Atualidade

Novo bispo de Leiria-Fátima defende que a Igreja “vive num tempo novo”

O novo bispo falou aos fiéis de Leiria-Fátima.

O novo bispo de Leiria-Fátima, José Ornelas, defendeu hoje que, apesar de muitos acharem que “a Igreja envelheceu, que não tem futuro”, se “vive num tempo novo e com antigos e novos desafios”.

“Chego hoje aqui, vindo da Igreja de Setúbal, que saúdo com muita amizade no Coração do Senhor, pois a trago também no coração e numa sentida saudade que ficará para a vida”, disse José Ornelas na homilia da missa de posse, na tarde de hoje, na Sé de Leiria.

O bispo, que é também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), sublinhou, perante muitos membros do episcopado português, o clero da diocese e muitos fiéis, que chega à sua nova diocese “com muita liberdade, disponibilidade e esperança”.

“Não trago agenda nem programa feitos e peço, antes de mais, que me aceiteis em nome do Senhor. Eu também começarei por aceitar e inserir-me na vida que está em curso nesta Igreja. Convosco, aprenderei a ser desta Igreja e destas terras, cidades e gentes de Leiria, sob o exemplo e inspiração de Maria, Mãe da Igreja que, em Fátima, nos veio mostrar o carinho de Deus, em tempos de guerra, de pandemia e aflição, como hoje, num diálogo simples e materno com três crianças”, afirmou o anterior bispo da diocese de Setúbal.

José Ornelas, que substitui como bispo de Leiria-Fátima o cardeal António Marto, que pediu a resignação quando está prestes a atingir os 75 anos de idade, assegurou que chega com um sonho.

“É aquele para o qual o Papa Francisco convocou toda a Igreja em processo sinodal: a reunião de irmãos e irmãs, que se colocam à escuta da Palavra de Deus e do seu Espírito, para formarem uma Igreja em comunhão apesar da diversidade dos que a compõem; uma Igreja de participação ativa de todos, segundo os carismas e funções de cada um; uma Igreja em saída missionária, próxima dos mais fragilizados e excluídos da terra, acolhedora do estrangeiro e do que é diferente, como sinal e laboratório de um mundo melhor”, afirmou.

Na ocasião, o prelado manifestou “admiração e grata estima” pelo cardeal António Marto, saudando também o bispo emérito de Leiria-Fátima, Serafim Ferreira e Silva, e os bispos eméritos que vivem na diocese, Augusto César e António Vitalino Dantas.

Os padres, seminaristas, religiosos e religiosas da diocese mereceram também um cumprimento especial do bispo, que deixou ainda uma palavra aos jovens, “que são objeto de especial atenção e carinho, tanto por parte das famílias como da Mãe-Igreja”.

“Não vos deixeis ficar apenas como observadores da construção da nossa comunidade diocesana. O percurso sinodal em que estamos empenhados e a Jornada Mundial da Juventude que estamos a preparar são ocasiões de participação ativa que não podeis perder. A Igreja conta convosco na primeira linha desta festa Universal a vós especialmente dedicada”, disse José Ornelas. “Não fiqueis a ver passar a procissão, levem o andor”, exortou.

Em dia em que se assinalam os nove anos de pontificado do Papa Francisco, José Ornelas aproveitou a presença do Núncio Apostólico, Ivo Scapolo, para lhe pedir que transmita ao pontífice os “sentimentos de comunhão, de apreço e de estima pelo seu ministério de fidelidade ao Evangelho e à tradição dos Apóstolos, guiado pela escuta do Espírito que, hoje como no passado, renova a Sua Igreja”.

Na ocasião, e com a ministra da Justiça e o secretário de Estado da Saúde na assembleia, José Ornelas defendeu que, “inserida na Igreja em Portugal, a Igreja de Leiria-Fátima não pode ficar fechada em si mesma, mas é chamada a estar em constante diálogo e serviço à sociedade, na busca de caminhos de compreensão, de estudo e construção de um futuro viável e em paz para o nosso planeta e para todos os que o habitam”.

“Quero sublinhar a satisfação pelo significado da sua presença [de Francisca Van Dunem e António Sales] e a importância de vivermos num país que sabe reconhecer a liberdade dos seus cidadãos e a importância da expressão privada e pública das suas opções espirituais e religiosas”, afirmou.

Por último, e numa homilia que foi muito dedicada à saudação das diferentes entidades, o novo bispo de Leiria-Fátima deixou uma palavra às forças de defesa e segurança presentes na diocese, “bem como das instituições sociais, de proteção civil e dos bombeiros que, juntamente com o admirável esforço e dedicação das pessoas que dão vida aos serviços de saúde, foram e são protagonistas fundamentais nas crises da pandemia, dos incêndios e outras emergências que martirizaram o país e a região”.

Conhecer as pessoas e a realidade locais é a prioridade do novo bispo de Leiria-Fátima

D. José Ornelas traçou como prioridade à frente da diocese “conhecer as pessoas e a realidade” locais, reconhecendo que conhece alguma coisa de Fátima, mas não o suficiente.

Depois de, na homilia desta tarde, na Sé de Leiria, ter afirmado que chega sem “agenda” e sem “programa feito”, D. José Ornelas disse aos jornalistas que tem “um sonho e dos sonhos fazem-se os planos, e dos planos fazem-se os projetos e depois os programas”.

“É isso que é preciso fazer. Mas também é preciso ter em conta que eu não venho para uma diocese apagar fogos”, disse o também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), acrescentando que Leiria-Fátima é “uma diocese que está trabalhando, está realizando o seu trabalho” e ele vem inserir-se “naquilo que já está acontecendo”.

Na ocasião, o anterior bispo de Setúbal sublinhou que, do que conhece, o fascina a história da diocese de Leiria-Fátima e deixou a convicção da necessidade de “escutar a voz de Deus”.

“Mas Deus fala pelos outros e, portanto, se nos escutássemos um bocado mais no mundo inteiro faríamos melhor. Depois, quando falamos, é quando pomos em prática as coisas”, disse José Ornelas, caracterizando o que vai ser a sua ação na diocese nos primeiros meses.

O anúncio da nomeação

Na mensagem que dirigiu aos fiéis da sua nova diocese quando foi conhecida a sua nomeação, no final de janeiro, o também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) afirmou assumir “com gratidão e como desafio a herança de pastor” deixada pelo cardeal António Marto, ao mesmo tempo que exortou a que, juntos, procurem “escutar o chamamento de Deus a toda a Igreja, convocada para um caminho sinodal de escuta, comunhão participada e missão”.

José Ornelas, de 68 anos, foi nomeado bispo de Setúbal em 24 de agosto de 2015, substituindo no cargo Gilberto Canavarro dos Reis, e é presidente da CEP desde 16 de junho de 2020.

Natural do Porto da Cruz, na ilha da Madeira, onde nasceu em 05 de janeiro de 1954, fez o seu percurso religioso na Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos) e foi ordenado padre em 09 de agosto de 1981.

Foi superior da Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus, cargo que assumiu em 01 de julho de 2000, tendo sido eleito superior geral dos Dehonianos em 27 de maio de 2003, cargo que ocupou até 06 de junho de Especialista em Ciências Bíblicas, doutorado em Teologia Bíblica pela Universidade Católica Portuguesa, José Ornelas chegou a fazer formação missionária em Moçambique.

Quanto ao cardeal António Marto, quase a completar 75 anos, nasceu em Tronco, Chaves, em 05 de maio de 1947, estudou nos seminários de Vila Real e Maior do Porto, e foi ordenado padre em Roma, em 07 de novembro de 1971.

Especializado em Teologia Sistemática, na Pontifícia Universidade Gregoriana, concluiu o doutoramento em 1977 com tese sobre “Esperança cristã e futuro do homem. Doutrina escatológica do Concílio Vaticano II”.

Depois de ter dado aulas no Seminário Maior do Porto e na Universidade Católica, foi nomeado bispo auxiliar de Braga em 10 de novembro de 2000 (a ordenação episcopal decorreu em Vila Real, em 11 de fevereiro de 2001), depois bispo de Viseu, em 22 de abril de 2004, e bispo de Leiria-Fátima, em 22 de abril de 2006.

Como titular da diocese de Leiria-Fátima, recebeu no Santuário da Cova da Iria os papas Bento XVI, em 2010, e Francisco, em 2017, no âmbito do Centenário das Aparições de Fátima e da canonização dos videntes Francisco e Jacinta Marto.

António Marto despediu-se dos diocesanos no domingo passado, lembrando que os cristãos “têm muito a fazer” neste mundo, como trabalhar pela “paz, pela reconciliação e pelo perdão entre povos”.

“Nem só de pão, de trabalho, economia e finanças vive o homem; também vive do encontro, do perdão e da paz. Não somos algoritmos”, afirmou o cardeal, que sublinhou a colaboração que recebeu durante o tempo em que esteve à frente da diocese de Leiria-Fátima.

“Um bispo não está sozinho. Muito do que alcancei é fruto da colaboração de sacerdotes, de leigos, de pessoas que comigo trabalharam”, disse, acrescentando que levará “a terna imagem de Nossa Senhora de Fátima, querida e terna mãe, bem como a dos queridos santos Pastorinhos, que tão presentes têm estado” na sua vida.

A assinalar o final da sua missão à frente da diocese de Leiria-Fátima foi lançado o livro “Cardeal D. António Marto: Teólogo e Pastor”, que reúne textos publicados ao longo de 16 anos de episcopado.


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