Transtejo volta a falhar: cortes nos barcos até 17 de outubro deixam milhares de utentes à deriva

A Transtejo voltou a divulgar que vai prolongar o atual regime de horários em vigor até ao dia 17 de outubro, face à persistência de constrangimentos operacionais. De acordo com o Almada Online, esta medida já se estende por quase dois anos e meio com impactos na mobilidade fluvial entre Almada e Lisboa.

Menos ligações, menos oferta

Desde maio de 2023, a ligação fluvial entre Cacilhas e Cais do Sodré sofre uma redução média de cerca de 30 % na oferta habitual. Em termos práticos, isso significa menos embarcações e horários mais espaçados nos dias úteis, obrigando muitos utentes a buscarem rotas alternativas — com consequências nos tempos de deslocação e nos custos para quem depende deste serviço.

Apesar de várias promessas de normalização, a oferta regulada não foi restabelecida. A Transtejo justifica a extensão desta situação com “constrangimentos operacionais” contínuos — uma justificação que, segundo reportes internos à empresa, inclui dificuldades técnicas nos novos navios elétricos, falhas no carregamento de baterias e atrasos no software embarcado.

Renovação da frota: promessa por cumprir

O plano original da Transtejo previa que a nova frota elétrica estivesse plenamente operacional ainda em 2024. Contudo, segundo documentos internos e declarações recentes, o cronograma falhou: apenas três navios estão já integrados em serviço definitivo, enquanto o restante permanece em fase de testes. O processo de certificação de cada embarcação pode levar meses, especialmente diante das avarias já registadas.

Em determinadas reuniões com a Comissão de Utentes de Transportes da Margem Sul, foi revelado que um dos navios sofreu um incidente em janeiro, o que fez com que ficasse “avariado”. Outras preocupações incluem a fragilidade do contrato de manutenção com fornecedor externo e um passivo financeiro elevado herdado pela empresa, restrições que impactam diretamente a capacidade de investir em reparações, pessoal técnico e manutenção da frota antiga.

Supressões acumuladas e impacto aos utentes

De acordo com dados da Comissão de Utentes de Transportes da Margem Sul, foram canceladas cerca de 12 mil ligações fluviais entre Lisboa e a Margem Sul até final de setembro — um número que já supera com folga os volumes registados durante o pico da pandemia. Embora o volume de supressões tivesse crescido desde 2020, o atual patamar aponta para um agravamento da situação.

Para os moradores de Almada, esta degradação contínua do serviço fluvial implica uma menor fiabilidade no transporte público, forte incentivo ao transporte individual motorizado e um desalento nas metas de sustentabilidade e descarbonização para a região.

Sem prazo certo para solução

Embora a Transtejo afirme estar comprometida com a evolução do contrato de serviço público — cuja revisão está prevista para fevereiro de 2026 —, ainda não existe calendário claro para reverter os cortes ou retomar uma operação plena. A empresa não respondeu até ao momento às solicitações feitas por Almada Online para esclarecimentos mais detalhados sobre a estratégia e o calendário de restabelecimento dos horários.

Enquanto isso, os utentes continuam reféns de uma mobilidade fluvial fragilizada, aguardando pela promessa de que os navios elétricos possam, finalmente, cumprir o papel para o qual foram adquiridos.

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