Opinião

Um rio que separa as palavras da ação

João Conde, presidente da Juventude Popular de Setúbal

Todos os anos,  com uma previsibilidade que chega a ser cómica, temos o mesmo teatro sobre o tema dos catamarãs. O PCP e os seus representantes locais, como André Martins, Presidente da Câmara Municipal de Setúbal, surgem na comunicação social a bater no peito para criticar o aumento do preço dos passes para atravessar o Rio Sado de catamarã.

Diz o presidente que vai “exigir que, de uma vez por todas, a Troia seja acessível aos que querem ali fazer turismo, mas em especial aos milhares de pessoas que ali trabalham e necessitam de soluções justas de transporte” e que até acha que pode estar em causa uma inconstitucionalidade.

É inegável que o preço do passe pesa no orçamento de muitas famílias, mas o que tem sido feito, de facto, para resolver o problema? Absolutamente nada além de palavras. Diz-se que há uma palavra muito concreta para definir quem repete o mesmo comportamento incessantemente à espera de resultados diferentes. Porém, não querendo acreditar que o adjetivo se adeque, a alternativa também não é muito melhor. É óbvio que o Presidente sabe que o que está a fazer não resulta, o que nos leva legitimamente a considerar que esta repetição acaba por ser uma desculpa conveniente para não fazer nada a nível local.

Se o executivo da Câmara Municipal de Setúbal realmente acredita que há pessoas com sérias dificuldades em pagar o passe, poderia tomar medidas práticas. É que se é certo que o município não tem controlo nos preços dos passes, também é certo que pode mitigar os seus efeitos fazendo uso da sua responsabilidade na ação social. Se o Presidente está tão preocupado porque é que nunca se comprometeu a usar o orçamento municipal para aliviar o fardo das famílias?

Uma ideia simples: comparticipar parte do valor do passe para quem mais precisa (obviamente mediante critérios). Parece irrealista? Se calhar não é. Mas dá mais trabalho e requer pensar, do que ficar só à espera “que chova”.

Em 2024, no portal BASE, consta que o município alocou cerca de 140 mil euros para publicidade e propaganda. Este dinheiro, que é gasto grande parte em campanhas de autoelogio, poderia ter um impacto real na vida dos munícipes. Com este valor, por exemplo, se comparticipassem 60% do passe mensal, daria para apoiar mais de 2000 pessoas que dependem do catamarã para trabalhar, estudar ou cuidar das suas famílias. Resolveria tudo? Não. Ajudavam concretamente alguém? Definitivamente.

O PCP e André Martins preferem culpar o Governo Central por tudo, enquanto fazem de conta que não têm ferramentas ao seu alcance. Este tipo de postura não é apenas ineficaz, é hipócrita. Falta coragem política para tomar decisões que impactam positivamente a vida das pessoas. Isso exige menos discursos e mais ação. Exige priorizar o bem-estar da população em vez de investir em campanhas de propaganda.

A política não pode ser um exercício de retórica estéril feito à custa das dificuldades da população.

João Conde, presidente da Juventude Popular de Setúbal


Se tiver sugestões ou notícias para partilhar com o Diário do Distrito, pode enviá-las para o endereço de email geral@diariodistrito.pt


Sabia que o Diário do Distrito também já está no Telegram? Subscreva o canal.
Já viu os nossos novos vídeos/reportagens em parceria com a CNN no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Siga-nos na nossa página no Facebook! Veja os diretos que realizamos no seu distrito