Nas cadeias portuguesas, há um fenómeno silencioso que preocupa as autoridades: a produção e o consumo de bebidas alcoólicas dentro dos estabelecimentos prisionais. Na prisão de Setúbal, dois reclusos foram apanhados embriagados, um deles com uma taxa de 1,89 g/l de álcool no sangue.
Os guardas prisionais afirmam que este tipo de situação é recorrente e tem-se tornado cada vez mais difícil de controlar devido à falta de efetivos. A escassez de vigilantes permite que os detidos fabriquem a chamada “chicha”, uma bebida artesanal fermentada a partir de frutas, açúcar e arroz. O produto é preparado em baldes de limpeza e destilado com tubos retirados das canalizações dos chuveiros.
O negócio da “chicha” dentro das prisões é uma moeda de troca valiosa. Garrafas de 33 cl são permutadas por tabaco, comida, telemóveis e até drogas. Segundo os guardas, o consumo desta bebida não regulada já causou problemas de saúde, incluindo dores intestinais e mal-estar generalizado entre os reclusos.
A situação é agravada pelo facto de a prisão de Setúbal ser composta maioritariamente por camaratas, dificultando a atribuição de responsabilidades individuais. Com grupos de 12 a 20 presos a partilhar os mesmos espaços, identificar os culpados torna-se um desafio para os guardas. “Sabemos que há reclusos que acumulam grandes quantidades de açúcar, já sabemos para que serve, mas a fiscalização é complexa”, revelou uma fonte prisional.
O presidente da Associação Nacional de Chefias do Corpo da Guarda Prisional, Hermínio Clemente, admite que o problema da produção de álcool dentro das prisões é um desafio nacional e que não terá solução a curto prazo. “Com o número reduzido de guardas, fica impossível vigiar todos os espaços e evitar este tipo de situações”, afirmou.
Atualmente, a prisão de Setúbal conta com cerca de 180 reclusos e menos de 50 guardas distribuídos pelos diferentes turnos e funções. A falta de recursos humanos coloca em risco a segurança no estabelecimento e compromete o controlo das atividades ilegais que lá acontecem.
Sempre que um alambique artesanal é descoberto, a “chicha” é confiscada e destruída. Caso sejam identificados responsáveis, estes são alvo de processos disciplinares internos, mas sem aumento das penas de prisão. No entanto, a recorrência destes episódios sugere que o problema está longe de estar resolvido.
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