Padre José Raposo de Palmela reflete sobre a sua vocação, desafios e o futuro da Igreja
Um padre que sai de coração cheio de saudade de Palmela.
Numa entrevista profunda e emotiva, o Padre José Raposo, pároco de Palmela, partilhou a sua trajetória de vida, desafios e a visão para o futuro da Igreja. Natural de Beja, o padre abriu o seu coração sobre como a fé moldou a sua infância e levou à sua vocação, além de falar sobre as complexidades da sua missão em Palmela e a sua visão sobre questões atuais da Igreja, como os escândalos de abuso sexual, o papel dos padres e o celibato.
Apresentamos a entrevista ao Padre José Raposo:
Quem é o Padre José Raposo?
Bem, falarmos de nós é sempre um bocadinho difícil, mas considero-me uma pessoa com um percurso de Igreja — dentro dos meus limites e também das minhas capacidades —, considero-me, em primeiro lugar, um pecador que, como diz o Papa Francisco, “por ele, se arrepende e pede perdão” e, por isso, considero-me uma pessoa que, na Igreja, vive assim, vive dos momentos bons, dos menos bons e, aqueles menos bons e que sinto que há alguma dificuldade e as coisas não correm tão bem. Sinto-me alguém que consegue pedir perdão, e é assim que eu me sinto. Portanto “quem sou eu?” Sou alguém que entrou na Igreja por caminhos — cada um tem os seus — interessantes, sempre estive ligado à Igreja, como na Catequese, depois, como catequista. Depois, fiz o curso de professores de primeiro ciclo de ensino básico, também, como a minha mãe. Portanto, tendo bem presente a perspetiva da Igreja e querendo ser Cristão ativamente, pró-ativo.
Depois, as condições da vida foram moldando desta forma, inclinando cada vez mais para as coisas… para entrar ainda mais na Igreja e dos seus caminhos, e pronto, aparece depois Setúbal como caminho de ligação fortíssima pela Casa do Gaiato — uma obra, como sabemos, do Padre Américo, que acolhe crianças e jovens em risco. Depois, posteriormente, senti ainda mais aí a minha vocação. É mais um dos caminhos, e um caminho fortíssimo de vocação, de facto, na vida tive vários e este foi um deles, de amadurecimento da fé, de compreensão, em especial, do próximo, e isso numa linha muito direta, muito centrada no Evangelho. Depois surgiu a questão do Seminário de Setúbal, estive ainda antes de entrar no Seminário de Setúbal no Santuário do Cristo Rei, e depois estive um tempo no Seminário, e considero-me ser a mesma pessoa, no sentido de despojado, humilde, é assim que eu me caracterizo ou, se me permitem caracterizar de alguma maneira, é uma pessoa simples, que vive para o povo, que quer viver com o povo, quer viver a vida pastoral, e que digo exatamente — quem quiser, pode ir ver — as palavras que disse antes de ser ordenado Padre, são as mesma que estarei a dizer agora.
O Padre é natural de?
Beja.
Como foi a sua infância? E já vi que teve uma infância ligada à Igreja. Como foi a sua infância num meio pequeno, no interior do país?
Foi uma vida muito tranquila, de uma criança e de um jovem apaixonado por Cristo, cuja paixão se revelava, de alguma maneira, naquilo que eu não sabia, mas que já se projetava no coração de Deus. Por isso, levava-me a dizer, quando era pequenino, que queria se catequista, tal era a dimensão das coisas. O que quero dizer é que queria se catequista, porque já sentia, nos padres que tive sempre, nos meus párocos lá no Alentejo, sempre pessoas abertas, disponíveis, de diálogo, de confronto, e de pessoas humildes, acima de tudo. Isso levou-me a sentir que a Igreja era isso, e a perceber que a Igreja é isso em Jesus Cristo, não é outra coisa. Uma Igreja, de facto, que não está alicerçada nas virtudes teologias — fé, esperança e caridade —, não é uma Igreja, é uma instituição, como diz o nosso querido Papa Francisco, “muitas vezes centrada quase como ONG e não como uma Igreja”. Uma Igreja tem de ter este tripé, tem de ter estes pilares, e foi assim, sempre, que me senti.
Um jovem a crescer no meio disto, a perceber esta realidade, no meio das suas fragilidades, dos seus pecados, das suas iniquidades, da normalidade da juventude — ou melhor, do crescimento, da normalidade do crescimento. Vamos tendo estes confrontos até termos a nossa personalidade construída, mas sempre com este horizonte, sentindo que Deus me chamava. Não sabia bem para o quê, sabia que era continuar na Igreja, estar na Igreja, mas Deus Nosso Senhor já tinha os Seus projetos e eu ia crescendo com eles.
Na Casa do Gaiato, o que exerceu?
Na casa do Gaiato fui, acima de tudo, um amigo, um confidente, um facilitador da comunicação entre o Padre e os miúdos que lá vivem, e que lá viviam — porque muitos de eles já de lá saíram. Fui um educador, mas um educador vivendo lá, estando lá, aliás quando fui propor-me à casa do Gaiato — fui eu que me fui propor —, procurei ser… queria este caminho, porque já era professor e, portanto, queria um caminho, não queria viver numa escola em que depois saía às 6 da tarde ou 4 da tarde e ia para casa, e depois fazia o quê, qual era a minha vocação?
A minha vocação não era ficar por aí. Queria, de facto, uma vida dada, dada na educação, dada na amizade e na fraternidade, para aqueles que o Senhor me chamasse a ter, e, portanto, eu fui para a Casa do Gaiato como uma vocação, e senti isso cada vez mais, e quanto mais crescia lá dentro com os miúdos e aprendia com eles. É engraçado que o Padre que me acolheu — depois eu estive com o Padre Acilio — futuramente, mas no início, quando fui para a Casa do Gaiato, quem me acolheu foi o Padre Júlio Pereira, e engraçado quando digo isto, ele diz “é exatamente isso nós queremos, professor”. Recorde-me das palavras como se fosse hoje, graças a Deus.
Casa do Gaiato é uma casa de crescimento de valores, de entrega absoluta, não pode ser uma casa de irmos com horário marcado, nunca gostei de ter horários marcados. “Agora confissão, não agora não posso por isto ir por aquilo, Senhor Padre, agora não, agora não posso, por não sei quê”. Não, eu não tenho horários de cartório, não tenho horários de cartório, sinto que alguns têm, com o devido respeito, há Igrejas que têm, eu não tenho. A Petinha, a minha funcionária, a quem deve muito também essa ligação, que temos a relação que temos tido a este nível, marca as coisas, as pessoas telefonam para lá, marcam “Senhor Padre, hoje tem dois casais”. Chego no outro dia, “tem três”, no outro dia “olhe, hoje é um batismo”, marquei. Aquilo que está a marcado e eu atendo as pessoas.
O Padre, sinto que deve ser alguém — percebo que, por uma questão de orientação, possa ter às vezes, enfim, os horários — mas não pode ser nunca visto como isso, como “eu saio às 5 da tarde ou às 6”. Isso é uma repartição de finanças, uma Caixa Geral de Depósitos, qualquer outra coisa, não é uma Igreja. Um Padre não tem tempo, o tempo é de Deus e é para Deus.
Senhor Padre, vou-lhe fazer uma questão difícil e responde, se quiser, e se entender. Depois desta confusão toda da Igreja com os abusos sexuais, como vê os fiéis? Há mais fiéis agora, que regressaram, há menos fieis, como vê toda essa situação como pároco?
Penso que, voltando só atrás, eu dizia, peço Deus que me conserve sempre este pensamento que tenho. É o pensamento que trilha a minha vida de Padre, deste que sou há dois anos, e de facto como vejo a Igreja neste sentido? Vejo como uma triagem que acaba por ser feita, do ponto de vista espiritual. As pessoas reconhecem muito bem os seus pastores, percebem muito bem que é o seu Padre, quando o Padre é autêntico, e se deixa ver na transparência.
O opaco não chama ninguém, é a transparência que mostra o Padre que tem à sua frente, e esta questão de abuso sexuais é a fragilidade humana, que obviamente não é perdoado na linha judicial, obviamente, do ponto de vista civil, mas que temos de ser… Não perdoar também… Vejamos uma coisa, do ponto de vista religioso, já muito escreveu e já muito se disse sobre isso, e gente com muito mais autoridade o que eu para o fazer, mas aquilo que sinto, e muito honestamente, é que, em primeiro lugar, temos de olhar como pessoas pecadoras, frágeis. Pessoas que precisam de perdão de Deus, que precisam de pedir perdão, e mais do que tudo, mais do que julgar é o olhar como misericórdia, sendo o olhar de Jesus. O olhar de Jesus é um olhar de misericórdia, e depois, sim, fazer o caminho com as pessoas, procurar não hoje destruir. Nós, também, não podemos ir a uma prisão de destruir os que lá estão, porque, se não, não foram lá fazer nada, no tempo que lá estiveram. Temos de olhar com olhos de misericórdia, procurando de ver o coração das pessoas, sendo o coração de Deus. Deus não quer daquela maneira.
As pessoas, quantas vezes, também, não sei se calhar também não era por aí que queriam ir, há coisas de facto na vida que acontecem que são misteriosas, e que não se percebem. É claro que temos que ter, como diz o Papa Francisco, “tolerância zero”, claro que sim, mas, como também ele diz “quem sou eu para julgar”.
É favor ou contra os padres casarem?
Essa é uma questão que quero que seja a Igreja a discernir. Não me meto nisso. Na minha opinião, se um dia isso acontecer, não estará nada fora de Igreja. Temos isso nos padre ortodoxos, nesta linha, temos isso nos anglicanos, temos, enfim, eu tinha um professor no Instituto de Teologia de Évora, que dizia, que não nos escandalizássemos, se um dia o celibato fosse abolido.
O celibato aconteceu a partir de determinada altura. Antes disso, não acontecia, e esse professor — voltando atrás para dizer isso — esse professor dizia não se escandalizar porquê? Porque, se isso acontecer, já temos quem aceitamos na Igreja Católica com essa corrente, não celibatária.
Para mim, pessoalmente, deve dizer que, sinto que devemos estar abertos ao Reino de Deus naturalmente, e com tudo disponível, completamente disponível. É claro que um Padre casado, tem um imperativo de vida — repare uma coisa —, são dois sacramentos. No Padre casado são dois sacramentos, e nunca podemos deixar descurar isso: é o sacramento do matrimónio, o sacramento da ordem, e, portanto, terá de haver uma grande gestão das coisas. O Padre tem de ser uma pessoa absolutamente livre para o Reino de Deus.
Recentemente, o Papa Francisco, não autorizou, salvo erro, o casamento de homossexuais e lésbicas, pela Igreja, mas já deu uma abertura, também, da mentalidade Católica e da Igreja, propriamente dita, para acolher esses casais. Qual é sua opinião como pároco?
A minha opinião é que, primeiro, se o Papa Francisco diz, como Papa, com toda a infalibilidade Papal, e, portanto, com a doutrina da Igreja, quem sou eu, para pôr isso em causa? Acho que, às vezes, baralham-se muito essas coisas. Às vezes queremos muito ser mais papistas com o Papa, e nem o Papa é papista, atenção (risos). Nem o Papa Francisco é papista. Se há uma coisa que o Papa, não desfazendo os outros, naturalmente, mas que o Papa Francisco nos tem mostrado, é uma grande liberdade.
Liberdade, no sentido de responsabilidade, que este também é um engano, o Papa Francisco é uma pessoa muito responsável, como se não fosse ele, até, da linha Jesuíta, que é, os Jesuítas são muito inteiros nessas questões, das afinidades, de ponto de vista de discernimentos vocacionais etc. Portanto, pelo menos, falo daqueles que conheço, sei que isto de alguma maneira norteia um pouco esta compreensão da Companhia de Jesus ao haver casos, como, em tudo, todos os humanos também, somos muitos, com o seu feitio, cada um tem a sua maneira de ser.
Agora, temos que todos afinar com o mesmo diapasão, porque, senão, a orquestra fica desafinada. Aqui, se o Papa diz, está dito. Posso discordar, as pessoas, às vezes, dizem “Ah, o Papa usa sapatos pretos e devia usar brancos”. Isso tem a ver com maneiras de ser, de estar. “O Papa devia usar um anel diferente”. Isso, cada um, diga aquilo que disser. Aqui, o que o Papa diz, do ponto de vista do doutrinal, temos de aceitar, porque acreditamos que ele faz, ele é Pontífice, não é? Não podemos julgar o Papa de uma maneira, porque nos dá jeito e, de outra maneira, já não dá jeito. Portanto, o Papa é aquilo que é, e quando falo em termos doutrinais, nós temos que aceitar e, deste ponto de vista, se o Papa acha que está a olhar para pessoas em primeiro lugar, humanamente e, portanto, “quem sou é para julgar os homossexuais?”. Já nos tem dito isso várias vezes, como sabemos, eu também não sou ninguém para julgar. Eu também serei julgado por Deus, quem sou eu para estar a julgar agora os outros?
Aliás, o Evangelho é muito claro, “se estás a olhar para o argueiro, que está no olho do teu irmão, olha a primeira para a trave que está na tua”. Temos de ver o nosso olhar, tem uma trave muitas vezes, quando andamos a olhar para um pequeno argueiro, um pequeno pauzinho que está no olho do outro. Temos de ter muita essa serenidade, que calma e, se o que está ali a julgar é aquele casal, não como casal, mas — porque isto tem de ser explicado, e as pessoas têm que ler sobre as coisas. Depois, o Papa diz uma coisa e todas as pessoas falam. Percebo que me está a entrevistar e sabe, tem conhecimento de causa, mas há pessoas que não têm, e falam do que não sabem e, portanto, é preciso perceberem o que o Papa quer dizer. O Papa quer dizer que dá uma bênção, enquanto pessoas, não dá o casal, da não é a relação ali abençoada, porque isso estaria a deturpar o sacramento do matrimónio, que, como todos os sacramentos, foram instituídos por Cristo. Tiveram uma presença do ponto de vista, evangélico.
Mas na Igreja, o Senhor Padre ainda acredita que poderá haver uma abertura para casamentos homossexuais?
Acredito que o Espírito Santo é tão dinâmico e tão versátil que tudo é possível (risos). Eu não posso dizer, percebo a pertinência da pergunta e aceito-a como tal — com essa mesma pertinência, e respondo com o imperativo também associado à pergunta. Se um dia a Igreja pensar — determinadas estruturas —, depois teria que estar aqui, numa próxima entrevista, que me fariam na altura, a desdizer aquilo que disse, porque absolutizei determinada situação. Deixemos o Espírito Santo.
Muito bem! Senhor Padre…
Mas só uma coisa. Deixemos o Espírito Santo a essa atenção. Aquilo que Cristo deixou instituído, é dificilmente alterado por qualquer Papa, por isso, vejo com muita dificuldade, porque o sacramento será sempre do matrimónio entre um homem e uma mulher.
Antes da minha questão seguinte, e já deu para perceber que vou por temas. Com entrada do Papa Francisco — sei que o Padre é um jovem e deve ter acompanhado e acompanhou, a nomeação e eleição do Papa Francisco — esperava ter um Papa tão dinâmico, tão aberto, que não vive de luxúrias e que, até, negou, o tipo de sapato, que tentaram impor. Esperava um Papa assim governar a Igreja?
Dou muitas graças a Deus por o Espírito Santo ter fintado alguns homens (risos), porque, se calhar, não esperava. Eu também não posso dizer que esperava. Não sei o que na Capela Sistina, — quando o Papa Bento XVI faleceu — e a partir do momento que os Cardeais entram lá, aquele conclave é mesmo isso, é fechada a sete chaves, e só quando há fumo branco é que sabemos quem é. Quando vem à Varanda da Praça de São Pedro, o Papa Francisco diz, de facto, entre tantas palavras, pede para rezarem por ele e diz que se vai intitular Francisco. Muita gente associou a Francisco Xavier, por ser jesuíta. Ele, rapidamente, numa breve entrevista ao fim de pouco tempo, disse que não era, era por ser Francisco de Assis, e o Santo que escolhi, quando no seminário perguntaram — e está assumido, em toda a Diocese —, o Santo que escolhi, como o meu Padroeiro, é que ele com quem eu sempre me identifiquei. É precisamente São Francisco de Assim.
Nós não podemos ir atrás dos Santos, porque os Santos seguem Jesus. Quem os Santos seguem é Jesus e quem temos de seguir a Jesus. Mas eles servem de intermediários, do ponto de vista, de exemplos que a Igreja coloca, e por isso — voltando à pergunta — se eu esperava, não sei o que se esperava porque, como digo, na linha do que estava do habitual, tivemos ali um confronto, um confronto que, para umas pessoas, se calhar, foi um confronto, porque, se calhar, não se esperavam, mas também se percebia que a Igreja tinha de mudar. Tinha de mudar porquê? Por uma razão muito simples, estava-se a fechar muito, e nem sequer atribuo a esta culpa, nem sequer ao Papa Bento XVI, um homem de uma enorme craveira intelectual, possivelmente, um dos maiores teólogos, se não o maior do século XX, e que fica para a história e que é incontornável para qualquer aluno de teologia, qualquer Padre, não saber nada do Papa Bento XVI é incontornável, porque faz parte da nossa vida, do nosso estudo.
Mas devo dizer que, percebia-se isto, r foi uma pessoa que, atualmente, é Arcebispo, e que me disse que a Igreja tinha de dar a esta volta, tinha de dar a esta volta de facto, e tinha de sair de dentro dos muros onde estava, principalmente não pelo Papa Bento XVI, mas por quem andava à volta, e tinha de ir para fora. E repare-se, que a Evangelii Gaudium é exatamente o documento com que o Papa Francisco iniciou o Pontificado, dizendo que a Igreja tem de ir às periferias. Isto é lindíssimo, e até comovente. A Igreja tem de ir às periferias, prefiro uma Igreja do hospital de campanha. É isto mesmo, isto é, a mistagogia, é voltar às origens, isto é ir ao encontro do Jesus que acolheu a todos.
Senhor Padre, Jornada Mundial da Juventude, o que sentiu?
Senti algo que a mim me tocou muito. Eu não esperava que Jornada Mundial da Juventude tivesse o impacto que teve aqui, entre nós, foi extraordinário, porque neste mesmo espaço tivemos nos encontros que tínhamos com os bispo, aqui durante as manhãs, fomos a sentir que, nós tivemos aqui muitos jovens da Américo Latina, da Américo do Sul, e isso deu-me uma dimensão de Igreja que eu não tinha, e que não vivera carnalmente nunca, e fez-me pensar de facto que a Igreja é isto, é o Pentecostes, o Espírito Santo sobre todos, e a primeira coisa que somos são humanos, e depois experimentamos o mesmo Cristo, e amamos, porque ele nos ama primeiro e por que nos abraça.
Decorrido um ano, como avalia, qual é o balanço que faz?
Decorrido um ano, sinto que a Igreja não é a mesma, não podia ser, de modo nenhum. Se tivéssemos passado por este encontro mundial, que foi tão impactante: Fátima, e em especial Lisboa, no parque Eduardo VII, depois no parque Tejo, tudo isto foi impactante, e a Igreja está atenta, a não perder esta força motriz que aqui se ganhou, e depois o Papa Francisco, com aquele “todos, todos, todos”, que se torna, de facto, quase como um ‘slogan’, e nós repetimos muitas vezes exaustivamente, mais precisamente para dizer isto. Isto do “todos, todos, todos”, é preciso não esquecermos que é de Jesus, que o próprio Papa faz questão de estar sempre a sublinhar estas coisas. Quando lhes parece ao povo que é dele, e ele ter sempre o cuidado de dizer que é Jesus, isto do “todos, todos, todos”, é realmente a comunhão que Jesus experimenta na sinodalidade que a Igreja tanto vive e cada vez mais tem que viver, para se identificar com a vida de Jesus, com os discípulos.
Teve a oportunidade de contactar com o Papa nessa altura ou não?
Não tive. Tive a graça de celebrar, no dia em que ele celebrou no parque Tejo, com toda uma multidão e de padre também, uma multidão de padre, e tive a graça de ver, assim, à distância (risos). Mas gostava muito de o ver, e vi depois na tarde, no encontro dos voluntários. Para o ver próximo, foi a ocasião que tive, porque os high ups que tínhamos aqui, portanto, esses encontros que tínhamos aqui no Largo de São João, com os bispo, não me deixaram, por exemplo, ir aos Jerónimos, porque teríamos de ir para lá antes, e eu não consegui ter aquela proximidade dada aos consagrados, aos padre, de podermos privilegiar, que, aliás, também nem vamos estar muito perto, porque a multidão era sempre muita — por isso multidão é isso mesmo —, mas gostei muito, gostei muito.
Esta Jornada Mundial da Juventude deu para passar a mensagem aos jovens para voltarem para o lado da Igreja?
Sim, há pecado sobre a questão da pedofilia, faltou essa parte e, já agora, associo agora à mesma questão. Acho que as pessoas quando percebem a autenticidade da Igreja voltam. Pode haver ali um clima de paragem, para tentar perceber o que acontece, porque ficamos todos numa corda bamba, sempre num trapézio sem rede, mas quando percebemos que a rede afinal lá está, e que rede é Jesus, nós voltamos, porque voltamos à casa dele.
Aqui é o mesmo, os jovens aproximam-se da autenticidade. Quando um jovem vê um Padre que os ama, que dá tudo por eles, eles voltam, não há outra maneira.
Nessa altura estávamos sem Bispo, acreditou que iria sair um Bispo desta Jornada Mundial da Juventude?
(Risos) Isso é curioso. Já se dizia que o D. Américo, nós íamos a ver os bispos que estavam por aí como candidatos ao lugar, à abertura das dioceses vacantes.
No nosso caso, foi uma vacância grande, dois anos praticamente, e íamos a ver sair e íamos a dizer “no fim, é o D. Américo”, porque, no fim, era o D. Américo, porque já saiu este, já saiu aquele, já saiu não sei quantos, e quando foi o D. Américo, foi nomeado Cardeal, depois foi uma surpresa, porque, realmente, um bispo que vem dali, e engraçado que já tinha tido um encontro esporádico num jantar com algumas pessoas e onde estava o D. Américo. E por acaso também se levantou essa questão “se calhar, é o seu Bispo”, e os bispos nunca dizem o que acham, nem que sim, nem que não.
Pronto, eles dizem, fica se por ali assim. Mas é engraçado que já íamos a desenhar ali um perfil que tinha tudo para dar certo. Costuma dizer-se que rezámos muito por um Bispo e saiu-nos um Cardeal (risos). Esta perspetiva do Cardeal acaba ser — e atenção que ele aqui para nós é Bispo, obviamente, mas é um Cardeal, portanto vamos lá ver o Cardeal — está no núcleo de amigos, digamos assim, mais próximos de Papa Francisco, e decisores, é “Conselho de Estado” dele, enfim, se é que se pode dizer isto assim, com muitas aspas, acredito que escrevam com muitas aspas, não se pode dizer desta maneira.
Mas, de facto, o Papa Francisco, sabe escolher e sabe estar bem encaminhado, e o êxito destas jornadas devem-se muito ao Senhor D. Américo, pela forma empreendedora, pelo arrojo, pela disponibilidade, pela iniciativa, pela juventude, pôr o transportar essa juventude dele aos jovens, e isso só podemos estar agradados depois de tudo isto ter sido transportado para a nossa amada Diocese de Setúbal.
E é curioso que é da mesma terra que o D. Manuel.
Precisamente pensava nisso, ainda por cima, com os desígnios todos do Espírito Santo, sendo sempre estes.
Senhor Padre, esperava ter um Bispo tão dinâmico? Eu normalmente chamo estas pessoas, as “formiguinhas”, de um lado para o outro, porque o Senhor Bispo não para também, mas esperava um Bispo dinâmico? Muito dado, também, à comunicação, porque nós nunca tivemos uma Diocese muito comunicativa. Comunicava o essencial, mas agora não. Esperava um Bispo que mexesse assim tanto na Diocese?
Acho que, a vez mais, a Igreja precisa disto. Eu, off record, antes de iniciarmos a entrevista, dizia isso mesmo: a comunicação social é importantíssima na Igreja. Lembremos do D. Januário Torgal, por exemplo, que era um homem muito da comunicação social, o próprio D. Manuel Martins — Deus tenha — tinha na comunicação social, o nosso primeiro Bispo, na comunicação da altura, também eram um homem arrojado, que queria mostrar.
Há uma coisa muito importante: nós — e isto é fundamental —, nós temos que, de facto, ver isto. Jesus foi um interveniente na sociedade, e uma Igreja que não é interveniente na sociedade não faz o seu papel. Porque nós, como batizados, somos todos colocados no tríplice dignidade de Cristo (sacerdote, profeta e rei), e quem é o profeta? O profeta é aquele que denuncia o que está mal para anunciar o Evangelho e conferir credibilidade ao reino de Deus. É esse anúncio. Aquilo que está mal, temos de dizer que está mal, porque se não for a Igreja uma voz a dizer, porque é uma voz que diz como misericórdia, que diz como perdão, que diz pedindo que rezem pelas pessoas. Ainda ontem fiz isso na homilia sobre a questão dos fogos da Madeira. A questão dos fogos da Madeira é para rezarmos por aqueles políticos, que têm uma falta de tudo. Se se deixa construir naqueles sítios — e não quero afastar-me no tema só para dizer isso — se se deixa construir naqueles sítios as casas, é claro que as pessoas vão sofrer, é preciso dizer que não, é preciso arranjar políticas municipais que enfrentem e sabem enfrentar do ponto de vista estatal e municipal, estas agruras.
Isto tem que ser denunciado quando não é feito, mas não é a denúncia da falta, no sentido punição. A Igreja nunca denuncia para punir, denuncia para conferir credibilidade ao Evangelho e ao anúncio de Deus, e por isso denuncia sempre como misericórdia, e este nosso Bispo é este dinamismo, este dinamismo de quem denuncia, de quem também sabe estar perto para perceber as fragilidades e poder falar delas, mas quando fala delas fala sempre com olhos de misericórdia, e quem não acredita nisto, ouçam bem o que o D. Américo faz, e como faz, porque basta olhar para ele e perceber como ele diz, o coração dorido com o que o diz, depena por aquilo que acontece, ou melhor, de compaixão, porque eram “como ovelhas sem pastores”, esta frase é do próprio Jesus, e é assim que temos que olhar, eram como velhas sem pastores.
Eu aqui neste pequenino, nicho, digamos assim, nesta comunidade, farei isso, e por isso há tanta transparência nas homilias, na forma como falo. Podem gostar ou não gostar, mas falo o que Jesus fala. Falarei assente no Evangelho. Dói? Dói, porque o Evangelho não é fácil, mas procuro sempre falar. Muita atenção nisto, em primeiro lugar, sobre mim. Nenhum Padre deve vir para o ambão, nem para lado nenhum falar como se fosse dirigida a vocês. Sou eu o primeiro pecador, sou eu primeiro falhado, e por isso é preciso também da vossa oração, e acho que é isso, é exatamente isso que o D. Américo dá prioridade.
Como chega a Palmela?
Chego até Palmela, porque me mandaram para aqui (risos). Bem, eu conhecia Palmela dos meus tempos na Casa do Gaiato. Lá está, vinha aqui ao Largo de São João, estamos mesmo em frente. Vir aqui a este teatro de São João, vir aqui com os miúdos, aqui ao Coreto, por exemplo, nas 10 Milhões de Estrelas, por ocasião daquela iniciativa da Cáritas. Trazer aqui para dirigir aqui a música, que era o que eu fazia, também, na Casa do Gaiato. Graças a Deus, enfim, tudo isso, vinha aqui neste sentido, não conhecia Palmela.
Palmela foi uma enorme surpresa, como posso dizer, tudo foi surpresa. Também não esperava ir para o Montijo, como seminarista, e fui para o Montijo. Não esperava ir para Sesimbra, e fui para Sesimbra, como seminarista e, depois, diácono, e depois, também, fui ordenado diácono, estando em Sesimbra e, estando em Sesimbra, também fui ordenado Padre.
Vejo Palmela como um desígnio de Deus. Vim para aqui porque Deus me chamou, e agora gramam comigo até o fim, também já falta pouco.
Qual foi a situação mais comovente que teve ao longo deste tempo todo aqui em Palmela, com os seus paroquianos?
Têm sido várias. O que me comove é o amor das pessoas, o que me comove é o movimento das pessoas quando vêm ao encontro do Padre, com verdade, com verdade, e isso comove-me. Basta isso para me comover, para sentir que estou no caminho que Deus me deu, e isso, às vezes, é feito no contacto pela alegria, porque aquilo que ali acontece é alegria, como também aquilo que ali acontece é tristeza. Comova-me muito… pode-me comover muito um casamento e um batizado, como é mais normal, comove-me, também, um funeral, claro, mas, em ambas as situações, o que me comove é a entrega das pessoas, é como as pessoas vêm ao meu encontro e procuram ver a mim, no meu pecado, na minha fragilidade, que tantas vezes denuncio para que não se esqueçam disso. Padre é um homem e precisa também muito da oração do povo, e estar em comunhão como tantas vezes digo olhos nos olhos, coração com coração, e por isso, quando alguém se abeira de mim, reconhecendo isso, isso comove-me, porque vejo, na minha fragilidade, a presença de Cristo.
Já agora, queria dizer, ontem passou-se um episódio muito giro. Eu estava num restaurante, e há um menino que veio ter comigo, eu almoçava, e ele vem ter comigo, e disse “Senhor Padre, dê-me a sua bênção”, e isso comove-me. Eu disse, “sim, filho dou-te a minha bênção”, e eu levantei-me de imediato da cadeira e dei-lhe a bênção. Depois, veio outro irmão pedir a bênção, também, e veio outra irmã pedir a bênção também, e depois a mãe aproximou-se e eu disse “o Senhor abençoe-vos”. Para mim, isso comove-me, não porque viram o Padre Zé Manel, eu nem sabia quem eu era, mas porque viram Cristo, ou, pelo menos, eu sou a presença Dele, tão longe, tão longe, da verdade Dele, no sentido da verdade humana, porque Ele é divino, e eu experimento a divindade, mas sou humano, porque Ele é igual a nós em tudo, exceto no pecado, e nós somos pecadores.
Tem sido difícil ministrar a Igreja de Palmela? Ou as Igrejas da freguesia, porque o Padre acaba só por não ter Palmela, como Aires.
Sim, sim, Aires, também.
Quando nós, entramos uma lógica que é de nos entregarmos ao coração das pessoas, sentimos que as pessoas também nos dão o coração delas, e quando isso acontece, essa maneira — isto não é lamexices, porque eu não gosto disso, já viram que sou uma pessoa radical, e para frentex, perdoem-me a expressão, não sou cá de lamexices, nem de pietismos, de piedadezinhas, porque “sem obras afeta a morte”, diz o Santiago, e é uma grande verdade.
O que eu sinto? Sinto que quando se terá os colaboradores que Deus nos põem ao nosso serviço, estamos juntos, e, portanto, eu descentralizo muita coisa, deve dizer, senhor Miguel. Descentralizo muita coisa, porque a questão aqui, eu sou quem coordena, mas descentralizo, tenho pessoas para cada coisa, mas oriento essas coisas, as pessoas estão à vontade. Acho piada, porque às vezes vêm-me dizer “Senhor Padre, já sei que vai dizer que sim, mas diga lá isto”. Portanto, porque já há uma familiaridade tão grande que isso acontece, e é essa descentralização que também faz assim a sinodalidade da Igreja. A sinodalidade não é dizer, escrever no papel, é preciso vivê-la, porque se, não cumprimos nada de sinodalidade.
O que é a sinodalidade? Escrever, e escrever muita coisa, a dizer que temos que ser sinodais? Temos que fazer, dar o papel aos leigos e ajudá-los a crescer. Não é dá-lo todo aos leigos, mas também não é para pô-lo todo em mim, é isto que quer dizer. Não é dá-lo todo aos leitos, mas também não é pô-lo todo em mim. Durante tempos passados, sabemos e vivemos perspetivas completamente diferentes, em que os leigos tinham que andar subjugados à postura dos padres, etc. Hoje vivemos isto do ponto de vista mesmo do próprio Papa, do ponto de vista mesmo da cúpula da Igreja, vivemos uma perspetiva, em que temos que nos ouvir reciprocamente e, cada um na sua vocação, fazer caminho sinodal, fazer caminho de comunhão. É esse caminho de comunhão que nos faz ser Santos, ter o desejo de ser Santos e com essa santidade procurar o Céu que é a para isso que estamos cá.
Com a sua saída, muita gente tem deixado algumas mensagens até nós. Agora com o anúncio desta entrevista, pusemos nas redes sociais e/ou muita gente que diz que é uma grande perda para Palmela. Sente-se traído por alguma coisa?
Não, sinto que a voz de Deus é a voz do povo, e, portanto, costuma-se dizer isto. Comove-me isso. Aí está uma coisa, retrocedendo, que me comove. É de facto isto que eu há bocado disse, e que vou novamente sublinhar. Sinto que, se assim é, não é porque olharam para mim, porque o Padre nunca deve de olhar para si, em primeiro lugar. Isso é ser ‘pop’ star. O Padre está em nome de Deus é, como se diz em latim, “in persona Christi”. A pessoa de Cristo na celebração etc. Portanto, no centro está Deus. O Padre é um veículo para chegar até Deus. Pode ser um veículo de afastar ou de aproximar, naturalmente, tem a ver com o feitio, com o acolhimento, não podemos negar isso. Não podemos achar que isto é caído do céu aos trambolhões e que não há uma leitura do ponto de vista espiritual. Claro que há, e depois, tem a ver com o feitio de cada pessoa.
Se eu me senti traído? Não, sinto que é a vontade de Deus, e o Senhor Bispo entendeu assim. Entende que devo servir, agora, noutro lugar, e eu devo-lhe obediência e reverência e, além disso, tenho para ele uma profunda amizade e, por isso, sinto que se ele me chamou, é o lugar.
E vai de coração aberto?
Vou de coração aberto. Estou aqui num “glicodoce”. Por um lado, despedir-me de Palmela, que é uma terra que me tem dado tanto no sentido Cristão do termo, em que tenho sentido tanto as pessoas, de ver nas pessoas o rosto de Cristo. Ver em cada um ser Cristão é isso, é ser outro Cristo, por isso, naturalmente, ver os Cristãos tem que ver outro Cristo, porque só assim faço a leitura correta teológica, e tenho visto isso nas pessoas.
Por outro lado, uma enorme expetativa por aquele povo, por aqueles povos, aquelas comunidades que vou abraçar, porque eu já rezo — sei que rezam por mim — pelo colega com quem também vou, o Luís Ferreira.
Acredita que pode voltar, um dia, a Palmela?
Cá está, os desígnios de Deus ninguém os sabe, por isso mesmo, são misteriosos.
Adivinhar é proibido.
(Risos) Adivinhar é proibido, porque era de uma complexidade, mudavam-nos a vida e nada era certo, porque depois, mentiríamos a nós próprios, porque só Deus é que tem a verdade na mão e no coração.
Penso que não é muito provável, bem D. Américo ouvirá isto, e não sei estou à vontade de dizer isto, sei que ele não vai ver isto neste sentido, mas não é provável. Normalmente, os bispos chamarem-nos para o mesmo sítio — o que não quer dizer que não aconteça —, à partida, quando passamos por um sítio, normalmente, não se volta. Não quer dizer, há casos em que se pode voltar, isto normalmente não quer dizer que seja bem assim.
Se um dia, o Senhor chamar-me novamente a Palmela, depois virei de coração novamente, porque não saio daqui com rancores com ninguém. Saio, é natural, se calhar, a saírem com mais os meus, porque é natural, nós somos o bote expiatório, por isso temos que dar o corpo às balas, é mesmo assim, mas eu não saio com rancores com ninguém, por isso, se o Senhor Bispo um dia chamasse-me, viria como vim.
No meio disto tudo, o que o deixa mais triste, dessa sua saída?
Aqui não é uma questão tristeza, é uma questão de saudade, que é diferente. Não saio triste, saio com a saudade, porque, como dizia o D. José Ornelas, e quero recordar isto aqui atualmente, a dada altura, um dia ouviu dizer isto e dizer sentido “de facto aquele que parte é bom deixar ir com uma lágrima no olho e deixar uma lágrima no olho de quem fica”. Neste sentido, no sentido em que se experimentou relação, se experimentou amor, se experimentou a ternura e compaixão, se experimentou misericórdia, e se isso tudo se experimentou, significa que Deus, quando me escolheu para aqui, sabia que fazia, porque sabia que trazia alguém para ser a pessoa Dele, e não para ser a pessoa desse que vinha ele próprio, porque quando se vem connosco próprios, com tudo o nosso, em nós, e dar tudo de nós, sem dar de Deus, sou um ‘top’ star, e não serve.
A Igreja não pode viver ‘top’ stars. A Igreja tem que viver de alguém, que faz entrar no coração das pessoas aquele que já está escrito no coração das pessoas, e por isso já lá está, mas é firmado pela pessoa do Padre, e não o contrário. O Padre a tentar ir buscar também esses amores todos de Deus para si, e levá-los à presença das pessoas com uma certa euforia de espetacularidade.
Sente-se um Padre recordista, em casamentos e batizados na Igreja de Palmela?
Sim, se calhar sou. Se calhar sou um género de (risos) medalha de ouro, passe dos Jogos Olímpicos de Paris, mas a questão é que não me quero ver tanto assim.
O que acontece com os casamentos de Palmela? Acontece uma coisa de simples: o Padre é o ministro dos sacramentos. Nós não somos ninguém para negar sacramentos. Não somos ninguém para negar sacramentos.
Se me procuram para um batismo ou para um casamento, claro que há uma série de condições que veremos do ponto de vista canónico, do ponto de vista do processo, claro que sim, mas se as pessoas procuram, isso não se deve a mim, deve-se ser a procura.
Sou aqui que estou, acredito que o pároco que vem após mim, também irá, até porque já tem uma série de coisas que já lhe marquei, portanto, que já estavam marcadas e que ele disse que sim, porque, se não entendesse assim, faríamos de outra maneira. Portanto, parece que as pessoas vêm à procura. Temos de dar graças a Deus pela procura e não ficarmos a julgar o que as vezes faz com o que nós não façamos um sacramento, não o queira celebrar. É ficarmos, às vezes, se calhar a negar o futuro, o futuro não nos pertence, o futuro a Deus pertence, e, portanto, não há que negar, há que fazer, se há condições reunidas para tal. Claro que, objetivamente, tem de haver condições reunidas para tal. Se há condições, vamos para frente. Tornar um filho de Deus, é uma graça de Deus. Aquele menino, aquela menina, ou aquele jovem, aquela jovem, aquele adulto, ou aquela adulta. Se há um casamento, é uma graça de Deus sublinhar essa mesma entrega incondicional que querem fazer na presença de Deus. Não é o mesmo que feita na presença civil, no civil.
Por isso não me sinto recordista, sinto-me… comecei por brincar com a questão do recordista, mas o que sinto é um apaixonado por dar graças a Deus, por ser Padre apaixonado por isso, e por isso como ministro dos sacramentos disponível àqueles que vêm ao meu encontro.
Certamente, que os casais, pais, primos, confidenciam muita coisa com o seu Padre. Porque é que escolhem Igreja de Palmela? É por ser um monumento religioso bonito, é pelo Padre ser também atencioso e, se calhar, não maçador (risos), mas porque é que escolhem Palmela?
Sim, o que direi são eles que dizem, portanto, estou à vontade para dizer. Não há aqui nenhum sentir meu de procura de ser agraciado e com palmadinhas nas costas. Mas aquilo que dizem é que gostam muito da Igreja e que se sentem muito acolhidos. “Vim a uma celebração, gostei tanto, Senhor Padre que estou para ouvir”. “Vim a um casamento, gostei tanto”, “vim a uma missa, “vim a um batizado”. “A sua disponibilidade, alegria, forma como falou”. Isto é aquilo que me confidenciam, a perspetiva como eu — não gosto muito, porque sinto sempre que entro no campo, que é dos outros. A palavra “elogio” nunca foi feita para ser pronunciada pelo próprio, nem é isso que está em questão. Estou sempre a dizer “modéstia à parte”, porque não é só para dizer, é porque havia um que dizia na brincadeira “em humildade, ninguém me bate”.
Isto é exatamente o contrário. Portanto, ser humilde não é uma condição que a própria pessoa adquire para si, é uma graça de Deus e, por isso, o que sinto verdadeiramente é que as pessoas têm a sua forma, e é isto que me dizem. Sentem-se acolhidos, a Igreja é lindíssima e, além disso, sentem-se acolhidos e vêm.
Isto é das pessoas, não sou eu que ando a procurar coisas para mim, as pessoas falam que o coração.
Freguesia de Palmela tem 3 Igrejas, neste caso 2 Igrejas e uma Capela, da baixa de Palmela, que está fechada, por alguma razão?
Olha, devo-lhe dizer, meu Irmão, que eu, de facto, queria abrir a capela da baixa de Palmela. Há dias, estive ali na festa da Escudeira, e há um Senhor que se abeira de mim, e que eu já conhecia aí dos restaurantes, porque, como sabem, por aqui, encontro todas as pessoas. Tanto vou à tenda do cigano, como o palácio do consulado. Bom, e então o senhor disse-me “Senhor Padre, então como se vai embora e a capela da baixa de Palmela…” Não depende de mim. É um projeto que ficará, agora, dos efeitos às causas e para o Padre Quintino. Acredito que, na possibilidade que ele tenha, possa estudar essa hipótese.
Eu já tinha colocado ao concílio ecuménico, que já tinha colocado à Igreja, às suas mais próximas, essa questão da capela da baixa de Palmela, e isso estava delineado. Iria falar com o D. Américo e ver a possibilidade. Pronto, entretanto, o Senhor D. Américo decidiu desta maneira, e muito bem, e eu respeito, e estou muito, como já disse, grato por aquilo pelo convite que me faz, porque acredite sempre que, vindo dele, vem de Deus e, portanto, não pude conferir quantidade a isso, mas há uma coisa que tinha um projeto, porque uma Igreja fechada é como um jardim sem flores. Uma Igreja não pode estar fechada, portanto, há alguma solução que terá de haver ali. Não sei qual, obviamente, o primeiro decisor, isto é o próprio nosso Cardeal, o nosso Bispo D. Américo. Ele é o decisor, é ele que dá o ponto final nisto, mas pense que deve haver um empenho do pároco nesse sentido. Eu tenho-o, o Padre Quintino fará agora como entender, eu passarei o testemunho, tal como outros vão passar para mim, portanto, isto funciona assim na Igreja. Agora, será do entendimento dele, mas fico com essa, se quer que diga muito sinceramente, saio com essa, talvez essa seja uma das minhas mágoas, não teria reabilitado aquela Igreja, mas não foi fácil. Estávamos sem Bispo, não podíamos fazer, acho que cheguei a falar disso, até porque vivia com ele, com o Administrador Diocesano da altura, o Senhor Padre Lobato, e falando ou não falando, agora não me recordo, mas acho que sim, cheguei a falar, mas não seria uma coisa a tomar com a Sé vacante, porque são decisões que não podem ser tomadas normalmente em alturas destas como Sé vacante. No fim, com o D. Américo, não houve tempo ainda, nem possibilidade para isso. Mas era uma coisa que eu tinha.
Teve algum momento — vou aplicar a palavra “insólito” — teve algum momento insólito? Algum momento que o marcasse nalguma das suas homilias, nalguma das suas eucaristias, que ficasse mesmo com a lágrima no olho?
Sim, houve vários momentos. A mim emociona-me muito o Evangelho, porque acho que, se há coisa natural a ser cumprida por nós, ou pelo menos, a ser pelo menos colocada no nosso íntimo, é o cumprimento do Evangelho.
O Evangelho é muito claro e é verdade que sim, que me emociona muitas vezes. Às vezes, faço homilia e emociona-me, especialmente quando falo dos pobres, porque vi isso de uma forma muito direta nas casas por onde passei, não só na Casa do Gaiato, como outras, e toca-me muito, em especial, as crianças.
Esta guerra tem-me tocado muito. Viver de perto, e após ver isto à luz do Evangelho, toca-me muito e se sinto muito. Sinto sempre muito, como digo, o Evangelho, como Ele se dirige às pessoas, e depois, como fazemos a reprodução disso. Nunca com aquele sentido caricato, que uma vez um Padre nos contou, também no Instituto Superior de Teologia de Évora-houve alguns episódios, que realmente do ponto de vista, teológico, às vezes, são chamados à atenção para não fazermos futuramente quando formos Padres, porque, às vezes, quebramos estas coisas. A dada altura, um professor, um Padre contou que um Padre proclamava o Evangelho, fechou o Evangelho, e disse “agora vou-vos dizer umas verdades”. Até parece que aquilo que tinha dito antes era mentira, quando não, é exatamente o contrário.
A palavra de Deus é que é sublime, a palavra do Senhor, quando eu acabe e digo que palavra da salvação, silêncio, acabou. Aquilo é a palavra da salvação. O que digo a seguir é a repercussão dessa palavra, agora. Por isso, isso emociona-me sempre. Deixam muitas vezes com uma lágrima no olho.
Às vezes tenho dificuldade e ficou voz embargada quando atualizo a palavra de Deus, atualmente por a palavra ser sempre tão atual, que em primeiro lugar deve tocar o próprio. Coisa que mais me custa e que mais estranho é quando alguém possa reproduzir a palavra de Deus, sem olhar primeiro para si. A primeira coisa que sinto quando reproduzo aos outros a palavra de Deus, é que ela toca, em primeiro lugar, a mim, porque senão, não sou humano. Vou para ali fazer umas coisas e, já agora, diria, ganho no fim do mês, seria isso. Dizer umas coisas, depois ganhar no fim do mês o ordenado por dizer essas coisas e não.
A palavra de Deus não é paga por nenhum, porque a palavra de Deus é o sentido da nossa vida, e isso, como costumo dizer tantas vezes, é uma planta que se rega, é pedir a fé. Por isso, o Padre não pode, em momento nenhum, e isso faço questão mesmo de dizer e ser sublinhado muitas vezes, não podemos, em momento nenhum, fazer a homilia para os outros. É, em primeiro lugar, para mim, e para os outros, é para todos, eu estou em comunhão com aquelas pessoas todas. Não estou ali a dar indicações do que devem fazer. Então e eu, o que faço?
Concorda que os Padres sejam eles, não sigo os “donos” da Igreja, porque ninguém é “dono” da Igreja, já que o Papa Francisco disse que a Igreja é de “todos todos todos”, como só ouviu, mas acredita na forma como o Padre, em alguns casos, não é o seu, atenção…
Sim, sim.
Em alguns casos devem meter ordem na casa? Porque há muitas Igrejas que parece que, quem mandam, são mais os paroquianos do que o Padre.
Tem toda a razão. Penso que, muitas vezes, passámos do 8 a 80. Este é sempre o problema, nós tivemos o 25 de abril, também passamos do 8 ao 80, foi uma revolução, e quando há uma revolução, neste caso na Igreja, há sempre tendência, e o Concílio Vaticano II deixou essa marca indelével, ainda não está, nem está cumprido, como se costuma dizer. Temos agora, aí, o Sínodo, que também arranca com uma grande postura, e veremos, e acredito, tenho muita fé neste Sínodo, na segunda parte, que será agora em outubro.
Mas isto para dizer: quando nós, de facto, pensamos em Igreja, muitas vezes na revolução, numa revolução numa alteração passa do 8 ao 80. Não é os leigos mandarem. Aí o Padre deve, e eu aí sou muito reto. Quem me conheço aqui na Igreja, já houve aqui alguns dissabores, porque não esperavam que eu controlasse certas coisas e que tive de controlar. Tive mesmo puxar a rédea. Porquê? Não porque mando, eu não gosto da palavra “mandar”, porque a mim foi-me confiada uma Igreja, à luz de Deus, e, portanto, eu, oriento, e organizo com os meus paroquianos essa Igreja. Oriento, sou um orientador, o pastor. Costumo dizer isto, já ontem disso isto, e em homilias muitas vezes. O pastor não manda, porque se o pastor mandar, pegar no cajado e der uma cajadada numa ovelha, elas transmalham-se todas. Cada uma vai para seu sítio, e nunca mais as consegue reunir, porque elas ficam sentidas.
O pastor orienta, porque isso é que tem o cajado. O cajado não é para bater, é para orientar. Por isso é que o Bispo também tem um cajado, não é para a andar a bater nos Padres, pois orienta para as paróquias. É verdade. É para orientar o rebanho, e neste caso ele é o pastor conduz o rebanho dos Padres para conduzir o outro rebanho.
Mas o pastor tem o cão, para se zangar com as ovelhas…
Aqui, há alguns cães que querem assenhorar-se. Pode haver, também, a tentativa de “o Padre não tem o cão, então, vou eu ser o cão” e, portanto, ir ladrar, para tentar organizar as ovelhas. Aí, sim, estaria, não posso negar isso, porque é os seus próprios Papas que o dizem. Assim, sim, não é preciso puxar as orelhas, é, orientar, e perceber que aqui há pastor, e não é com a história do outro, que dizia, “eu sou o pastor e aqui o sacristão é o cão”. Não é isso, de modo nenhum. É termos de orientar, mas saber orientar com diálogo e não deixar que haja ninguém a querer fazer o papel do cão, que não existe.
Portanto, que anda ali é tentar, portanto, morder o Padre e, depois, morde as ovelhas, e depois morde o Padre e, depois, morde as ovelhas, anda ali, entre o pastor e as ovelhas, não. O que é preciso é pôr as coisas orientadas, e às vezes é preciso, de facto, tomar rédeas e dizer “olhe, realmente, esta situação não pode ser feita e ponto final”, mesmo que isso custe, às vezes queixas. Pode haver, podem acontecer coisas desse tipo, mas temos pena. Faz parte…
Mas teve alguma situação dessas?
Que eu soubesse diretamente, não. Encontro, há de tudo, há sempre alguns que pretendem alguma manipulação de algumas coisas, e isso é normal, em todo o lado acontecem coisas dessas e, depois, cabe-nos a nós, com amor e misericórdia, chamar a própria pessoa e falar com ela, e tentar, até porque o esclarecimento vem da postura da própria pessoa. Nunca me incomodei com a ninguém nesse sentido. A minha própria postura falou por mim, porque, como estou me dizer, as ações são de quem as praticam.
Senhor Padre, em janeiro, tivemos um momento alto, e voltando à Jornada Mundial da Juventude, onde o seu Padre também presidiu, foi um encontro do jovem, para fazer um balanço da JMJ. Esperava, e voltamos aqui, a história do Bispo de Setúbal, D. Américo Aguiar, oferecer solidéu à senhora?
Sim, percebendo os solidéus que o D. Américo já tinha por aí oferecido, sim (risos). Eu acho. que ao contrário de alguns pensamentos, não esperava naquele momento. Por acaso, aquela senhora, tinha sido minha paroquiana em Sesimbra, portanto a conheço muito bem.
Às vezes, não é o que se faz, é o gesto como se faz. O que o D. Américo quer fazer — algumas pessoas pensam que o D. Américo deve ter muitos solidéus lá em casa, deve trazer muitos solidéus sempre que vai a Roma. Isto são conversas de trazer por casa, acho que o D. Américo tem mais que o que se preocupar do que obviamente com essas coisas. Ele não tem uma coleção de solidéus, nem pouco mais, nem nada que o vale. O que ele quer fazer, com aquele gesto, é associar a pessoa à missão, é isso que ele quer fazer. Associar a pessoa ao Evangelho, é uma maneira de ele dizer “estás comigo em comunhão, este solidéu que é meu, é teu, porque eu estou contigo, somos comunhões, vivemos do mesmo Cristo”. É isso, é passar a mensagem, não me parece que seja mais nada.
Quando é que sairá?
Vou embora concretamente — esta parte agora do calendário é a gira. O Padre Quintino toma posse dia 15 de setembro, numa missa, aqui, já agora ficam a saber, porque era muito importante estar lá a comunicação social, são sempre muito desejados, pelo menos, da minha parte, onde eu estiver, tenho sempre porta aberta. Portanto, ao meio-dia, a uma ideia.
Como vê, tem aqui algumas coisas de ligação ao D. Américo, mas são minhas, não me liguei agora, eu já sou assim, e Deus me conserve, conserve-o também. A comunicação social é importante e, portanto, ao meio-dia, de dia 15 de setembro, vem o Padre Rui Gouveia, que é um dos vigários-gerais, foi meu reitor no seminário, por quem também tenho muito apreço, e, enfim, e é exemplo para a minha vida também, e ele vem fazer essa missa, ao meio-dia. Portanto, é a missa de tomada de posse do Padre Quintino. Depois, eu tomo posse, quer dizer, enfim, toma posse o pároco, sendo o Padre Luís Ferreira, e eu colaboro com ele como vigário paroquial, portanto, estamos em comunhão, e isso acontecerá no dia 28 de setembro, às 19 horas, no Faralhão, na Igreja do Faralhão, onde se associa também outra a nossa comunidade, das Praias do Sado.
Depois, no dia seguinte — continuo a ver isso com o Padre Luís, vemos isso em Comunhão, como em tudo —, havemos após ter uma apresentação minha, em São Paulo, porque aí ele já é pároco, portanto, eu seria apresentado, pronto, ele já é pároco há cinco anos. O que acontece no meio disto? Quando é que saio daqui? Saio no dia 15, porque, isto é, na Igreja é muito automático. A partir do momento que o Padre Quintino entra, eu caio, portanto, desaparece, já não há o administrador paroquial Padre José Raposo, e fique eu vacante (risos) faz de conta. Não sou Bispo, mas pronto, fico assim sem nada até dia 28, fico assim, só como Padre, sem nenhum compromisso direto, sem pelouro.
Venho depois fazer, com a autorização do Padre Quintino — as coisas funcionam assim, já não posso ser eu assumir — portanto, com a autorização do Padre Quintino, que já, na altura é pároco, venho fazer aqui uns casamentos e uns batismos no dia 21 de setembro, para alegria das pessoas, porque, cá está, no tal acolhimento, e para alegria minha também. Esses ainda faço. Isso acontece também porquê? Eu desligava logo, mas o Padre Quintino, para já me pediu que todos os casamentos e batismos que quisesse fazer, que viesse fazer. Conheço o Padre Quintino há muito tempo, tanto que somos amigos há muito tempo.
Mas eu é que não quero, porque, senão, não saio daqui, não é? Portanto, é para passar testemunho, vem ele, e eu vou para outra, que também é sempre bom. Portanto, virei dia 21 por causa disso, porque ele, entretanto, disse “olha, se tu não pudesses, eu seguraria, porque já sou pároco”, mas, podendo, ele vai fazer um casamento, um batizado que é fora, em Portugal, mas fora da zona da Diocese. Eu, entretanto, ainda faço esses casamentos e batismos.
Depois, sendo até muitos. Esse dia 21 é daqueles dias, em que, praticamente, não almoço, se Deus quiser, porque, que corre por gosto, não cansa. É o dia inteiro praticamente de coisas, acabam uns, começam outros. Alimento-me do Espírito Santo, e fico ainda mais alimentado para o dia. Nessa altura, a partir do dia 21, após fazer isso, é que saio mesmo. Depois, saio mesmo, depois devo ainda fazer uns batismos, dia 28 de manhã, pedirei isso ao Padre Quintino, porque preparo uns jovens e adultos, que querem mesmo se batizados ainda comigo, e também quero muito deixar o trabalho feito, deixar a missão comprida, batizar estes.
Senhor Padre, diga-me uma coisa, como vai, — e certamente já idealizou — o dia 15 de setembro, como vai ser?
Será difícil. Sou uma pessoa muito, muito emotiva, por isso acredito que, não sei, ou segurarei, conseguirei segurar, ou não conseguirei segurar, e chorarei naturalmente como qualquer pessoa. O homem é feito de risos e de choros, não há que ter medo dos sentimentos. Há que os acolher, no momento que eles aparecem.
Não sei como será, sei que será o tal agridoce. Por um lado, um respeito enorme por aqueles que o Senhor já destinou para mim, que já sabe quem são, eu não sei, mas Ele já sabe. Eu já lá celebrei algumas vezes, mas estou longe de saber. O acolhimento como Padre é diferente de ir lá celebrar uma missa, mas acredito muito, que o nosso Senhor vai-me dar pessoas de Deus, e as que não me der Deus, vão ser convertidas a Deus, e por isso terei uma missão de largar aquilo em que estou e abraçar o novo caminho, e procurar ser fiel, sempre ao nosso Senhor, naquilo que Ele me vai a dar. Por isso, vou a esperar encontrar ovelhas no redil, como aqui, mas também como aqui, muitas fora do redil, e são especialmente, ou ainda mais essas, com quem eu me tenho preocupado, porque são essas que ainda não estão lá e que desejam muito entrar, e que as não as deixaram em tempos. Não acredito que fosse com o Padre Cláudio, que é uma pessoa que eu também gosto muito e de quem sou muito amigo. Mas pessoas que, se calhar, ainda nem conhecem Deus, e são esses que também tenho que ir à procura.
Certamente que será uma honra, para o Senhor Padre, este último ato da Festa das Vindimas, porque tem sido o Senhor Padre, também, a fazer o Eucaristia, se me bem me lembro, da pisa da uva.
Foi no ano passado, sim.
É uma honra, também para si, acompanhar esta última Eucaristia, neste caso, a homilia da pisa da uva.
Sim, será uma honra ter cá o D. Américo, com certeza. Já o ano passado, estava para vir o Padre Lobato, o Administrador Diocesano e, portanto, ele era para ter vindo e, até, como já disse, vivíamos lá juntos na casa episcopal, e ele não pode vir. Mas mandou uma mensagem que li, bonita, pronto. Este ano, proporcionando-se nesta tal formiguinha do D. Américo andar por todo o lado, como dizia, e acho muito bem. Nós precisamos, de facto, porque a Igreja tem de ser visível, em especial na Cúpula, na pessoa dele, neste caso.
Portanto, um Bispo vai ao encontro de todos, muito bem, “todos todos todos”, como ele diz tanta vez e sublinha, e é o espírito do Papa Francisco, muito bem. Eu também sinto-me por aí e Deus me concede.
É uma grande alegria eu vir cá, não tenho a projeção nenhuma, antes por contrário. Terminar é a cereja em cima do bolo, terminar com a vinda do D. Américo. Ele já esteve aqui recentemente, a crismar cerca de 30 jovens e adultos, e foi também uma enorme alegria de vida.
Nós também estamos à vontade hoje, por acaso, e a conversa até está agradável. Antes de terminar esta entrevista, pedia-lhe, uma mensagem. Nada melhor do que perguntar: esperava que o Papa — voltando agora ao Papa Francisco, outra vez — também tivesse delineado, como era a sua morte?
Sim, na autenticidade do Papa Francisco, na verdade, que ele tem pela vida, também tem, na verdade, pela morte, porque ele acredita que a morte é o início da vida, da vida plena, da vida eterna. Por isso, na autenticidade dele, na maneira simples dele, e humilde e despojada, é natural que equacione, também, a sua morte e queira tê-la assim, desta forma, que apresentou tão transparente, tornado também, como também já havia alguns episódios da parte do D. Américo.
Falar da morte, em funerais e, concretamente, num ou noutro, numa ou noutra situação, acho bonito o convívio com a vida terrena e o convívio também com a preparação da vida eterna.
Uma mensagem.
A mensagem que tenho é muito simples: dou muitas graças a Deus por Deus me ter chamado a Palmela. Sinto que muita coisa ficou para fazer, não fui, com certeza, o Padre que as pessoas sonharam, porque não, porque é mesmo assim. Nós não agradamos a todos e peço desculpa aos palmelões e a outros que não são Palmelões e que, também, cá estão. A este povo, aqueles que foram à Igreja nestes tempos, aqueles que não foram, aqueles que abriram a janela para ver passar a procissão, aqueles que abriram a porta, aqueles que nem isso fizeram, mas que tinham Deus no coração.
Fui Padre para todos e é assim que também é ser para todos, para onde vou e para onde ser for, para onde Deus me chamar.
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