Numa sala rodeada de livros e de cartazes, sob o olhar atento dos nomes dos grandes cineastas que decoram as paredes, a Casa das Imagens Lauro António, em Setúbal, inaugurou este sábado, dia 28, a exposição intitulada “Cartazes do Cinema Português – Take 1: Judite Cília“.
Trata-se da exposição de réplicas de 18 dos 24 cartazes da designer portuguesa, que incluem filmes como “Manhã Submersa”, de Lauro António, “O Bobo”, de José Álvaro Morais, entre muitos outros. Dos cartazes que apenas estão expostos num pequeno vídeo explicativo, encontram-se “Os Abismos da Meia-Noite”, de António de Macedo, e “O Querido Lilás”, de Artur Semedo.
A inauguração começou no andar de baixo, na Sala dos Audiovisuais, com uma exposição sobre a vida e obra de Judite Cília, uma “pessoa muito de bastidores“, devido ao facto desta ser a primeira exposição individual com cartazes desenhados por si, razão pela qual a Casa das Imagens considerou ser do interesse do público o “reconhecimento do seu trabalho“. Para além disso, foi uma das primeiras mulheres portuguesas a assinar com o seu nome os cartazes que fazia.
Foi recordada a sua vida, passada, até ao 25 de abril, em Paris, com o seu marido, o cantor de intervenção Luís Cília, onde começou a trabalhar nas agências de publicidade Publicis e Impact, tendo regressado a Portugal após a Revolução dos Cravos. Já em 1975, é convidada por Eduardo Prado Coelho, para desenhar um cartaz para divulgar o cinema português. Desse convite, resultou o célebre cartaz “Veja Cinema Português“, razão pela qual viria a integrar a equipa do Instituto Português de Cinema, em 1977. Entre 1982 e 1998, de acordo com o folheto informativo distribuído aos presentes, “foi responsável pela conceção, decoração e direção de montagem nos stands de cinema português nos Festivais de Cinema de Cannes“.
Após a exposição da sua vida e obra, a inauguração seguiu para o andar de cima, onde, pelo meio, se podem ver fotografias de Lauro António com ilustres nomes do cinema, como Ruy de Carvalho, Lia Gama, Robert de Niro, entre outros. É no andar de cima, dividida entre duas salas, que podemos vislumbrar a obra da designer portuguesa, encontrando-se cartazes de filmes como “Manhã Submersa”, de Lauro António – cujo cartaz foi aceite “logo à primeira”, de acordo com as responsáveis pela exposição -, “O Bobo”, de José Álvaro Morais – “um dos filmes que mais adorou” -, “Gente da Praia da Vieira”, de António Campos, “Adeus Princesa”, de Jorge Paixão da Costa, entre muitos outros. Por baixo do cartaz de “Manhã Submersa”, podemos ver uma fotografia cartonada do mesmo filme, que era colocada nas salas de cinema, na época.
Numa outra sala, mais pequena, podemos ver, também, as capas dos livros desenhadas por Judite Cília, onde se destaca a “bíblia do cinema português” intitulada “O Cais do Olhar: O cinema português de longa metragem e a ficção muda“. de 2000.
Ao longo da exposição, foi recordado o seu processo criativo, que consistia, por vezes, na utilização de frames dos filmes nos cartazes, juntamente com o diálogo com os realizadores, e a utilização recorrente, sobretudo a partir do final da década de 1970, do Times New Roman. O estilo Bauhaus também era recorrente, com o uso de linhas retas, padrões e cores primárias.
A exposição, aberta ao público até 8 de fevereiro de 2025, recorda um dos grandes nomes do design de cartazes do cinema nacional, ao lado de nomes como Almada Negreiros, João Botelho, Raul de Caldevilla, entre outros. Judite Cília, nascida em 1946, foi uma das responsáveis, ao longo da sua carreira no Instituto Português de Cinema, pela conceptualização de cartazes para os mais variados filmes, hoje recordados na Casa das Imagens Lauro António.
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A obra de Judite Cilia pode ser consultada aqui
http://juditecilia.com/