O que leva um jovem a correr riscos desnecessários?
O que poderá pensar um jovem para praticar atos perigosos.

O recente incidente na Estação Ferroviária de Penalva, em que um jovem caiu de uma escada rolante, levanta questões importantes sobre o comportamento de risco na juventude. A tendência para envolver-se em atividades perigosas, muitas vezes sem pensar nas consequências, não é um fenómeno novo, mas a sua visibilidade e frequência parecem estar a aumentar, especialmente em tempos de redes sociais. No entanto, além dos fatores superficiais de pressão social e busca de atenção, há dinâmicas psicológicas mais profundas que explicam por que tantos jovens se sentem compelidos a desafiar os limites da segurança.
Do ponto de vista psicológico, uma das explicações mais aceites é o desenvolvimento do cérebro durante a adolescência e início da idade adulta. O córtex pré-frontal, a parte do cérebro responsável pelo planeamento, julgamento e controlo dos impulsos, está ainda em desenvolvimento até aos 25 anos. Este facto faz com que muitos jovens tenham dificuldade em avaliar corretamente os riscos das suas ações. Simultaneamente, o sistema límbico, que governa as emoções e os impulsos, está em plena atividade, incentivando-os a buscar sensações intensas e gratificação imediata. Esta combinação cria um cenário perigoso: alta procura por adrenalina e baixa capacidade para pesar as consequências.
Outro aspeto relevante é a busca de identidade e autonomia. Na fase da adolescência, os jovens estão num processo constante de autodescoberta e definição de identidade. Muitas vezes, as atividades de risco servem como uma forma de autoafirmação. É uma maneira de mostrar independência, de testar os seus próprios limites e, de certa forma, desafiar a autoridade, seja dos pais, das instituições ou da sociedade em geral. Neste contexto, o incidente na Estação de Penalva pode ser visto não apenas como uma ação impulsiva, mas como um reflexo de um desejo mais profundo de se destacar, de quebrar normas e de se afirmar num mundo que continua a tentar compreender.
A pressão dos pares também desempenha um papel central. Não podemos ignorar o poder da influência social sobre as decisões dos jovens. A necessidade de aceitação num grupo é uma força extremamente poderosa, e muitos jovens sentem que precisam participar em comportamentos arriscados para ganhar o respeito ou a admiração dos seus amigos. Este efeito é amplificado pelas redes sociais, onde os atos de risco podem ser gravados, partilhados e, em muitos casos, celebrados mediante “gostos” e “partilhas”. O simples facto de ser visto como corajoso ou destemido pode levar um jovem a arriscar-se de formas que, em condições normais, ele nunca consideraria.
No entanto, há também uma componente emocional significativa por trás deste comportamento. Muitos jovens estão a lidar com altos níveis de ‘stress’, ansiedade e, em alguns casos, depressão. Atividades arriscadas podem ser uma forma de fuga, uma maneira de lidar com as emoções avassaladoras. O sentimento de “vazio” emocional, comum em muitos adolescentes, pode ser temporariamente preenchido pela excitação e adrenalina que uma situação perigosa proporciona. Este “escape” emocional, por mais breve que seja, oferece uma sensação de controle ou alívio, mesmo que seja ilusória e de curta duração.
Além disso, temos de considerar o impacto do ambiente familiar e social. Jovens que crescem em lares ou comunidades onde a comunicação é limitada, ou onde existem expectativas de desempenho elevadas, podem sentir-se pressionados a libertar-se dessas tensões mediante comportamentos de risco. Em muitos casos, a ausência de uma orientação parental consistente ou a presença de ambientes disfuncionais pode levar os jovens a procurar validação, ou alívio de formas prejudiciais. Mesmo em famílias estáveis, a falta de um diálogo aberto sobre os perigos pode criar uma desconexão entre pais e filhos, onde os jovens sentem que estão sozinhos na sua busca por respostas.
Do ponto de vista da prevenção, é essencial que a sociedade compreenda estas camadas psicológicas e emocionais que influenciam os comportamentos de risco. A educação, tanto nas escolas como nas famílias, deve focar-se não apenas nos perigos físicos, mas também nos impulsos emocionais e nas pressões sociais que levam os jovens a agir de forma imprudente. Proporcionar espaços de diálogo onde os jovens possam expressar as suas emoções, ansiedades e desejos sem julgamento é crucial.
Os eventos como o da Estação de Penalva são um lembrete de que, por trás de cada comportamento arriscado, existe uma combinação complexa de fatores psicológicos, emocionais e sociais. Se não aprofundarmos o nosso entendimento sobre o que motiva estes comportamentos, continuaremos a ver jovens a pôr as suas vidas em risco, muitas vezes sem perceberem o verdadeiro preço das suas ações.
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