
O silêncio pode matar uma comunidade. É isso que está em causa quando um jornal local, com décadas de história, se vê obrigado a trocar a gratuitidade pela sobrevivência. O Jornal Concelho de Palmela, uma das vozes mais antigas e consistentes da região, prepara-se para entrar nas bancas a um euro por edição, a partir de abril, numa tentativa de resistir à crise que sufoca o setor dos media regionais em Portugal.
Após anos a ser distribuído gratuitamente, com 16 páginas a cores e entrega direta à população, a direção do jornal assume que não há mais margem para sacrifícios solitários. A decisão, anunciada pela Diretora Adjunta, Isabel de Almeida, surge como o último recurso: “A sociedade civil sem notícias e sem literatura poderá estar em risco, mas nós também temos que optar por caminhos alternativos”, justificou, emocionada, ao Diário do Distrito.
A medida surge pouco após o Diário do Distrito também ter avançado com a edição em banca, por um euro, provando que a imprensa local está a ser forçada a reinventar-se face ao desinteresse dos organismos públicos e à quase inexistente publicidade institucional. No caso de Palmela, a ausência de apoio do poder local tem sido total, apesar do papel vital que o jornal desempenha na ligação entre cidadãos e comunidade.
Durante anos, a equipa resistiu sem ajudas, motivada apenas pelo dever de informar. Muitos dos seus leitores são pessoas idosas, sem acesso às tecnologias, para quem o jornal em papel era — e é — a única fonte de informação. Ainda assim, a gratuitidade tornou-se insustentável.
“Muitas vezes os nossos leitores não têm dinheiro sequer para comer, mas continuávamos a chegar a todos, sem falhar uma edição”, confessa Isabel de Almeida, num testemunho que revela o estado crítico da imprensa de proximidade em Portugal.
Esta mudança não é apenas uma questão económica. É um grito de alerta. Se os jornais locais desaparecerem, quem contará as histórias da terra, quem fiscalizará os poderes, quem manterá a memória coletiva viva? A venda do jornal a um euro é, assim, um apelo à consciência dos leitores: comprar um jornal local é um ato de cidadania.
A edição n.º152 marcará esta nova etapa. Será a primeira vez que o Jornal Concelho de Palmela terá de ser comprado em banca. E poderá ser, também, o início de um novo ciclo — ou o fim de uma era, se a comunidade virar as costas.
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