Maria Manuel Gomes: “Vivemos num verdadeiro paraíso”
Em conversa com o Diário do Distrito, Maria Manuel Gomes, em funções desde 2017, fez o retrato da freguesia que é um “paraíso” para se viver, com atividades e animação ao longo de todo e um contacto muito próximo com o associativismo.

A Freguesia do Castelo, localizada em Sesimbra, conta com cerca de 18 mil eleitores e 20 mil habitantes, conforme os censos de 2021. É a maior freguesia de Sesimbra, com quase 180 mil km², e a segunda em dimensão populacional. Banhada pelo sol e com boas praias, cada vez mais pessoas procuram a freguesia como segunda habitação.
Quais foram transformações mais importantes, recentemente, para a Freguesia do Castelo?
No primeiro mandato, governámos apenas dois anos fora da pandemia. Tivemos de nos adaptar ao ‘online’, a chegar às pessoas, e a garantir o essencial como alimentos, higiene e segurança, entre outros. Trabalhei todos os dias durante a pandemia. Foi um grande processo de aprendizagem,
Agora, uma das maiores mudanças no Castelo foi a afluência de imigrantes, de várias partes do mundo e de diferentes classes sociais, nomeadamente após a pandemia, assim como de pessoas à procura de segunda habitação.
Foi até criada uma associação francófona, recentemente. Muitos dos imigrantes que temos são portugueses que viveram de França, Suíça, Luxemburgo, Bélgica, e até de Itália, que agora são residentes e eleitores.
Já em termos estruturais, a freguesia não mudou muito, continua maioritariamente rural e voltada para o turismo. Temos sol o ano todo, qualidade de vida e praias, e as pessoas gostam de cá estar. A procura pela freguesia aumentou muito e, apesar das dificuldades, como o lixo ou a limpeza dos terrenos, uma questão comum entre concelhos, vivemos num verdadeiro paraíso.
Foi eleita em 2017, há 7 anos atrás, qual é uma necessidade da freguesia que ainda falta cumprir?
Temos um plano de atividades vasto, com muitas feiras, congressos, e vários projetos culturais a caminho, e sinto falta de um auditório. Temos utilizado o Cineteatro de Sesimbra, uma igreja local e os espaços das associações, mas um auditório também seria útil. Estava previsto no PRR um auditório para 250 pessoas no Parque Augusto Pólvora. Seria a única coisa que faltaria à freguesia, mas não é por isso que não realizei, ou vou continuar a realizar eventos.
Um pavilhão para feiras poderia ser bom, mas ainda este ano organizámos a feira de Natal ao ar livre, que foi um grande sucesso. Trabalhei muitos anos na Câmara e sei que há outras despesas prioritárias. Muitas vezes temos de ser nós a resolver as coisas de forma prática e rápida, através da colaboração entre as associações, a junta e a Câmara. Não sou de reclamar, faço com o que tenho. E tudo o que queria fazer, já fizemos.
Como avalia a sua relação com o Presidente da Câmara?
É ótima. Quando discordo, digo. Sempre o fiz, mesmo quando era funcionária pública. A minha relação com o Francisco Jesus seria igual se fosse outro presidente de outro partido. Devemos sempre conversar independentemente das ideologias.
Claro que nem sempre se mostra o jogo todo, mas devemos sempre dialogar. Dizem que sou uma das presidentes mais chatas, porque sou exigente.
Mas há investimentos que sei que não são possíveis, e por isso uso os recursos que tenho. Às vezes parece que, quando chega o plano plurianual, que eu não investi. Investimos, mas fizemos muitas coisas usando apenas os meios da Junta, poupando dinheiro da Câmara.
A parceria entre a junta e a Câmara é boa, e com as restantes freguesias?
Com Santiago, a relação é mais próxima, até organizamos eventos em conjunto.
Com a Quinta do Conde, devido à distância, há menos contacto, mas dou-me bem com o presidente.

Sente que a freguesia da Quinta do Conde está à parte?
Prefiro responder de outra forma: se tens três irmãos e a tua mãe dá mais atenção a eles, o que fazes? Lutas por atenção ou afastas-te? Eu luto. Mesmo que a Câmara não fosse do meu partido, faria o mesmo. Não fico a reclamar, faço o que posso com os meios que tenho.
Nós estavamos à espera desde 2019 para requalificar o relvado do campo de jogos, que é muito utilizado pelas escolas. A junta até chegou a retirar o relvado. A Câmara acabou por substituir, no ano passado, o relvado, mas nós ponderámos pintar por cima do cimento.
Eu nunca fui de me encostar, de estar-me a queixar. Não se pode desistir e culpar os outros.
E nas áreas da educação e da saúde, que são responsabilidade do Governo e da Autarquia, as necessidades da freguesia são cumpridas?
A nossa USF está num local de difícil acesso, e pedimos a sua mudança para uma zona mais acessível. Foi a única reivindicação que fizemos.
Sobre a educação, eu andei na Escola Secundária de Sampaio na sua abertura, em 1986. A competência das escolas do secundário passou recentemente para a Câmara, que tem feito o que pode, mas, até hoje, nunca tinha havido investimento por parte do Estado Central.
Convém perceber que as câmaras não são um bicho-papão. A Câmara faz os reparos que consegue, e nós colaboramos como podemos. A Junta conta com uma equipa de 6 homens para fazer pequenos arranjos. Esta equipa em uma semana pintou uma escola.
A falta de médicos de família ainda é um problema?
Sim, não só aqui, mas em todo o país. As pessoas não ficam sem atendimento, mas têm de ir cedo para conseguir consulta. Precisamos de mais médicos de família, e as instalações têm infiltrações. A curto prazo duvido que a prioridade seja construir um novo centro de saúde mas era importante requalificar o que já temos.
Tem a seu cargo a proteção civil. Os meios efetivos são suficientes para dar resposta às ocorrências da freguesia?
Não, precisamos de mais meios da GNR, eles próprios pedem, muitas vezes têm de vir de outras freguesias, não existem muitas ocorrências de crime, mas a freguesia tem 175 quilómetros quadrados, com aldeias muito distantes entre si. Desde o Cabo Espichel ao Parral leva-se meia hora, é difícil fazer as patrulhas. Necessitávamos de mais efetivos na GNR, com certeza.
O turismo continua uma aposta forte da freguesia.
O turismo é, sem dúvida, uma aposta, mas tem de ser sustentável. Temos de garantir que o território está preparado para receber os visitantes e cuidar do património, como a Câmara tem feito. Apostar nos produtos locais e na valorização dos produtores também é essencial.
Em ’98 toda a gente queria que viessem para cá gente. Agora os territórios estão todos com tanta gente que as capacidades de carga estão mais do que sobrelotadas.
O papel das autarquias primeiro que tudo é dotar o território de condições agradáveis e dar condições para que as pessoas que vêm se sintam bem. A melhoria e a recuperação do património é importante, assim como a limpeza. A população tem que gostar do seu próprio território.
Eu tenho que dar condições para a população sentir-se bem e para que os que nos visitam digam “eu adoro estar no Castelo, adoro estar em Sesimbra”. Não é só pelo Sol, nem pelo mar, nem pela serra, é porque sou bem recebida, porque tenho bons produtos, percursos pedestres, uma feira, tenho um espetáculo de jazz no castelo, porque depois do concerto fizeram uma prova de produtos locais. É tudo isto.
Concorda com a taxa turística?
Sim. É uma forma de investir na promoção do turismo e nas condições que oferecemos aos visitantes, e a quem já cá está, como limpeza e acessos.
Por meio de colaborações com as associações, a junta consegue disponibilizar festas e eventos durante o ano inteiro?
Sim. Muitas vezes fui questionada na Assembleia de Freguesia sobre as festas, sobre a quantidade das festas. Mas as pessoas têm que ter a noção da realidade…No decorrer da pandemia, eu tive aqui cantores, ao telefone, a pedir-me apoio para comer…
As pessoas esquecem-se das várias dimensões das festas. Existem muitas pessoas nas aldeias que raramente saem de casa. E as festas juntam os jovens, juntam as pessoas de fora, os turistas, vem o sobrinho, o neto… e isso socialmente é muito importante.
Para além disso, as festas são grandes dinamizadores da economia local, porque não é só a associação que está a fazer a festa que ganha, são os cafés à volta, é o talho onde é comprada a carne, é a padaria onde é comprado o pão, é quem faz o pão com chouriço para ser vendido, é a pastelaria que faz os bolos…E alguém pensa nisso? Não, as pessoas não pensam nisso.
Maria Manuel Gomes A presidente da Junta de Freguesia do Castelo, Maria Manuel Gomes, foi eleita pelas listas da CDU em 2017, como independente. Formada em turismo e com mais de 30 anos de experiência como funcionária pública, incluindo trabalho no gabinete das pescas de Sesimbra, Maria Gomes sucedeu ao atual presidente da Câmara Municipal, Francisco Jesus, depois do mesmo ter presidido a junta durante 12 anos. |
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