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‘É absolutamente essencial ouvir os médicos de saúde pública´’

O Fórum Médico de Saúde Pública reuniu esta manhã com o Presidente da República, por videoconferência, a que se seguiu uma conferência de imprensa sobre o assunto com vários órgãos de comunicação social, na qual o Diário do Distrito participou.

Neste estiveram presentes o Bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, Jorge Roque da Cunha, e Luís Cadinha, do Conselho Nacional da Federação Nacional dos Médicos.

José Miguel Guimarães destacou a falta de médicos “que devíamos ter, nem os recursos que necessitamos, e os casos que surgiram na região de Lisboa e Vale do Tejo veio demonstrar isso, e essa foi uma das mensagens que transmitimos ao Presidente da República”.

“Apenas conseguiremos ultrapassar esta situação com a interajuda de todos e é absolutamente essencial ouvir os médicos de saúde pública.

Por outro lado, nesta fase de desconfinamento, o sistema de vigilância tem de funcionar em pleno, para conseguir detectar os potenciais doentes e evitar os focos.

É também fundamental uma comunicação muito transparente e que vá ao encontro do que é esperado pela população, o que não tem acontecido.”

O tema da falta de comunicação foi também abordado por Ricardo Mexia, que salientou que “o sistema de informação não existe na saúde pública, o que é incompreensível. A pouca assertividade leva as pessoas a adoptar comportamentos que os colocam em risco a si e a terceiros.”

Ricardo Mexia explicou ainda que ao Presidente da República foi “realçada a necessidade de reforma do SNS mas não vemos grande desenvolvimento nesse sentido. É necessária a reorganização de todo o sistema, e da forma como está montada, numa abrangência mais vasta do que é a saúde pública, além da falta de falta de locação de recursos humanos e físicos.

Temos estado a ser reativos e não proactivos, como agora, que andamos a correr atrás do prejuízo, e por isso era previsível que o número de casos aumentasse. E agora temos dificuldade em responder a tudo.

Também não adianta fazer comunicados a dizer que os inquéritos epidemiológicos têm de ser feitos em 24 quando não há meios para isso, por vezes nem computadores nem telemóveis e linhas telefónicas para isso.”

Miguel Guimarães realçou ainda que “se continuarmos a manter uma grande pressão sobre a economia, como aconteceu durante o período de confinamento, iremos ter muito mais problemas no futuro.

Se as medidas que foram tomadas tivessem sido antecipadas, poderíamos conseguido ter contido estas infeções que estão a acontecer, e assim mais rapidamente relançar a economia sobretudo a ligada ao turismo.

Incomoda-me a decisão do Reino Unido que podia ter sido diferente, e que se vai espelhar em grande parte neste sector.”

O responsável da Federação Nacional dos Médicos vê “com extrema preocupação a forma como os médicos estão a ser tratados, sem descanso e sem direito a remuneração do tempo extra que trabalham.

Há um abuso do sistema de disponibilidade permanente que os leva a trabalhar o dobro do tempo normal, o que aceitam pelo seu sentido de responsabilidade, mas isso pode culminar com desmotivação e com risco sério para a saúde dos profissionais, por desgaste físico e psicológico, e sem fim à vista do problema da pandemia.”

O representante do SIM, Jorge Roque Cunha, frisou que “a Autoridade Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo é a culpada da situação que agora se vive na área, e para além disto, a ministra da Saúde continua a desconsiderar os profissionais de saúde, que são essenciais para combater a pandemia.

Os políticos têm vindo a condicionar o trabalho na saúde, e sem o respeito que é devido aos profissionais de saúde, não haverá forma de contornarmos a pandemia.”

Miguel Guimarães também destacou “o indicador muito positivo que temos neste combate à pandemia, que é o relativo à taxa de mortalidade, com números baixos que nos deixam bem na fotografia, e isso pode agradecer-se aos médicos.”

Inverno e falta de consultas preocupam profissionais

A chegada da época de Inverno e o adiamento das consultas e cirurgias de doentes não-covid19, é outro dos assuntos que preocupa os profissionais de saúde.

“Vamos precisar de reforçar muto a capacidade de resposta do sistema, porque os números de doentes de outras patologias tiveram um prejuízo muito elevado, devido à concentração dos meios humanos e técnicos na luta contra o covid19” referiu Miguel Guimarães.

“Faltam médicos em todos os hospitais e Centros de Saúde e isso vai ser mais visível no Inverno, com a descompensação em casos de doenças crónicas e as doenças sazonais.

Ou planeamos isto muito detalhadamente, porque o tempo já está a contar, ou teremos nas mãos situações muito complicadas. É preciso reforçar as respostas a todos os níveis.”

O Bastonário apresentou depois alguns números de comparação com 2019, sendo que nos hospitais “há cerca de 900 mil consultas por realizar, entre Março, Abril e Maio” e no caso das cirurgias, terão sido adiadas “entre 94 e 95 mil cirurgias”.

Também nos cuidados de saúde primários “as consultas por realizar são muito elevados. Temos muita coisa para recuperar e precisamos de um plano urgente que envolva todo o SNS e com o apoio do sector social e primário, para estes doentes não serem ainda mais prejudicados.”


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