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Bombeiros enfrentam crise financeira causada pelo covid-19

A pandemia de Covid 19 que o mundo enfrenta trouxe uma alteração de todo o modo de vida, com consequências graves ao nível da economia, numa onda que atinge também as corporações de bombeiros, que além de estarem na linha da frente do apoio, têm ainda de encarar uma diminuição das receitas e um aumento das despesas.

O Diário do Distrito entrevistou os presidentes das Associações Humanitárias de corporações do distrito de Setúbal sobre como estão a enfrentar este novo desafio, que poderá piorar com a aproximação de mais uma época de fogos florestais.

Depois de Palmela e Seixal, é agora das duas corporações do concelho do Barreiro. 

«Uma corporação demora anos a construir, mas leva pouco tempo a derrubar»

Eduardo Moreira, presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Sul e Sueste, no Barreiro, explicou que “a situação é quase igual em todas as corporações, sobretudo a partir de 13 de Março, um mês atípico mas que permite que se perceba que irá ocorrer uma redução na facturação em Abril na ordem dos cinquenta por cento.”

Esta redução prende-se com menos serviços de transporte de doentes “que no caso das urgências pré-hospitalares foi menos de metade da registada em Janeiro e foram reduzidos para metade os serviços de transporte de doentes não urgentes, com o fecho das clínicas de fisioterapia, o cancelamento de consultas externas na Administração Geral de Saúde, e o adiamento das consultas de continuidade do IPO. Neste momento, mantem-se apenas o transporte de doentes para hemodiálise. E claro, são os bombeiros quem faz todo o transporte de doentes infectados, ou suspeitos, por covid-19.

Isto também espelha algo: é que cerca de quarenta por cento das pessoas que vão às urgências dos hospitais não têm real necessidade disso, e agora não vão porque receiam a contaminação em contexto hospitalar.”

O presidente da Associação realça que “no nosso caso, temos um protocolo de transporte inter-hospitalar com o Centro Hospitalar Barreiro Montijo, para quem fazemos o transporte das zaragatoas para testes, e cujo pagamento é igual ao do transporte de doentes, tal como o de transporte de medicamentos urgentes”.

Também aponta como dificuldades o acréscimo dos custos com os equipamentos descartáveis de proteção individual para transporte de infectados com covid-19 “cujos preços “que dispararam brutalmente, há produtos a custar cinco vezes mais que há um mês atrás, o que vai custar milhares de euros às corporações, porque os que o Governo anuncia não chegam e temos de ser nós a comprar”.

Eduardo Moreira indica como soluções “a actualização dos protocolos com o INEM, que continua a pagar o quilómetro da deslocação a preços de 2012; a regularização dos apoios municipais, não faz sentido que umas câmaras apoiem com quase tudo e outras não o façam; a criação de um dispositivo de Emergência para o Covid- 19 em cada corporação, à semelhança das EIP – Equipas de Intervenção Especial, criadas para o combate aos incêndios e com financiamento autónomo.

Os operacionais estão cá, precisamos é do financiamento, e este deve ser directo por parte do Governo, porque isto não se resolve com a antecipação dos duodécimos. De outro modo arriscamo-nos a chegar ao final de Abril sem verba para pagar os salários.

Os bombeiros não podem apelar ao lay-off, não por constrangimentos legais mas porque senão ficaríamos sem operacionais, tendo em conta que 80 por cento da escala voluntária é assegurada pelos assalariados, ou seja, são os assalariados que realizam as escalas de fins-de-semana, feriados, etc. uma vez que os realmente voluntários asseguram apenas vinte por cento dessa escala.

Os Bombeiros, ao contrário de outras instituições, também não podem ir ao ‘cofre do Centeno’ buscar verbas. E o Governo tem de olhar para nós de forma diferente, porque somos diferentes, não somos uma entidade pública.

Apenas isto irá evitar que as associações continuem a viver ‘à pele’, com ‘chapa ganha, chapa gasta’, porque sem ajuda, tudo vai desmoronar. Uma corporação demora anos a construir, mas leva pouco tempo a derrubar.”

E deixa o aviso: “a situação não voltará a ser a mesma de antes do Covid-19 se não forem tomadas medidas, senão daqui a dois ou três meses, quando estivermos na época de incêndios, não teremos bombeiros suficientes e isso não se resolve com anúncios em jornais para contratar. Esse combate vai necessitar da estrutura do costume, mas o que temos é que se anunciaram uma série de medidas, mas finda a época, tudo ficou na mesma, ou irá correr muito mal no futuro.”

Eduardo Moreira termina com uma nota de esperança “esta pode ser uma oportunidade para que tudo mude realmente e quem cá ficar consiga dar a volta a tudo de forma estratégica.” 

DR – BVSS

«A pandemia trouxe à luz do dia a necessidade de haver mais investimento do Estado»

O presidente da Direção da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários do Barreiro – Corpo do Salvação Pública, Carlos Moreira, explica que “a par de todas as Associações de Bombeiros, vive momentos muito difíceis, porque os bombeiros estão na primeira linha da resposta no socorro e transporte de doentes, estando sujeitos a contágio da doença COVID-19.

Tal deixa-nos angustiados e preocupados por todos os bombeiros e suas famílias.

Em segundo lugar, destaco a escassez de meios que existem nas Associações, nomeadamente ambulâncias, pois há muito as Associações de Bombeiros reclamam mais meios, com a finalidade de servir melhor as populações.

Em terceiro lugar, a escassez de material de proteção individual para os Bombeiros, que não tem sido distribuído pelos poderes públicos em número suficiente para dar resposta a tão grande problema. Esta escassez de EPI não afeta apenas os Bombeiros, mas a generalidade dos que estão no terreno para salvar vidas.”

No caso particular dos BVB-CSP as dificuldades financeiras não se colocam directamente com a redução do transporte de doentes não urgentes “porque não tem sido este o foco principal da nossa associação, estando mais focados na emergência médica, no socorro às populações e no combate a incêndios, pelo que a receita vinda desta atividade é residual”.

Carlos Moreira realça outros problemas que afectam a corporação financeiramente, “como a redução significativa da quotização dos nossos sócios, por não ser possível aos cobradores fazerem cobrança (a nossa associação tem mais de 5000 associados); e temos sido afetados com os preços elevados dos equipamentos de proteção individual, que se agrava pela aumento da necessidade destes, que na sua maioria não são recicláveis e cujos preços aumentaram imenso.”

Para o presidente da AHB “em suma, a atual pandemia trouxe à luz do dia a necessidade de haver mais investimentos do Estado nas corporações de Bombeiros, através da distribuição de mais e melhores viaturas para as diversas atividades de socorro, de mais meios financeiros para aquisição de equipamentos de proteção individual.

Mostrou-se mais uma vez, que apesar dos escassos meios, os Bombeiros estão sempre prontos para o socorro aos que deles necessitam, cumprindo o lema ‘Vida por Vida’.”

A aproximação da época dos fogos é outra das preocupações dos responsáveis, conforme referiu ao Diário do Distrito o Comandante José Figueiredo.

“Existe uma forte probabilidade da época dos incêndios rurais e a pandemia COVID-19 serem concomitantes e essa é uma realidade nova com que teremos de lidar, embora o serviço prestado nas ocorrências de incêndios rurais represente menos de 2% do serviço de socorro realizado por a nossa corporação.

Ainda assim, o Corpo de Bombeiros Voluntários do Barreiro CSP é responsável pela deslocação de recursos humanos e materiais para o combate a incêndios de Norte a Sul de Portugal e se até à data foi possível responder positivamente a essas solicitações, este ano prevejo que este accionamento será dificultado pelo o envolvimento dos nossos bombeiros no combate a esta pandemia.”

Para dar resposta a essas solicitações, o Comandante José Figueiredo deixa um recado ao Governo: “este ano torna-se ainda mais pertinente que a tutela agilize os procedimentos de atribuição de Equipamento de Proteção Individual e todos os processos de reposição dos valores e equipamento sem a burocracia que, na maior parte das vezes, é responsável pelas dificuldades financeiras que as Associações têm.

Importa, mais do que nunca, que seja apresentada uma directiva financeira que não seja mais que o copy/paste dos das diretivas dos anos anteriores.  Estou convicto que as dificuldades com que iremos ser confrontados serão superadas, mas torna-se de extrema importância que a tutela defina, o mais breve possível, um regime de exceção que permita que o principal agente de Protecção Civil, que são os bombeiros, possa cumprir a sua missão em segurança.”

DR – BVB


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