Opinião

“Eu bem vos avisei!”: Quem é o novo Príncipe de Portugal?

As opiniões expressas neste artigo são pessoais e vinculam apenas e somente o seu autor.

Numa dessas voltas tortuosas do tempo, onde os pensamentos dançam com a poeira das ideias antigas, decidi-me a esquadrinhar, quase que estremunhadamente, as artimanhas de Nicolau Maquiavel. Sim, aquele velho filósofo da política que, mesmo séculos depois, continua a rir das nossas tentativas modernas de jogar o jogo do poder. É como se estivéssemos todos a tentar montar um quebra-cabeças na escuridão, enquanto ele, de algum lugar além do túmulo, solta gargalhadas sarcásticas.

Maquiavel, o guru da obra O Príncipe, o avô da política, a fonte de sabedoria para todos os políticos que querem entender o jogo sem se enredar nas teias do politicamente correto. E cá estou eu, a tentar decifrar as suas estratégias, como um detetive a desenterrar segredos emporcalhados.

O homem escreveu sobre como ser um mestre da manipulação política quando a política ainda era praticamente feita em folhas de papiro. E olhem para nós agora, com os nossos smartphones, debates televisivos e Twitter (novo X).

A tecnologia evoluiu, mas parece que os truques políticos de Maquiavel têm a particularidade de serem intemporais, como uma receita de migas à alentejana. É portanto natural que os políticos se limitem a colocar as mãos na massa, ou, neste caso, no pão.

 Imaginem o que seria um ministro desobedecer ao primeiro-ministro, envolver-se numa polémica de ajustes diretos entre o Estado e a empresa do pai, ficar mal na fotografia no caso de uma indemnização de meio milhão de euros à ex-administradora da TAP, e aventurar-se na sugestão de que Portugal poderia não pagar a dívida durante um período crítico de resgate financeiro. A cereja no topo do bolo seria, ao final de contas, descobrirmos que não é preciso ter muitas ideias, e que o essencial é conseguir mobilizar muitas cabeças de jogadores para construir uma casa de cartas.

 A ironia disso tudo é que Maquiavel era mais transparente acerca da sujeira política do que muitos políticos de hoje em dia. Nicolau não se preocupava muito com a fachada das boas intenções; era mais do tipo “vamos ser realistas, o poder é sujo, então aprendam a sujar as mãos da maneira certa”. É justamente assim que se fazem as disputas de bastidores, que o cidadão comum não conseguem ver, vai para lá da sua perceção. Ao votante só lhe chega o almoço empratado, as migas quentinhas enquanto vê o Príncipe nas Tardes da Júlia.

É claro que, para muitos, Nicolau Maquiavel é como aquele vizinho sapateiro que só aparece nas reuniões de condomínio para dar conselhos duvidosos sobre palmilhas. Todavia, na verdade, faz a sua visão desmistificada da política ressoar. Talvez seja altura de pararmos de tentar reinventar a roda e começarmos a ouvir as gargalhadas sábias do velho, que, do além-túmulo, deve estar a dizer: “Eu bem vos avisei!”


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