Vespa soror, espécie mais perigosa do que a vespa asiática, chega a Espanha, mas sem registos em Portugal
Espécie invasora chegou à Europa atrelada em contentores de transporte de mercadorias e, apesar de não haverem registos de casos em Portugal, a situação está a ser acompanhada, mas sem motivos para alarme.
Tudo começou como um programa de ecomonitorização para estudar as espécies afetadas pela vespa asiática (vespa velutina), nas Astúrias, e cujas conclusões foram disponibilizadas num estudo, publicado no passado dia 9 de novembro. No entanto, as armadilhas encontraram quatro espécimes de vespa soror, os primeiros detetados na Europa. Estes espécimes, detetados entre março de 2022 e outubro de 2023, em El Campo, nas Astúrias, terão chegado à região atrelados a contentores de transporte de mercadorias.
Apesar da preocupação, o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) confirmou que não foram registados casos em Portugal, até ao momento, mas que os meios de prevenção e controlo da vespa soror encontram-se no Plano de Ação para a Vigilância e Controlo da Vespa velutina. A entidade acrescentou, ainda, que “mantém-se atento ao potencial aparecimento desta espécie em território nacional e está já a alertar as entidades municipais” não só para esta espécie, mas, também, para a Vespa orientalis, “cuja presença está a aumentar no sul de Espanha”.
Do mesmo modo, o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) esclareceu que “quando for detetada no nosso território, as entidades competentes estabelecerão plano de ação nacional que será adequado ao conhecimento o mais atualizado possível que se tiver sobre a espécie“. O INIAV acrescentou, ainda, que como “entidade responsável pela Rede Nacional de vigilância ativa da Vespa velutina“, e pela sua análise em laboratório, tem disponibilizada em todo o território nacional “armadilhas alimentares”, para a captura da vespa asiática, que também tem capacidade para intercetar a vespa soror.
Já João Casaca, secretário-geral da Federação Nacional dos Apicultores de Portugal, admitiu que “não estamos despreocupados, nem preocupados. Estamos a tentar perceber“. Em declarações ao Diário do Distrito, o dirigente acrescentou, ainda, que “se tiver uma expansão semelhante à da vespa velutina [vespa asiática], a chegar a Portugal, só será dentro de 1/2 anos“, pois expandiu-se ao ritmo de 60km por ano. Para além disso, o clima das Astúrias, que é de inverno rigoroso, pode dificultar a propagação da espécie, o que reduz a preocupação.
Os resultados do estudo geraram alguma inquietação sobre “a potencial ameaça da V. soror para a saúde humana e para as dinâmicas do ecossistema“, por se tratar de uma “espécie altamente predatória”, que ingere outros insetos, como abelhas ou borboletas, e até pequenos animais vertebrados, como lagartixas.
O estudo, apoiado pelo Governo Regional das Astúrias e pelo Ministério da Ciência e Inovação espanhol, foi feito pelos investigadores da Universidade de Oviedo Omar Sánchez, Leopoldo Castro, Álvaro Fueyo, Yaisel J. Borrell, e Andrés Arias.
O que é a vespa soror?
As vespas, no geral, são endémicas da Ásia, à exceção da vespa europeia (vespa crabro), presente na Península Ibérica.
Já a vespa soror vem das regiões mais quentes da Ásia, como no nordeste da Índia, sul da China, e sudeste asiático, como Myanmar, Tailândia, Vietnam, e Laos. Esta é uma das maiores vespas, parecida com a vespa gigante asiática (vespa-mandarina), com um “conjunto de cores peculiar”, de acordo com o estudo, que são tricolores (castanho escuro, castanho claro, e amarelo).
A espécie possui uma cabeça “excecionalmente grande, seguida de uma secção larga negra e castanha escura comprimindo grande parte do mesosoma“, parte intermédia do corpo. As vespas soror obreiras medem 35 milímetros e as rainhas 46. As comuns não chegam a 10.
Os primeiros espécimes encontrados fora da Ásia foram em Vancouver, em 2019, mas sem registos em 2023 e 2024.
As consequências para a saúde são a grande intensidade de dor e o veneno, semelhante ao da vespa tropica e da vespa-mandarina. É mais perigosa entre setembro e dezembro, quando aparecem os machos e as rainhas, na época em que “as colónias se tornam grandes e muito defensivas”.
A maioria das colónias encontram-se em áreas florestais acima dos 700m do nível do mar. Os ninhos localizam-se, de forma geral, no subsolo, “geralmente no solo bem drenado de uma encosta, com o buraco de entrada escavado para baixo na superfície do solo em ângulo e geralmente localizado entre raízes de árvores grandes“. No entanto, outros localizam-se mesmo debaixo da terra “com um ou mais túneis que podem ter 60 cm ou mais de comprimento entre o ninho e a entrada”.
Devido ao “baixo número de indivíduos necessários para se estabelecerem em novas áreas“, esta espécie propaga-se rapidamente, bastando poucas rainhas fecundadas e a sua sobrevivência em locais inóspitos, “até à eclosão das primeiras obreiras, como aconteceu na Europa com a Vespa velutina [vespa asiática]”.
Como forma a facilitar a sua identificação e deteção, os investigadores que promoveram o estudo, propuseram a definição de um nome comum em espanhol, e a remoção dos ninhos logo após da deteção, algo que é dificultado se estiverem debaixo do solo.
(atualizado às 17h30, de 22 de novembro, com a resposta do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária)
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