Quanto Custa a Água Barata? O Caso do Seixal

O abastecimento de água no Seixal tem sido alvo de críticas recorrentes devido à elevada quantidade de ruturas na rede, aos níveis preocupantes de água não faturada e às deficiências na qualidade do serviço prestado. Apesar de o preço da água ser relativamente acessível para os munícipes (segundo dados da ERSAR, não cobrindo os custos de fornecimento e manutenção de infraestruturas), os custos ocultos resultantes da ineficiência do sistema são elevados, tanto para os cofres municipais como para os consumidores finais.

O Problema das Ruturas e a Água Perdida

De acordo com os dados mais recentes, o Seixal registou 166 dias com falhas de abastecimento no ano de 2022. Essas ocorrências resultam sobretudo das constantes ruturas na rede, potenciando a perda de milhares de metros cúbicos de água antes de chegarem aos consumidores. As ruturas frequentes não só desperdiçam um recurso essencial, mas também geram custos adicionais para reparações e manutenção, encarecendo indiretamente o serviço para todos.

Água Não Faturada: Um Prejuízo Invisível

A taxa de água não faturada no Seixal atingiu 33,4% do volume total distribuído em 2023.

Este valor inclui tanto perdas físicas, resultantes de ruturas e fugas na rede, como perdas comerciais, decorrentes de erros de medição e faturação incorreta. O impacto financeiro é significativo, sendo compensado indevidamente com fundos do orçamento municipal. Esta situação compromete outros investimentos essenciais e contribui para a degradação progressiva do serviço de abastecimento de água, devido à redução sucessiva dos investimentos necessários para modernizar e melhorar a rede.

Impacto nos Equipamentos Domésticos

Os munícipes também enfrentam prejuízos diretos. As ruturas e variações na pressão da água resultam na entrada de sedimentos e detritos na canalização, danificando eletrodomésticos como máquinas de lavar e esquentadores. Em 2023, foram registadas 187 reclamações de consumidores relatando problemas com equipamentos danificados devido à má qualidade da água. O custo de reparação ou substituição destes aparelhos é um peso adicional para as famílias, que muitas vezes desconhecem a origem do problema.

Qualidade do Serviço e Reclamações

A qualidade da água no Seixal tem sido um ponto de discórdia. Apesar de os relatórios indicarem que 99,93% da água fornecida cumpre os padrões de segurança, os munícipes continuam a relatar episódios frequentes de água turva e com cheiro ou sabor alterado, muito provavelmente não pela qualidade da água fornecida, mas pela sua contaminação por via das constantes ruturas, sendo a água que chega às torneiras muito diferente da que sai dos reservatórios. Esse cenário agrava a insatisfação da população, especialmente pela ausência de respostas eficientes por parte dos serviços municipais.

Faturação e Transparência

A faturação tem sido um dos temas mais polémicos. Em 2023, registaram-se 312 queixas formais sobre cobranças excessivas, não existindo ainda dados relativos ao problema recente com a tentativa por parte da autarquia em cobrar valores para lá da obrigação legal, estes problemas decorrentes da inconsistência na leitura dos consumos. Muitos consumidores relataram dificuldades em contestar os valores cobrados e a falta de transparência no processo. Esse problema mina a confiança na gestão do sistema de abastecimento e gera um clima de insatisfação generalizada entre os munícipes.

Conclusão

Embora a água no Seixal tenha uma tarifa acessível, os custos ocultos que recaem sobre os munícipes tornam essa perceção enganosa. O desperdício, os prejuízos materiais e a insatisfação com o serviço exigem uma intervenção urgente. Sem uma reestruturação profunda na gestão do abastecimento, a população continuará a pagar caro por uma água que aparenta ser barata. É essencial implementar um modelo acessível, sustentável e, acima de tudo, confiável. A água pode ser barata, mas a desconfiança sai cara e reflete-se na compra de água engarrafada e na resignação a um serviço deficiente. A confiança também tem um preço, mas é um investimento indispensável.

*Os dados apresentados foram extraídos do “RELATÓRIO ANUAL DOS SERVIÇOS DE ÁGUAS E RESÍDUOS EM PORTUGAL 2023 e VOLUME 2 de 2024”.

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