“Vivo com feridas, mas não com vergonha”: Sara Norte abre o coração em exclusivo ao Diário do Distrito
Entre a dor da perda da irmã Beatriz, a luta pela saúde mental e a coragem de se expor sem filtros, Sara Norte mostra-se como nunca: uma mulher feita de cicatrizes, mas com força para reerguer-se todos os dias.

Sara Norte: entre a ferida e a força de reerguer-se
De menina prodígio da televisão à comentadora que não tem medo de dizer o que pensa, Sara Norte fala ao Diário do Distrito sobre a perda da irmã Beatriz, os momentos em que desejou desaparecer, a luta pela saúde mental e o amor que hoje a ancora. Aos 40 anos, mostra-se como nunca: uma mulher feita de cicatrizes, mas também de uma vontade inabalável de viver.
O luto que molda
A morte da irmã Beatriz continua a ser a ferida mais profunda da vida de Sara Norte. “Não há dia em que não questione o porquê disto ter acontecido”, confessou, sublinhando a injustiça que sente perante a partida de alguém mais novo, cheio de futuro.
“Aprendes a viver com a ausência, mas não há um dia que passe que não pense na Beatriz e como ela estaria hoje.”
Esta perda transformou a forma como olha o mundo: tornou-a mais fria em certos aspectos, mais céptica em relação ao destino. Em momentos de dor, chegou a duvidar do próprio direito a viver:
“Tive uma vida de altos e baixos, arrisquei muitas vezes a minha saúde… e o cancro levou a minha irmã mais nova, que tinha tudo pela frente. Perguntava muitas vezes porque não me levavam a mim.”
O desespero quase a arrastou, mas Sara não se deixou cair. Foi o marido, Vasco Cruz, quem lhe deu o apoio incondicional de que precisava. “Ele esteve sempre do meu lado e ajudou-me a manter-me à tona, ocupada e útil.”
O peso de falar sob os holofotes
Sara não é apenas actriz: é também comentadora social, presença assídua em programas televisivos onde a opinião é moeda corrente. E se há algo que a caracteriza é a frontalidade.
Recorde-se o episódio em que defendeu Joana Marques em tribunal, acusando os irmãos Anjos de a terem humilhado:
“São pessoas que disseram muitas barbaridades em tribunal.”
Para Sara, dar opinião não é apenas obrigação profissional, é reflexo da sua identidade:
“É impossível estar bem com Deus e com o Diabo. Eu sou uma Mulher com opiniões vincadas.”
Mas a frontalidade paga-se. Quando começou no Passadeira Vermelha, as críticas afectavam-na profundamente. Hoje, a maturidade trouxe-lhe desapego:
“Passar a vida inteira a tentar agradar aos outros deve ser cansativo. Não é o meu objectivo. O meu objectivo é fazer o meu trabalho o melhor que consigo.”
O silêncio interior e a saúde mental
Poucas figuras públicas portuguesas expuseram com tanta transparência a luta com a saúde mental. Sara falou do seu transtorno obsessivo-compulsivo e das fases de autodestruição.
Hoje, porém, vive em busca de serenidade:
“Não acredito em perfeição. Tento não me cobrar como antes. A minha luta é ser melhor pessoa com os que me rodeiam, sem julgamentos nem ódios. Neste momento da minha vida só quero paz.”
O passado não desaparece — “claro que ficam feridas para a vida” — mas já não a define. Sara encara-o de frente, consciente das consequências:
“Não me orgulho de muita coisa, mas não tenho que me envergonhar. Para cada acto há uma consequência e eu sei isso melhor que ninguém.”
A arte como caminho
Apesar de tudo, a arte nunca deixou de ser a sua casa. Do teatro ao cinema, passando pela televisão, Sara quer continuar a representar. Mas tem um sonho guardado: criar um projecto com Vasco Cruz, que tirou realização.
“Gostava de dar voz às pessoas que não têm voz. Conheci histórias de pessoas incríveis que superam a ficção.”
Este desejo mostra uma artista amadurecida, menos centrada em si mesma, mais virada para o colectivo.
Amor, identidade e sentido
O amor de Sara pelo marido é hoje um dos seus pilares mais sólidos. Casaram-se recentemente e não escondem a cumplicidade. Ao mesmo tempo, Sara nunca escondeu a sua identidade bissexual:
“Eu sou como sou e não tenho de o esconder de ninguém. Não penso muito nas coisas, tenho o coração na garganta.”
A simplicidade com que encara a sua sexualidade contrasta com a exposição mediática que tantas vezes procurou rotulá-la.
E afinal, o que a faz levantar-se todos os dias?
“Eu gosto muito de viver. Tenho cada vez mais percebido que não é preciso grande coisa para ser feliz. O que me motiva é a esperança de ainda ser realizada profissionalmente porque no foro pessoal já sou muito feliz. Tenho tudo.”
O legado de uma mulher justa
Com 40 anos, Sara já viveu várias vidas: a de estrela precoce, a de jovem marcada pela prisão e pelo vício, a de filha e irmã que conheceu a dor, a de actriz e comentadora que aprendeu a não se calar.
O que espera deixar ao mundo não é fama ou estatuto, mas uma memória simples:
“Gostava que dissessem que fui uma mulher justa, fiel aos seus princípios e que nunca fiz mal a ninguém.”
E deixa ainda um conselho a quem vive mergulhado na dor ou na depressão:
“Cada luto é um luto. Temos que honrar a memória dos que partiram. Mas às vezes só um psicólogo ou psiquiatra pode mesmo ajudar.”
Sara Norte em perspectiva

Filha dos actores Vítor Norte e Carla Lupi, Sara nasceu em Lisboa em 1985. Desde cedo habituou-se às luzes da ribalta, estreando-se na televisão aos 11 anos na série Campeões & Detectives.
Foi um rosto popular da ficção portuguesa, mas também alvo de polémicas mediáticas que expuseram em praça pública os seus erros, prisões e quedas. Sobreviveu a todas — e voltou a erguer-se.
Recentemente brilhou no espectáculo “Desconfia” de Joana Marques, mostrando um registo versátil e inesperado, longe do estigma e próximo da celebração do humor e da cultura popular.
Hoje, é actriz, comentadora social e figura pública com uma característica rara: não esconde fragilidades. Vive com as feridas, mas não com vergonha.
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