Caríssimos(as) leitores(as) neste dia trago-vos a minha apreciação do 25 de Novembro. E gostaria de vos descrever aquilo que vi e senti na secção solene na Assembleia da República.
Já há um tempo que escrevo artigos de opinião na área da política, mas nunca tinha entrado na Assembleia da República.
E esta sessão solene de comemoração do 25 de Novembro de 1975 apenas tivemos que esperar 49 anos para finalmente vermos este dia comemorado. A verdade é que ao contrário do 25 de Abril esta data não é consensual no meio da classe política. E muito em particular do lado da esquerda o PCP não a tolera tanto que nem sequer compareceu nesta secção plenária.
A sessão começou com a declaração de abertura por parte do deputado e presidente da Assembleia da República José Pedro Aguiar Branco.
Logo de seguida foi dada a palavra aos partidos políticos começando pelo partido com menor representação parlamentar.
PAN
Os discursos começaram pela deputada Inês Sousa Real pelo partido PAN. Que optou por lembrar Celeste Caeiro como sendo a figura que permitiu o 25 de Abril. Como se o acto de distribuir cravos fosse o acto que permitiu a democracia.
O discurso falou de trincheiras políticas do passado e do presente. E do uso desta data para ajustes de contas políticos com a história.
Mas também decidiu falar dos direitos das pessoas LGBT e não só que deixaram de ser consensuais e passaram a ser rotulados como marxismo cultural e wokismo.
Muito sinceramente, acho que cada um pode identificar-se como homem ou mulher. Desde que os meus impostos não sirvam para pagar operações de mudança de sexo. O dinheiro dos meus impostos pode e deve ter melhor serventia.
Salva-se o discurso pela lembrança do dia mundial para a erradicação de violência doméstica.
CDS-PP
O deputado Paulo Núncio no seu discurso lembrou que o 25 de Abril abriu o caminho da democracia e o 25 de Novembro evitou o desvio para uma ditadura de pendor comunista. Referiu também que o momento que hoje se celebra é também o “direito de todas as forças políticas estarem presentes na AR por vontade do povo mesmo aquelas forças políticas que decidiram não estarem aqui hoje na secção solene do 25 de Novembro. O CDS já defende desde 2000 a celebração desta data.
Sem o 25 de Novembro não haveria liberdade de opinião; de imprensa; económica. E foi o fim do regresso das prisões políticas.
E saudou o Sr. Gen. Ramalho Eanes que se encontrava presente nas galerias mas também os já falecidos Gen Pires Veloso e o Major Gen. Jaime Neves cujos os familiares estiveram também presentes na secção comemorativa. Lembrando que os portugueses a nação e a assembleia da republica lhes devem muito.Bem como o regimento de comandos que também marcaram presença nestas comemorações.
Bem como os dois militares que tombaram nesse dia na calçada da Ajuda. O Ten. José Coimbra e o Furriel miliciano Joaquim Pires.
Agradeceu também o sentido de missão e o patriotismo dizendo que o país nunca o esquecerá.
Terminou com o discurso dizendo que a ausência de alguns não afecta as celebrações pois os ausentes são aqueles que nunca acreditaram na democracia.
Recordou também os democratas que resistiram Sá Carneiro; Freitas do Amaral e Mário Soares, o que arrancou uma salva de palmas por parte dos deputados do PS.
Em especial quando se referiu ao comício da fonte luminosa. Pena é que Adelino Amaro da Costa tenha sido propositadamente omitido. Pena mas se calhar é sintomático de muita coisa. LIVRE
A deputada Filipa Pinto que na sua intervenção por saudar em particular o Sr. Gen. Ramalho Eanes. E seguiu separando as águas dizendo que uma coisa é ter respeito pelo 25 de Novembro outra coisa muito diferente é ter respeito pelo que estão a querer fazer com esta mesma data. Acusando alguns de desrespeito com o espírito do 25 de Novembro e do 25 de Abril. Dizendo que o 25 de Novembro não pode ser uma arma de arremesso. Que a guerra civil foi evitada não pelos herdeiros do fascismo mas sim pela mão de quem nos trouxe a liberdade.
Que o caminho para a democracia foi trilhado pela esquerda democrática e pluralista e não pela direita.
A deputada falou também da violência doméstica que já matou este ano 25 mulheres e o ano ainda não terminou.
Durante o discurso isto porque a televisão se foca em quem está no púlpito não é visível quem faz os apupos e os apartes como aqueles alunos que se sentam no fundo da sala de aula. Mas os deputados do CHEGA prestaram-se a esse papel de meninos mal-criados.
BLOCO DE ESQUERDA
Pelo BE veio falar a deputada Joana Mortágua. Que foi a representação solitária do BE nesta secção solene. Talvez porque o BE não queria dar parte fraca e mandou alguém a quem deve ter saído o palito mais curto. Afinal o BE é o herdeiro das ideias da extrema-esquerda radical do período do PREC e do verão quente. Afinal os Trotskistas e Maoistas também não vivem bem com o 25 de Nov. Claro que os ânimos não estavam serenos antes da mesma discursar. A mesma começa logo por afirmar que a liberdade e o pluralismo político se devem ao 25 de Abril e não ao 25 de Novembro. Que querer celebrar o mesmo é uma manobra dos derrotados de Abril. A celebração do 25 de Nov. é apenas uma forma de esvaziar o espírito revolucionário de Abril. Que pintar 25 de Abril como uma suposta conquista da democracia formal. É uma tentativa de esvaziar o conteúdo revolucionário e popular do 25 de Abril. E é pintar o processo revolucionário como um desvio das supostas intenções de Abril. Mais uma vez aqui se nota que a esquerda radical convive muito mal com o 25 de Novembro. Quando Joana Mortágua afirma que durante 49 anos ninguém ousou perturbar a saudável inexistência de celebrações do 25 de Novembro. E acusa o PSD de cedência às pretensões da extrema-direita. E afirmou que esta secção e as próximas serão lembradas como momentos folclóricos e bizarros da democracia portuguesa. E expressou o desejo de voltar a haver uma nova maioria de esquerda que irá deixar de comemorar esta data.
Na minha opinião é pena que a nossa extrema-esquerda não consiga conviver com a democracia e com o respeito pelo voto do povo. Porque o voto do povo só conta para a esquerda quando os coloca no poder.
A citação final “viva o socialismo; fascismo nunca mais; viva a revolução; 25 de Abril Sempre”. No fundo percebe-se que os órfãos do pacto de Varsóvia não aceitam jogar o jogo democrático. Mas tiveram as palmas do PS. Engraçado que foi o discurso mais revisionista e revanchista que vi e ouvi. Quase tive a impressão que se Joana Mortágua tivesse que morder um limão o mesmo é que iria fazer a careta,
IL
Pela Iniciativa Liberal o deputado Rui Rocha fez na minha opinião um dos melhores discursos pela positiva em contraste absoluto com o do BE. Que começa logo com a frase “FELIZ 25 DE NOVEMBRO”. Falou sobre haver gente que não queria que esta data fosse celebrada por não ser consensual. Mas contrapôs com o facto de tanto Ramalho Eanes como Mário Soares não terem procurado consensos quando tiveram que tomar posição. O 25 de Novembro não é consensual por ter derrotado na rua a deriva totalitária que já havia sido derrotada nas eleições da constituinte. Derrotou as prisões arbitrárias; a perseguição da imprensa livre; O COPCON e outros desmandos. Mas também terminou com a ameaça da guerra civil.
O 25 de Novembro deve ser celebrado pois os democratas não se devem calar e ceder ao reescrever da história em favor da extrema-esquerda para os fazer parecer vencedores quando foi o contrário.
O discurso continuou com o lembrar que tentaram que a IL não pudesse celebrar o 25 de Abril na avenida da Liberdade marchando como os outros partidos.
O discurso termina com: “Fascismo e Comunismo nunca mais”
CHEGA
Aqui claro que a palavra foi dada ao deputado André Ventura presidente do partido CHEGA e neste momento o seu melhor tribuno.
Que começou por usar uma frase do Gen Ramalho Eanes. “Abril ofereceu-nos a liberdade, mas esqueceu-se de criar cidadãos”. E aproveitou o momento para a saudação ao Sr Gen. ali presente. Passou à critica do tempo do PREC.
Mas também lembrou o Major General Jaime Neves e o Regimento de Comandos do passado e actualidade. A quem André Ventura afirmou dever a democracia agradeceu a existência da mesma.
Dai derivou para a ameaça da emigração descontrolada. E dizendo que há violência contra as mulheres cometida por emigrantes. E também falou sobre os últimos casos de insegurança cometidos nos bairros sociais. E a preferência do CHEGA de estar ao lado das forças policiais contra a “bandidagem”. Neste momento a bancada do PS ficou quase vazia à excepção de 3 deputados. Nas imagens televisivas que acompanham este artigo este facto é omitido. Não percebi porquê provavelmente é a edição da ARTV embora aqui tenham o selo da Radio Renascença. Daí saltou para a bandeira do combate à corrupção que diz que tem que ser limpa “doa a quem doer”. Voltou a citar Ramalho Eanes quando disse que criamos uma democracia elitista onde o cidadão não consegue ter uma palavra a dizer. Também citou as famílias dos ex-combatentes que ajudaram a criar o país que somos hoje. Criticou o parlamento por estar preocupado em aumentar os políticos em vez de dar dignidade aos ex-combatentes e aos ex-retornados. Convinha lembrar neste caso o deputado André Ventura que não existem ex-retornados ou retornados. Muitas destas pessoas nasceram naquilo que se chamava o Portugal Ultramarino ou ex-colónias conforme cada um preferir. Sim eles não retornaram de lado nenhum eles foram isso sim expatriados da terra onde nasceram. Ao terminar decidiu dizer que não é com meras cerimónias que já nada dizem que se vai resolver o problema dos portugueses.
Citou por fim Jaime Neves “Na guerra quando nos mandavam limpar nós limpávamos tudo”. E continuou já começamos e vamos continuar.
Vamos ver que espécie de “limpeza” se refere o deputado André Ventura. Cujos discursos por vezes inflamados e entusiásticos se prestam a muitas interpretações políticas. Como não sou adivinho nem me apetece fazer processos de intenções vou aguardar para ver. Eu com o CHEGA habituei-me a fazer um desconto entre o que se diz e a realidade.
PS
Pelo em representação do PS veio o deputado Pedro Delgado Alves que depois dos cumprimentos começou por citar Mário Soares. E voltou a lembrar que esta cerimónia deve ser um exercício serio de concórdia e democracia. Que se deve evitar o reescrever da História para conseguir ganhos políticos efémeros. E que prosseguir outro caminho é desrespeitar a memória de quem se bateu pela democracia nesta data. Falou também de 26 de Novembro o documento dos 9. Também saudou o Gen. Ramalho Eanes e o Gen. Costa Gomes. Recordou também os acontecimentos desses tempos. Mas também puxou pelos pergaminhos do PS nesse dia e na implementação da democracia. Mas o PS assume ter votado contra esta cerimónia por ser de menor importância histórico-democrática. O discurso continuou com a citação de vários poetas de Abril e em Particular Manuel Alegre com a citação de um dos seus poemas. Não poderia deixar de ser pois o mesmo é militante do PS e também ex-deputado deste partido.
PSD
Pelo PSD veio o deputado Miguel Guimarães também ex-bastonário da ordem dos médicos. Durante o seu discurso falou que o 25 de Novembro deve ser uma data de união e concórdia. E a vitoria dos moderados sobre o extremismo. E que nos livrou de uma ditadura de inspiração soviética. Falou também para os que voluntariamente estiveram ausentes e que fazem mal pois a democracia só se exerce com total liberdade de escolha. Mas pedir ao PCP que venha juntar-se aos vencedores da democracia parlamentar burguesa. É na minha opinião esticar a corda. Mesmo que no discurso se diga que festejar o 25 De Novembro não serve para apoucar ninguém. Continuou com o lembrar de Ramalho Eanes; Mário Soares; Mello Antunes e o Grupo dos 9 e Jaime Neves. O discurso foi muito semelhante ao do PS com a visão do PSD. Sem muito mais digno de nota.
PRESIDENTES DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA E DA REPÚBLICA
Eu aqui vou tentar resumir os dois. Começando pelo presidente da AR José Pedro Aguiar Branco. Que fez o resumo das conquistas do 25 de Abril consolidadas com a liberdade do 25 de Novembro. Sobre o PREC e os atentados e as perseguições políticas da época. Lembrou que avançamos no debate democrático e no respeito pela diferença. Esta é a conquista de 25 de Novembro. Lembrou também Mário Soares e Francisco Sá Carneiro. No caso de Soares recuperou o slogan. “Soares é fixe”. E falou no papel reconquistado na vida política pelo parlamento.
O presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa. Entrou num discurso por um lado professoral e até maçudo. Mas que revisita os momentos. Convém lembrar que Marcelo Rebelo de Sousa também foi deputado da constituinte.
Marcelo lembrou que não há qualquer contradição entre celebrar o 25 de Abril e o 25 de Novembro. Que foi sempre celebrado pelas Forças Armadas até 1988. Que as conjunturas vão lançando olhares diferentes sobre a História. Aqui Marcelo afirmou que a História faz-se dia-após-dia tal como se reescreve. Neste Ponto Marcelo Rebelo de Sousa mete o pé na argola. Isto porque a História é feita de factos. E os factos podem ser vistos de vários prismas mas não devem ser adulterados à medida do gosto do freguês. Não quero nem vou permitir entrar uma distopia orwelliana que muitos nos querem vender. Ou no revisionismo histórico muito protagonizado pelo historiador Francisco Rosas militante do BE onde para além do movimento de auto-flagelação em relação à nossa História.
CONCLUSÃO
O 25 de Novembro aconteceu não há volta a dar. Deve ser celebrado como o recentrar do caminho democrático em Portugal. Que a esquerda-radical viva mal com essa data para mim é algo que não me chateia. Azar o deles. Só me conseguem divertir. Mas também é preciso lembrar que não foi a actual direita populista que contribuiu nada para o 25 de Novembro. E portanto é escusado avocarem para si a paternidade desta data. Ou usarem a mesma para fazer o jogo político ou ajustes com a história. Até porque é uma falta de respeito para com os que à data deram literalmente o peito às balas. Venceu a democracia nesse dia. Perderam o PCP e os seus braços armados, e respectivos aliados nomeadamente os antepassados do BE (a UDP por exemplo). Foi engraçado ver Joana Mortágua sozinha na bancada a brincar com um cravo. Enquanto fazia poses mais ou menos sensuais para que quem da imprensa estava nas galerias reparasse nela. Quase diria que se estava a fazer ao boneco. Mal comparada a situação fez-me lembrar o já famoso “emplastro”.
Para fazer este artigo desloquei-me à AR pela primeira vez e até dividi o elevador com alguns antigos militares do regimento de Comandos da Amadora. O que para mim foi uma honra. Pude à saída cumprimentar também o ex presidente do CDS Manuel Monteiro um daqueles poucos políticos deste pais com espinha dorsal e convicções gostemos nós delas ou não. A verdade é que com a sua saída o CDS mudou bastante no consulado de Paulo Portas e a partir daí foi sempre a cair. Hoje é um partido que foi reabilitado para ser um apêndice do PSD.
Não posso terminar este artigo já bastante longo sem deixar uma palavra de profundo agradecimento em meu nome e também do DIÁRIO DO DISTRITO aos funcionários da Assembleia da República pela forma simpática e gentil com que me receberam um estreante nestas idas à AR.
Samuel Marques, Chefe de Máquinas Marítimas
(artigo escrito com a grafia pré-acordo ortográfico)
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