Opinião

Que se lixe o Ronaldo, estamos em austeridade

Olá caríssimos(as) leitores(as) após um período onde estive afastado da escrita de artigos de opinião por motivos profissionais, eis-me agora de volta.

Não é meu hábito escrever sobre futebol nem sequer posso ser considerado um entendido na matéria, muito pelo contrário. Quando muito poderei ser um diletante treinador de bancada.

Alguns e algumas que seguem a minha escrita neste jornal perguntar-se-ão o porquê de eu também decidir escrever sobre este tema e o título ser logo este.

E aí eu tenho uma resposta simples. Devemos deixar o acessório e concentrarmos-mos naquilo que realmente interessa à nossa vida quotidiana e à nação.

Que interessa ao comum dos portugueses que o Ronaldo só jogue só a 2 minutos já nos descontos? Ou que o treinador esteja a “humilhar” o Ronaldo?

Mas vamos lá a dissecar essa parte. O Ronaldo quando se transferiu para o Manchester United esperava poder jogar na Champions League. Ora o Man United não se qualificou. Vai dai o Ronaldo decide fazer uma birra não comparecendo no estágio de pré-época da equipa. Logo ficando desta forma fora das primeiras opções do treinador. Ainda por cima quando o mesmo aparece nas revistas cor-de-rosa a desfrutar tempo com família e amigos. E só se apresentar aos treinos 22 dias depois.

Tudo isto seria mais um fait divers já muito habitual no mundo do futebol. Nada de muito por aí além. O problema na minha opinião são OS PATRIOTEIROS por oposição aos PATRIOTAS. O patrioteiro é aquele indivíduo que usa como justificativa o facto de um determinado personagem por ser português deve ser defendido a todo o custo. É uma postura que não poderia estar mais errada.

E a justificativa é que Cristiano Ronaldo deu ao país muitas alegrias. Ora Cristiano Ronaldo tem uma carreira como futebolista invejável. Mas é sobretudo a nível pessoal. Nem sequer é a nível da selecção nacional. Onde o último campeonato europeu de selecções nacionais Portugal sagrou-se campeão graças a um golo do jogador Eder. Estranhamente “desaparecido” das convocatórias e da ribalta do mundo do futebol.

O que por vezes irrita uma pessoa com um pensamento minimamente objectivo e escorreito. É as pessoas fazerem uma defesa de Ronaldo contra tudo e todos inclusive contra a lei e o senso comum.

E viu-se o caso da casa do Gerês, e o caso da marquise do Marquês de Pombal.

Em ambos os casos houveram violações claras da lei. E logo de seguida muita gente veio logo para as redes sociais com a alegação de que todos os que exigiam a reposição da legalidade apenas agiam motivados por inveja. Um comportamento que só é usual em países do terceiro mundo.

E tudo isto é complementado por um aparecer nas redes sociais em particular no Facebook de apoio ao CR7.

E agora pergunto eu em que é que este encarniçamento desmesurado de defesa do Ronaldo beneficia os portugueses comuns?

Por acaso resolve os problemas de falta de pessoal das urgências de obstetrícia e das maternidades? Resolve a falta de transportes públicos nomeadamente na região da grande Lisboa com a Carris Metropolitana a ser um fiasco. Nomeadamente com a empresa Alsa-Todí de Setúbal não ter sequer pessoal suficiente para assegurar o serviço regular de passageiros. E até vai a Cabo Verde fazer o recrutamento por falta de mão-de-obra.

Ou mais grave ainda, Portugal vai enfrentar uma nova crise motivada por factores externos e internos de ordem económica.

Como factores externos temos a guerra na Ucrânia. Que poderia não ter consequências de maior não fossem dois factores, a energia e os cereais.

Tanto a Ucrânia como a Rússia são exportadores de cereais, oleaginosas e fertilizantes a preços bastante competitivos.

A Rússia é também exportador de gás crude. Ora estas duas fontes de energia são fundamentais para a economia europeia. Isto porque a produção eléctrica a partir de fontes renováveis não é constante. Nem sempre há vento para manter os aerogeradores em movimento e nem sempre há sol.

A Alemanha o motor económico da Europa fechou as suas centrais nucleares tendo passado quase exclusivamente para a dependência do gás russo.

O problema é que para fazer a Rússia parar a guerra na Ucrânia, o mundo ocidental recorreu à sanções económicas contra o regime de Putin. Através do embargo às importações de gás e crude, procurando desta forma travar os fluxos financeiros para regime russo alimentar a guerra.

Portugal neste cenário e apesar de grande parte do seu gás vir da Argélia e da Nigéria, também sofre as consequências. E porquê? Em primeiro lugar porque o gás que cá chega vem liquefeito transportado por navios. Logo sujeito aos preços dos fretes marítimos e à disponibilidade de navios apropriados ao transporte deste tipo de mercadoria.

Se juntarmos a seca que Portugal vive que fez parar a produção de eletricidade nas barragens hidroelétricas. E o fecho apressado das centrais de carvão do Pêgo (Abrantes) e de Sines. Criamos a tempestade perfeita. E no caso destas duas centrais poderíamos ter feito com fundos comunitários a reconversão para queimarem biomassa que é altamente abundante nos eucaliptais deste país. Pois a limpeza das florestas para além de prevenir incêndios descontrolados. Também poderia ser também uma fonte de rendimento para os proprietários das parcelas florestais. Transformando aquilo que é um custo numa fonte acessória de rendimento.

Ora Portugal está na dependência das importações a nível de energia e das flutuações de mercado dos preços de combustíveis. O que afecta toda a vida pois a agricultura e os transportes dependem do diesel. Diesel esse que Portugal que tinha capacidade plena instalada decidiu mandar fechar a refinaria de Leça da Palmeira (Matosinhos).

Colocando-se desta forma ainda mais na dependência de países terceiros.

Porque se há um preço para o crude (petróleo em bruto) também há cotações para os produtos petrolíferos refinados. Que podem ter oscilações de preço diferentes das do crude.

O resultado é óbvio subida os preços dos bens alimentares; aumento de custos de produção na indústria. Maior custo nas deslocações de casa para o trabalho.

Sendo que neste momento a inflação está a bater 10,2%.

Em resposta a tudo isto o BCE (banco central europeu) vindo um bocado tarde a reboque da FED (reserva federal dos EUA/banco central) decidiu subir as taxas de juro. O que para quem tem crédito à habitação vai ser uma dor de cabeça. Com famílias já a partir de Fevereiro a terem que entrar na lista de clientes de risco da banca ou em alternativa entregar a casa ao banco. Sim porque o mercado de arrendamento não é alternativa. Basta ver as notícias de pessoas idosas a serem despejadas por não conseguirem pagar o aumento da renda.

Por exemplo na freguesia de Corroios tenho conhecimento de pessoas a pagarem pelo arrendamento de um simples quarto 400 euros. Ora 400 euros é mais do que o valor que eu pago de mensalidade ao banco de um T2 na mesma área.

Nisto lá vem o governo de António Costa com os seus truques de ilusionismo e malabarismo. O primeiro foi dar o valor de meia pensão este ano aos reformados. Mas vai-lhes sonegar de forma permanente o valor de aumento que teriam direito na lei a partir do próximo ano.

Promete reduzir a dedução à colecta em sede de IRS. Mas omite que os reembolsos poderão ser mais baixos. Ou seja que o já esfolado contribuinte até poderá que pagar no próximo ano.

Todos os que têm um empréstimo à habitação com taxa variável (a grande maioria) vão a partir deste mês ver a prestação a subir. E há empréstimos cujo aumento poderá subir mais que 400 euros.

Ora das duas uma ou as pessoas passam só a comer sopa ao almoço e jantar ou podem começar a pensar entregar a casa ao banco.

Alguns os bancos até vão aceitar alguma forma de renegociação quer por via do spread quer pelo aumento do número de anos do contrato do crédito. Acontece é que a longo prazo esta solução poderá ficar mais caro uma vez que quanto mais prazo mais juros a pagar.

Como se isto não bastasse, vejo as pessoas reagirem à sucessão de escândalos à volta deste governo os contratos a familiares. E as incompatibilidades daí recorrentes.

A juntar a isto a inflação ajuda o governo a arrecadar mais receita fiscal por via do IVA.

Portanto caros leitores(as) por muito que vos custe, eu e cada vez mais portugueses não estamos interessados na carreira do Cristiano Ronaldo.

Ninguém que tenha que enfrentar estes problemas tem pachorra para discutir se o Ronaldo joga ou não os 90 minutos. Jogue muito ou pouco. Esteja no banco ou marque golos o ordenado dele é o mesmo. Ele não está em risco de ficar sem tecto. Até pode dar-se ao luxo de pagar 22 mil euros de inscrição para o colégio dos filhos. Ele tem os meios financeiros para tal decorrentes da carreira que construiu e do salário que aufere. Fora outros rendimentos.

Deixemos portanto o assessório e concentremo-nos no essencial. O Cristiano Ronaldo não vai resolver os vossos e os meus problemas. Preocupem-se com o que aí vem e deixem o Ronaldo colher os frutos do que plantou. Não esperem grandes feitos neste mundial para encher o vosso patrioteirismo balofo e vazio. Era bem melhor que estivéssemos a convergir com e Europa em termos de economia e exportações.

Posto isto resta dizer: Que se lixe o Ronaldo estamos em austeridade. Mesmo que o governo não queira admitir o óbvio e ande a fazer ilusionismo barato.

NOTA: artigo escrito segundo a grafia pré-acordo ortográfico.  


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