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Seixal | Eleitos pelo Chega acusam partido de ‘representar o que o sistema tem de pior’

Cinco dos eleitos do Chega nos órgãos autárquicos no concelho do Seixal assinaram uma nota de imprensa na qual afirmam «não ser meros peões», e onde apresentam a sua desvinculação do Partido, continuando como independentes nos órgãos para os quais foram eleitos.

Em exclusivo ao Diário do Distrito o vereador Henrique Freire afirmou que “a intenção desta comunicação é chamar a atenção para o caminho que o Partido está a levar. No fundo, a nota de imprensa pretende demonstrar o nosso desagrado e posicionamento.

Não é uma nota de uma única pessoa, mas destes cinco eleitos”, e lamenta que a mesma tenha sido “deturpada por alguma comunicação social, a quem nunca dei qualquer declaração”.

A nota de imprensa é assinada por Henrique Freire, vereador; Henrique Rodrigues e Soraia Rosário, deputados municipais na Assembleia Municipal; Nuno Rodrigues, membro da Assembleia de Freguesia do Seixal, Arrentela e Aldeia de Paio Pires e Pedro Costa, membro da Assembleia de Freguesia da Amora, e apresenta a desfiliação «enquanto militantes do Partido CHEGA, uma tomada de posição já estava prevista, e que seria comunicada ao partido sem alarido, após a tomada de posse dos deputados na Assembleia da República, mas o comunicado da Direção do Partido a isto nos obriga.

Tendo o ambiente se tornado pouco recomendável, chegou a hora de sair formalmente. Não nos revemos nem queremos ser conotados com atitudes menos correctas (ainda que sob a forma de suspeitas), violadoras dos princípios básicos da dignidade humana, apontadas como ocorrendo agora nos encontros do Partido, nem nas declarações de um destacado membro do Partido, Diogo Pacheco de Amorim. A nossa saída não só é necessária, como se tornou uma questão de higiene mental e de reserva moral da nossa parte.»

A extensa nota de imprensa explica também que «ao contrário do divulgado pela direcção, o Vereador eleito pelo CHEGA para a Câmara Municipal do Seixal (bem como o seu congénere em Sesimbra), se afastaram do partido (e não o contrário) após as primeiras votações (e essencialmente por causa das mesmas) nos órgãos autárquicos».

No Seixal o Chega elegeu um vereador, três deputados municipais na Assembleia Municipal e cinco membros nas Assembleias de Freguesia.

Eleitos acusam ‘culto do líder’ em relação a André Ventura

A nota acusa o CHEGA «que se diz contra o sistema, de representar o que o dito sistema tem de pior», «de não entender que os cargos autárquicos são dos eleitos e não propriedade do partido», e de se «aproximar bem mais dos sórdidos aspectos de uma outra democracia que existia à cerca de cinquenta anos atrás.

O CHEGA revelou-se um partido autocrático populista, que apresenta na AR Propostas de Lei que se sabe de antemão não serem aprovadas, apenas e só para poder capitalizar o voto de descontentamento.»

Os signatários confessam-se desiludidos por «terem militado num Partido que acreditavam ter princípios, causas e objectivos comuns. Julgávamos integrar um partido democrático, contra o sistema, centrado no que é mais importante para o país e não para o partido – infelizmente o tempo veio-nos mostrar o quão errados estávamos. Um partido que se dizia ser uma alternativa democrática válida no panorama político nacional falhou redondamente.»

Apontam falhas «na preparação do programa eleitoral nas eleições autárquicas» e acusam também André Ventura de «ignorar a informação que lhe foi preparada quando se deslocou ao Bairro da Jamaica, optando por se focar em soundbites populistas, confirmando uma tremenda impreparação para os temas locais».

Destacam ainda a campanha realizada no concelho, «pela positiva, sem ataques pessoais, limitando-se a debater ideias e quando necessário apontaram o que estava mal e precisava ser mudado» que veio a resultar «num dos melhores resultados do partido a nível nacional».

Também para a direção da Distrital do Chega são dirigidas críticas, apontando «a quase falta de apoios logísticos ou financeiros» durante a campanha eleitoral, bem como de ter «na direção um indivíduo que é completamente impreparado em termos políticos, sociais e culturais, sendo que a única característica que o define e o segura ao lugar o facto de ser extremamente competente na disciplina partidária, ou seja: demonstra uma fidelidade cega, para não dizer absoluta, ao chefe, assim como uma bacoca subserviência que até embaraça».

Para os signatários «a linha do partido ficou clara: apostar cada vez mais em chavões populistas, aproveitar a falta de esclarecimento da população e capitalizar a insatisfação, num chorrilho de chavões e frases feitas, bem ao jeito ‘Goebbliano’, muitas vezes sem qualquer conteúdo, ou o mínimo de contacto com a realidade, e por detrás, um profundo vazio, uma ausência de ideias assustadora, reforçada com propostas de saneamento das vozes discordantes e os típicos jogos de poder pela disputa de lugares nas listas. Mais uma vez, a representação do pior que os partidos têm.»

As críticas continuam, desta feita pelo «’culto ao líder’ (ou de personalidade)» e a presença «completamente despropositada e a toda a hora de inúmeros seguranças, as deslocações em viaturas topo de gama – que teve como ponto alto, a ponderação do presidente André Ventura se começar a deslocar de helicóptero em território nacional».

Votação dos Orçamentos Municipais e pacto com o PS

Conforme a nota, em relação à votação dos orçamentos municipais para 2022, «foram dadas instruções pelo presidente do CHEGA, no sentido de uma votação uniforme a nível nacional nos diversos órgãos autárquicos pelo voto ‘Contra’, sem que esta orientação estivesse respaldada no interesse local das populações, mas apenas em razões de estratégia política nacional, o que não deixa de evidenciar uma tremenda indisponibilidade para equacionar o impacto negativo nas dinâmicas locais».

Relativamente ao Orçamento apresentado no Seixal observam que «não sendo um orçamento óptimo, a verdade é que incorporou várias das propostas previstas no programa eleitoral do CHEGA-Seixal», tendo ainda considerado «o prejuízo que um chumbo orçamental iria provocar nas populações, com especial incidência nas Juntas de Freguesia e na impossibilidade de se contratualizarem os contratos programa, sem falar nas consequências negativas para os trabalhadores das autarquias».

E novas críticas surgem à direção do Chega: «a atitude foi diametralmente diferente relativamente ao membro da Assembleia Municipal de Viana do Castelo, que votando a favor (pasmem-se!) do Orçamento Socialista, viu a sua conduta ‘recompensada’ com a posição de cabeça-de-lista pelo círculo de Viana do Castelo à Assembleia da República nas eleições Legislativas de Janeiro último.

Quem se abstém no Orçamento da CDU, ainda que sendo leal com o eleitorado que o elegeu é ostracizado, por outro lado, quem aprova o Orçamento socialista é elevado aos altares!.»

Os signatários acusam ainda a direção do Chega de «promover a obediência e actuar nas costas dos membros da Assembleia Municipal aqui signatários, pactuando com o PS! Sempre o PS!», referindo também «a pressão interna sofrida (e a ameaça de processos disciplinares) na sequência dos supostos erros de viabilização das mesas de assembleia de freguesia de Amora e Corroios».

Neste ponto, a nota aponta para «o pacto silencioso existente entre o CHEGA e o PS. A dado momento deparámo-nos com o facto de estar a receber indicações de voto, consoante a articulação feita com o PS, através do ‘eixo do mal’ Samuel Cruz (PS) – Bruno Nunes (CHEGA), o que para quem apregoa aos quatros ventos querer combater o sistema representado no seu expoente máximo, António Costa (nas próprias palavras do presidente do Partido), deixa muito a desejar.

Não esquecendo obviamente, os tristes acontecimentos que rodearam as tentativas de negociação de palco e lugares para os eleitos autárquicos do PS – na Junta de Freguesia de Corroios, Amora, na Assembleia Municipal do Seixal ou na Conselho Municipal de Educação –, com o beneplácito e incentivo da direcção do Partido CHEGA e do actual deputado municipal da Assembleia Municipal do Seixal Nuno Capucha.

A um determinado discurso público que o partido CHEGA transmite, não corresponde actuação em conformidade, e este episódio é um expressivo exemplo de condutas contrárias ao que se propala, negociadas no escuro dos gabinetes, que é como quem diz, públicas virtudes, vícios privados, que têm feito do PS, como que a mão por detrás do arbusto no CHEGA. Hipocrisia e cinismo político ao mais alto nível.»


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