas e eventualmente aprovadas.
Segundo o ex-gestor foi isso que aconteceu uma vez que não houve qualquer aviso de que se tratava de uma operação anormal.
“Não tive esse aviso relativamente a Vale do Lobo, nem devia ter. Não conheço pessoas de Vale do Lobo, só Horta e Costa dos tempos em que era administrador da EDP, nunca fui a Vale do Lobo, não aceitei convites, porque eu sou antissocial, não vou a lado nenhum”, disse.
“É obvio que não é um momento bom da história da Caixa”, disse Santos Ferreira, sobre o financiamento a Vale do Lobo.
Sobre se falou com Armando Vara sobre este empréstimo, Santos Ferreira indicou que não se lembra.
O relatório da EY, que deu origem à atual comissão parlamentar de inquérito ao banco público, analisa concessões de crédito que acarretaram elevadas perdas para a CGD, vários dos quais durante a presidência de Santos Ferreira, de 2005 a 2008.
Em janeiro deste ano foi conhecida a versão preliminar da auditoria da EY à gestão da CGD, em que são apontados problemas de concessão de créditos mal fundamentada, atribuição de bónus aos gestores com resultados negativos, interferência do Estado e ineficiências na gestão de risco.
Nesse documento divulgado pela comentadora Joana Amaral Dias a consultora avaliou sete operações de concessão de crédito com risco grave ou elevado e, só nestas, estimou perdas de mais de 1.000 milhões de euros, estando à cabeça as operações de financiamento da fábrica da La Seda, em Sines.
Ainda entre as operações com perdas elevadas estão empréstimos à Investifino (de Manuel Fino), para compra de ações da Cimpor dando ações do BCP e da Cimpor como garantia, Fundação Berardo, Auto-Estradas Douro Litoral e Vale do Lobo Resort.
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