“Se o Governo considera que Sines é estratégico para o país, então tem de investir nas pessoas que aqui vivem”
Entrevista exclusiva a Álvaro Beijinha. Pela primeira vez desde 2005, a CDU voltou a vencer a Câmara de Sines. Dias antes de tomar posse, o presidente eleito concedeu uma entrevista exclusiva ao Diário do Distrito. Entrevista completa nas bancas a partir de 4 de novembro.

Desde 2005 que a Coligação Democrática Unitária (PCP e PEV) não ganhava as eleições em Sines, contrariando até a perda de representação noutros pontos do Distrito de Setúbal.
O que acha que contribuiu para esta reconquista histórica, passando de um terceiro para um primeiro lugar, quase triplicando os votos?
Um dos motivos tem que ver com o desgaste da governação do Partido Socialista, era uma questão que estava muito evidente. Principalmente quando começamos a campanha, começamos a conversar com as pessoas na rua, e nas reuniões que também fomos tendo, naturalmente que sentimos que havia um grande descontentamento na população.
O segundo motivo é, havendo um descontentamento, naturalmente que as pessoas queriam uma mudança. Tivemos uma votação expressiva, a CDU passou de cerca de 800 votos, há quatro anos, para praticamente 3000. Sobretudo é o reconhecimento do trabalho que a CDU fez em Santiago, por contraponto àquilo que era o descontentamento da população na cidade de Sines, em particular com o espaço público, que as pessoas consideram estar abandonado.
Aqui em Sines existem muitos problemas no espaço público ao contrário daquilo que se encontra nas cidades de Santiago do Cacém e Vila Nova de Santo André onde, de uma forma generalizada, as coisas estão bem tratadas, bem apresentadas. Eu acho que isso contribuiu muito.
Depois há um terceiro fator que foi a campanha que fizemos, muito pela positiva, com muita energia, com muita força, em que as pessoas começaram a acreditar que efetivamente era possível ganhar. Se nós olharmos para o resultado das eleições há quatro anos atrás, o Partido Socialista teve mais de 3000 votos e agora passou para 1200.
O movimento independente, que tinha tido 1500 votos só conseguiu ter agora 1700, sendo que houve mais cerca de 1300 pessoas a votar do que há quatro anos. Ou seja, nós fomos esses 1300 novos votantes, não tenho dúvida nenhuma, na sua esmagadora maioria foi votar na CDU porque quis uma mudança e acreditou no trabalho da CDU.
Prevê-se um grande crescimento populacional e económico do concelho de Sines que não tem sido acompanhado por investimento público.
Quais são os desafios que vão enfrentar nos próximos anos em Sines e como pretendem dar resposta?
Há um segundo tema, mas que é para ser tratado em todo o país, que é o problema da habitação, sendo que em Sines o problema sente-se de uma forma mais acentuada, exatamente porque é aqui que estão a acontecer os maiores investimentos privados que o país tem. Por exemplo, a Repsol está a construir uma nova fábrica que pode chegar até aos 2000 trabalhadores.
São vários os projetos que estão em cima da mesa, o projeto das baterias elétricas, o projeto da Galp, que também vai avançar com uma nova fábrica, o alargamento do Porto de Sines, as obras que estão a acontecer na autoestrada. Somando a isto o facto de ser um concelho do litoral, que depois também tem uma grande pressão do setor do turismo.
Este é um problema que obriga a Câmara Municipal a procurar soluções, mesmo não tendo nenhuma responsabilidade direta – a habitação é um problema do Governo Central.
Tudo isto faz com que o problema da habitação se agrave, as casas estão a preços absolutamente insuportáveis, seja na compra, seja no arrendamento, não há praticamente arrendamento disponível. Este é um problema que obriga a Câmara Municipal a procurar soluções, mesmo não tendo nenhuma responsabilidade direta – a habitação é um problema do Governo Central. E por isso nós temos um plano de promoção da habitação pública, seja no mercado de arrendamento, seja no mercado de venda, nomeadamente através de cooperativas de habitação, de construção a custos controlados e depois também na questão da renda acessível.
Está previsto um alargamento de um conjunto de projetos, em particular dos Data Centers, que são equipamentos com grandes consumos de energia e água.
Como pode a Câmara de Sines mitigar os efeitos do impacto ambiental dos projetos industriais que estão previstos para a região mantendo todos os postos de trabalho?
Naturalmente que todos estes projetos, como disse, exigem muita energia, muita água, até mesmo a produção de energia renovável, e isso são questões de ordenamento do território que têm que ser muito bem pensadas: onde é que vão colocar os painéis solares, onde é que se vão colocar as torres eólicas? Também está em cima da mesa as eólicas serem colocadas no mar. Todas estas situações podem vir a ter impacto, nomeadamente as eólicas no mar, em setores como a pesca, que é uma atividade importante para sineenses.
Se o governo considera que Sines é efetivamente o local com maior aptidão para promover um conjunto de investimentos na área da transição energética quem governa o país tem que alocar recursos públicos para as populações que aqui vivem e para as que se querem fixar em Sines no futuro.
Nós temos que salvaguardar a qualidade de vida das pessoas. É certo que estes projetos, se cumprirem um conjunto de pressupostos, são bem-vindos, porque criam oportunidades de emprego, criam riqueza para o concelho, mas dissemos durante a campanha eleitoral: é o governo tem que olhar para a importância que Sines tem.
Se o governo considera que Sines é efetivamente o local com maior aptidão para promover um conjunto de investimentos na área da transição energética, se é aqui que está o maior porto do país, se é aqui que se prevê o alargamento do Terminal de Contentores, quem governa o país tem que alocar recursos públicos para as populações que aqui vivem e para as que se querem fixar em Sines no futuro.
Neste momento, em Sines, as vagas na escola pública estão praticamente esgotadas, não há vagas. Temos de pensar Sines num horizonte de médio prazo e longo prazo, tem que se dar já passos imediatos para que, quando o problema do aumento populacional se vier a colocar de uma forma mais acentuada, depois não dizerem que não há escola, não há centros de saúde com mais médicos, depois não há mais efetivo da guarda, não há mais viaturas para a guarda fazer o seu trabalho.
Aquilo que está em cima da mesa é que, num horizonte de 10 a 15 anos, a população de Sines pode crescer na ordem dos 50 por cento, ou até mais, quase o dobro, isto implica que haja um conjunto de investimento público que reforce aquilo que é a resposta das várias áreas: da saúde, da educação, da segurança, na habitação, que eu já falava.
Porque a Câmara Municipal não tem recursos financeiros para resolver estes problemas e nem tem competência legal para os mesmos. A competência legal da saúde não é da Câmara Municipal, a competência legal na área da segurança não é da Câmara Municipal, na escola é em parte, mas na contratação de professores, não tem.
Neste momento, em Sines, as vagas na escola pública estão praticamente esgotadas, não há vagas. Temos de pensar Sines num horizonte de médio prazo e longo prazo, tem que se dar já passos imediatos para que, quando o problema do aumento populacional se vier a colocar de uma forma mais acentuada, depois não dizerem que não há escola, não há centros de saúde com mais médicos, depois não há mais efetivo da guarda, não há mais viaturas para a guarda fazer o seu trabalho.
Eu anunciei na noite das eleições, quando percebemos que éramos vitoriosos, que a primeira medida era fazer um convite ao senhor Primeiro-Ministro para visitar Sines e consciencializa-lo desta problemática toda, defender à frente do primeiro-ministro uma alocação de recursos extraordinária, já que Sines tem esta atenção especial.
Como deve imaginar estas empresas, nomeadamente em termos de impostos, trazem muito ao país, mas esses impostos não ficam em Sines, a fatia de leão dos impostos que estas empresas geram vai para o Governo Central, para o Ministério das Finanças. Tem que haver aqui uma alocação de recursos públicos por parte da administração central, naturalmente juntando-se recursos públicos municipais, para dar uma resposta às populações locais.
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