Mega-central solar gera polémica em Alcácer do Sal: GEOTA exige travão imediato
Projeto de 600 megawatts com mais de um milhão de painéis solares está em consulta pública, mas ambientalistas denunciam violação de área protegida da Rede Natura 2000.

O GEOTA — Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente — lançou duras críticas à localização proposta para a instalação do Complexo Solar Fotovoltaico do Sado, em Alcácer do Sal, exigindo o cancelamento do projeto antes mesmo da realização do Estudo de Impacto Ambiental. A associação alerta para o “impacto irreversível” sobre ‘habitats’ protegidos, apelando a uma reavaliação urgente da política energética nacional.
Em causa está um megaprojeto de 600 megawatts, que prevê a instalação de mais de um milhão de painéis solares numa zona classificada como área protegida da Rede Natura 2000, mais precisamente na Zona Especial de Conservação da Comporta/Galé, no litoral alentejano. A proposta, atualmente em consulta pública até ao dia 11 de junho, gera forte contestação por parte de ambientalistas e investigadores.
Segundo o GEOTA, o avanço deste tipo de infraestruturas em territórios de alto valor ecológico, como o montado de sobro e azinho, compromete gravemente espécies protegidas, linhas de água, solos e ecossistemas vulneráveis. “Este é o exemplo claro do que não pode ser feito em nome da transição energética”, afirmou Miguel Macias Sequeira, vice-presidente do GEOTA e investigador no CENSE-NOVA FCT.
O responsável considera que o projeto “colide frontalmente com os compromissos assumidos por Portugal no âmbito da conservação da natureza”, nomeadamente a proteção de 30% do território nacional e o desenvolvimento do Plano de Restauro da Natureza. “Avançar com uma central solar desta dimensão numa área classificada seria um grave retrocesso”, defende Sequeira.
O GEOTA sublinha ainda o contexto de pressão acumulada sobre o território do litoral alentejano, recordando que a região tem sido sucessivamente ocupada por empreendimentos turísticos, agrícolas intensivos e explorações mineiras, com efeitos já visíveis sobre a disponibilidade de água e a resiliência das comunidades locais. “Este projeto acentua uma tendência insustentável de sobrecarga e artificialização”, alerta a associação.
Caso o projeto avance para fase de Estudo de Impacto Ambiental, o grupo ambientalista exige a imposição de medidas vinculativas e mensuráveis de mitigação, incluindo: plano de monitorização ambiental a longo prazo; partilha de benefícios com as comunidades locais; criação de comunidades de energia renovável geridas localmente com apoio técnico e financeiro do promotor; compatibilização da ocupação do solo com atividades agrícolas e pastoris.
Para o GEOTA, uma transição energética justa “não se faz à custa da natureza” nem à revelia das populações. “Este projeto, tal como está, falha em todos os critérios de justiça ambiental, social e ecológica”, conclui Miguel Macias Sequeira, deixando um apelo claro ao Governo: que trace uma estratégia coerente e responsável para o ordenamento do território e para o futuro das energias renováveis em Portugal.
A consulta pública termina esta terça-feira, dia 11 de junho, e promete manter aceso o debate sobre os limites da sustentabilidade na expansão energética.
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