Joel Rodrigues: “É o acumulado de experiências que nos vai fazendo melhores pessoas”
Uma entrevista exclusiva do DD.
Joel Rodrigues, natural da Lousã, vive em Samouco há quase trinta anos. Assumiu a liderança da Junta de Freguesia em maio de 2024, após substituir o ex-presidente, Leonel Fina. Com 49 anos, passou pelas Forças Armadas e trabalhou como administrador na área da saúde durante 17 anos. Na freguesia do Samouco, desempenhava a função de tesoureiro desde 2021.
Desempenhou o cargo de tesoureiro até 10 de maio de 2024, data em que ocorreu a renúncia do ex-presidente da junta, Leonel Fina, e da vice-presidente Clara Vila Cova. O que motivou essa mudança de liderança na junta de freguesia?
Foram situações que o presidente e a vice-presidente têm que explicar. Conforme disse na minha tomada de posse, não vou fazer comentários sobre essa situação. Talvez um dia mais tarde possa expor o meu ponto de vista, mas não agora.
E do seu lado? O que o motivou a assumir o cargo?
O meu objetivo é continuar com aquilo que me propus enquanto tesoureiro, que é servir as pessoas, dar todo o tempo que tenho disponível em prol desta vila. Para mim é um prazer ter contacto com as pessoas e tentar resolver as situações que vão aparecendo diariamente, para que as pessoas possam estar mais satisfeitas, e mais felizes.
Com cinco meses de mandato como presidente e quase três anos de experiência como tesoureiro, qual é a necessidade mais constante enfrentada pela freguesia?
A principal dificuldade é a falta de verbas, uma situação comum na maioria das entidades públicas. Com um orçamento maior, poderíamos realizar muito mais, mas ainda assim estamos no caminho certo. Realizamos manutenção diária e, atualmente, estamos prestes a iniciar uma obra muito solicitada pela população: a instalação de ossários no cemitério. A obra, já adjudicada e com início previsto para novembro, é um investimento importante, pois um custo de 10 mil euros impacta significativamente o orçamento da Junta.
Qual foi o orçamento recebido para este ano?
Cerca de 150 mil euros.
Onde está a maior parte do orçamento a ser alocada?
A maior fatia do bolo vai para o apoio às coletividades. Tenho uma forte proximidade às coletividades. Fazem um trabalho de excelência, merecem todo o apoio que damos, e mais, mas a junta também não tem capacidade financeira para mais, embora fosse essa a minha vontade.
Quais são as principais coletividades da freguesia?
Para mim, todas as associações são essenciais. Claro que algumas se destacam pelo número de participantes, como a Associação Desportiva Samuquense e a Sociedade Filarmónica Portuguesa da Costa Samuquense. No entanto, não podemos deixar de valorizar outras igualmente importantes, como o Motoclube, a Associação de Reformados, a Associação de Festas e a Associação de Pais e Encarregados de Educação.
Que percentagem do orçamento está alocada para as associações?
Não tenho agora de momento esses dados, mas é a maior parte.
E seguindo o apoio às coletividades?
As despesas com os salários dos funcionários, investimentos, e outros custos operacionais da junta, como impostos e consumo, especialmente de eletricidade.
Quantos funcionários estão ao serviço da junta de freguesia?
Temos três funcionários: dois assistentes técnicos e um assistente operacional. As outras pessoas estão envolvidas na limpeza urbana e pertencem à Câmara Municipal.
Como avalia o estado da higiene urbana na freguesia?
Podia estar melhor, e tenho plena consciência disso. Talvez faltem mais trabalhadores para garantir a qualidade desejada. Houve momentos em que a higiene urbana não estava ao nível que eu esperava, e essa situação foi prontamente comunicada à Câmara Municipal. Mantemos uma comunicação constante, e o Sr. Presidente está completamente ciente da situação da freguesia, tanto na área da varredura como em outros aspetos.
Há perspetivas de virem aumentar o número de efetivos na junta freguesia?
Com o orçamento atual, não é possível. A Câmara só pode disponibilizar mais recursos por meio da delegação de competências para a junta de freguesia, o que está em andamento. No entanto, algumas freguesias não têm a capacidade de assumir essas competências. Um exemplo é a varredura, em que os trabalhadores da Câmara poderiam ser deslocados para a junta, mas não há infraestruturas para acolhê-los nem para armazenar o material necessário para o trabalho.
Portanto, há coisas que têm de ser avançadas muito antes de serem delegadas nas juntas. E é esse trabalho que está a ser feito, está a ser estudado e pensado.
Como está a qualidade das infraestruturas das escolas em termos de ensino? Há falta de professores ou outros desafios nesse sentido?
Não há falta de professores e a qualidade do ensino é excelente. A escola básica de Samouco tem condições ótimas, graças a uma grande obra financiada pela Câmara Municipal. O investimento trouxe melhorias significativas, proporcionando às crianças um ambiente adequado para estudar.
Por enquanto, as infraestruturas de ensino conseguem dar resposta às necessidades das crianças?
A escola tem conseguido oferecer boa qualidade de ensino, mas, se houvesse mais espaço, seria ideal. Quando a obra na escola básica de Samouco foi feita, aumentaram de 4 para 6 salas, já pensando no futuro. No entanto, essas 6 salas já estão quase insuficientes, mesmo com apenas 7 turmas.
Como classifica a colaboração e comunicação entre a Junta e a Câmara?
A comunicação é excelente, baseada num compromisso sólido entre a Câmara e a Junta de Freguesia. Além das relações pessoais, as questões profissionais são sempre tratadas de forma eficaz. Tenho contacto direto com o sr. presidente e os seus vereadores, seja pessoalmente, por telefone ou e-mail, e todas as minhas dúvidas são respondidas rapidamente, ou no dia seguinte.
Que investimentos estão a ser realizados pela câmara na freguesia do Samouco?
Atualmente, estão em curso várias obras na freguesia do Samouco. Uma delas é a melhoria na Rua das Salinas para resolver problemas de inundações perto do Jardim de Infância.
Além disso, está em concurso público a substituição das casas de banho da Praça José Coelho, que estão em mau estado. A Câmara também autorizou um empréstimo para obras em três ruas, que incluirão a substituição de cabos de eletricidade e comunicações, não apenas a pavimentação. Outras obras também estão previstas.
Qual é o projeto mais prioritário?
A prioridade são os ossários. Esse foi um objetivo claro e será cumprido. Houve algumas mudanças no número planeado, mas, com o orçamento da Junta, esse investimento será realizado com sucesso.
Existe falta de efetivos policiais na freguesia?
A GNR e outras forças de segurança enfrentam uma grande falta de efetivos, uma realidade comum em várias áreas. No passado, havia uma grande concorrência para vagas nas Forças Armadas, mas atualmente a situação é inversa, com poucas pessoas a candidatar-se.
Como avalia a qualidade e a quantidade dos postos de saúde na freguesia?
O posto de saúde tem ótimas infraestruturas, com boas condições de trabalho, segundo médicos e enfermeiros que o visitaram. No entanto, há falta de profissionais, como médicos e enfermeiros. Um exemplo disso é que, há um ou dois anos, um concurso para seis médicos em Alcochete e Samouco não teve nenhum candidato.
Estamos a falar de um local a 15 quilómetros em linha reta da capital. Não estamos noutro país, ostracizados,
A autarquia não seja responsável por isso, é necessário que o Governo Central atraia mais profissionais de saúde para as áreas que realmente necessitam, pois as exigências feitas às câmaras nem sempre são viáveis.
O Joel tem experiência nas Forças Armadas. Quais as competências adquiridas nesse período que considera úteis para o trabalho na junta de freguesia?
A minha passagem pelas Forças Armadas foi uma experiência de grande aprendizado e amizade, que ainda hoje mantenho. Fui muito bem recebido na semana passada, quando visitei a base aérea do Montijo, mesmo após ter saído de lá em 2004, há 20 anos. Esse reconhecimento é um motivo de orgulho para mim. Depois é o acumulado de experiências que nos vai fazendo melhores pessoas.
Há algo nas Forças Armadas que ensine ou forme características que outras associações civis não oferecem?
Não acredito que tenha aprendido a respeitar ou a ser educado na tropa, porque esses valores foram ensinados pelos meus pais e familiares desde cedo. Para mim, o respeito e a educação não são algo que se aprende, mas sim algo que se adquire ao longo da vida. Talvez seja esse o meu traço mais característico. Não tenho dificuldades em me relacionar com as pessoas, pois as bases de educação que me deram são a chave para isso, e não algo imposto ou forçado.
Os seus pais eram de Samouco?
Não, eu sou natural da Lousã. Cheguei aqui em 1995 para trabalhar nas Forças Armadas. Já estou no Samouco há quase 30 anos, mais de metade da minha vida. Embora algumas pessoas, inclusive naturais da terra, possam levar a mal, sinto-me um verdadeiro Samouco.
Como era o Samouco quando se mudou para cá?
Samouco mantém a sua simpatia e o espírito de comunidade de antigamente. É claro que era mais sossegado, mas o Samouco não está isolado do mundo. Temos mais imigrantes, com o bom e o mau que isso traz.
Houve também um olhar mais atento desde 2017 pela Câmara Municipal porque o Samouco estava estagnado. Quando isso aconteceu, com a nossa entrada, tentámos mexer com esta vila e penso que o estamos a conseguir.
É claro que não conseguimos agradar a todos, nunca iremos conseguir agradar a todos, mas estou convicto que isso é a verdade.
Qual foi a maior transformação na freguesia?
Demos a freguesia aos fregueses. Tínhamos um campo de futebol sem condições para ninguém praticar. Tínhamos um problema de transporte… A escola primária estava precisamente igual há muitos anos.
E é importante ver que Alcochete é um concelho pequeno, com povoações dispersas, rurais, que também foram negligenciadas durante muitos anos. E essas populações têm de ser ajudadas.
Nós queríamos que viesse tudo para aqui, mas não podemos ser egoístas e temos de pensar também no resto do concelho.
Se pudesse resolver uma questão da freguesia em duas semanas, qual escolheria?
Primeiro, o estacionamento: a população cresceu, e muitos prédios antigos foram construídos sem garagens. Hoje, as famílias têm mais carros, o que aumenta a necessidade.
Além disso, precisamos de mais médicos e enfermeiros para o centro de saúde e mais agentes de segurança na freguesia. Esses são os pontos principais.
Como é a rotina diária de um presidente de junta de freguesia?
Não me considero atarefado. Porque eu gosto imenso daquilo que faço. Isso torna as coisas muito mais fáceis, por assim dizer.
No entanto, há uma questão estrutural: juntas de freguesia com menos eleitores não têm autorização para funcionar em horário completo. Isso significa que o cargo é exercido em regime de meio tempo, o que se traduz em apenas 36 horas mensais. Ainda assim, isso não me limita, pois mantenho contacto constante com os secretários, o executivo e as assistentes técnicas para acompanhar as necessidades da freguesia. E faz-se bem. Quando acaba a minha parte profissional, em vez de ir para casa, venho para cá, e com muito gosto.
Houve alguma característica desta função que o surpreendeu, ou que não estava à espera?
Não. Eu até costumo dizer que a minha responsabilidade é a mesma responsabilidade desde que trabalhava como tesoureiro, só difere o sítio onde assino.
De resto, a minha entrega é a mesma. Com mais um pouquinho de responsabilidade.
Aceitou esta função por um interesse pela política?
Não. Porque eu até digo que não sou político. Sou uma pessoa que dá o seu tempo em prol dos outros. Porque eu político não sou.
Nem tenho ambições políticas. Tenho, sim, a ambição de ver esta freguesia muito melhor, com mais infraestruturas, com tudo aquilo que a população merece.
Para mim política está na Assembleia da República. Eles que façam a política.
Pretende continuar no cargo?
Ainda não está nada estudado nessa matéria.
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