Joel Carvalho: “Estarei cá sempre para lutar pela cultura”
Numa conversa rica com Joel Carvalho, o ator e cantor refletiu sobre a sua carreira e convivência com Natália Guimarães e Domingos Machado, assim como o estado da cultura em Portugal, cuja atual forma de produção de conteúdos tem levado ao afastamento do público, e sobre o seu novo projeto “Segredo de Bastidores”.
Como foi o processo criativo e logístico da sua música mais recente “Vem para me salvar”?
Eu tive alguns colegas meus que acabaram por deitar o pano ao chão, derivado à saúde mental, acabaram por desistir de viver, e achei importante falar sobre o tema, sobretudo num ano em que estamos a falar de saúde mental, em que 1 em cada 5 pessoas sofre com a saúde mental, é importante falar sobre isso.
Eu tento, acima de tudo, que as minhas músicas falem sobre temas atuais. Gosto que as pessoas sintam a música, ouçam e, no seu intimo, consigam se identificar, consigam ver “olha, espera lá, que esta pode ser a minha história” ou “eu conheço alguém que já viveu esta história”. É importante isso para mim, porque é a verdadeira missão da música.
Depois de ter tido essas experiências dos meus colegas, quis transmitir esta mensagem de saúde mental, para alertar, porque é importante, cada vez mais, estarmos atentos àqueles que estão à nossa volta, é importante estarmos atentos aos sinais, ao olhar. Na correria que nós temos no dia a dia, muitas das vezes, não notamos nos pequenos sinais, já não paramos para conversar com as pessoas, já nem paramos para perguntar “está tudo bem?”, “precisas de alguma coisa?”. É importante parar, nem que seja por 5 segundos.
Como é que se deu o processo logístico, nomeadamente no contacto com a Casa do Artista, no contacto, também, com a Natália Guimarães, irmã de Cecília Guimarães?
Eu fui para a Casa do Artista através do Luís Aleluia. Conversei com o meu amigo Luís sobre o facto de sermos atores, e partilharmos algumas histórias: ele, já com uma carreira rica, eu a começar. Ele contou-me várias experiências, o que foi ótimo, e depois acabou por me falar da Casa do Artista. Acabei por me tornar sócio, e agora faço lá voluntariado ao domingo.
Na época da pandemia em que se ouviu tanto falar sobre saúde mental, dos artistas estarem longe dos palcos, e essa batalha ao nível da sua saúde mental, eu achei importante este tema e o videoclipe serem gravados lá. Achei importante retratar o tema da saúde mental, retratar o regresso aos palcos de um ator depois da pandemia, e foi isso que tentei fazer.
Depois, travei algumas amizades ao longo do meu voluntariado. Falei com a Natália, a irmã da Cecília Guimarães, e ela acabou por entrar comigo no videoclipe. Foi muito bom, mesmo.
Como se tem desenvolvido o contacto com Natália Guimarães, a partir daí?
Todos os fins de semana, nós nos encontramos, bebemos café lá na Casa do Artista. Ela tem 97 anos e está na flor da idade. Vai sozinha ao cabeleireiro, faz a cama, dá os seus passeios, dá um baile a muito (risos). Está uma jovem, e ela gostou bastante de participar comigo. Foi uma querida, muito simpática e está sempre disponível para aquilo que eu precisar.
É uma grande inspiração ver pessoas de uma idade tão avançada com uma vitalidade enorme.
É maravilhoso. Já lhe disse que se tem de manter assim para a gente celebrar o centenário.
Passando agora para a carreira do Joel como ator, de acordo com as suas redes sociais, começou a sua carreira como compositor em janeiro de 2023, e a terminou a carreira como ator na Companhia de Teatro de Setúbal em janeiro deste ano. Considera focar-se exclusivamente na carreira musical, em detrimento da atuação?
Eu quero juntar as duas. Quero tanto juntar quer a carreira de teatro, quer a carreira musical. Se eu poder fazer um musical, e juntar ali os dois setores, melhor ainda.
Gostava, acima de tudo, fazer televisão e de explorar novos horizontes. Acho que o que me iria desafiar mais seria fazer um papel de vilão, que seria o oposto de mim, e que iria sair da minha zona de conforto. Mas claro, sempre a produzir novas músicas, sempre a produzir novos temas, atuais, sobre a alzheimer, sobre o abandono dos animais. Temas que chamem a atenção das pessoas.
Em relação a essa conjugação entre as duas carreiras, já tem algum trabalho pensado?
Amanhã [dia 5 de setembro], vou fazer castings. Irei começar a fazer as minhas próprias produções teatrais, em parceria com a Companhia de Teatro de Setúbal, com o Bruno Frazão. Irei começar a produzir os meus próprios espetáculos. Em breve, até ao final do ano, teremos a peça “Segredo de Bastidores”, que irá falar sobre saúde mental, que irá falar sobre segredos do passado, sobre formas de dar a nova à nossa vida, de recomeçar. Acho que é importante, não só transmitir revistas à portuguesa, não só comédias, mas, também, falar sobre temas que as pessoas possam sentir e refletir em palco.
Em relação à peça que falou, revelou-nos aqui um pouco do tema. Qual é a história em volta deste tema?
É um ator consagrado, que se vê desamparado, depois da morte da esposa, que era quem produzia os seus espetáculos. Ele, após a morte da esposa, isola-se e, ao fim de 20 anos, tenta regressar aos palcos. Tudo isso, vai mexer com a cabeça dele: como é que será o regresso? Como é que o público vai reagir perante o seu regresso? Será que o vai aceitar?
Ao tentar regressar, acaba por remexer no passado, e acaba por vir a descobrir segredos que nem sempre são os melhores.
Parece ser um tema muito interessante para a peça. Já agora, aproveito para desejar boa sorte.
Fico grato.
Qual foi o projeto que lhe deu mais ânimo em trabalhar?
O projeto que me deu, até agora, mais ânimo foi o espetáculo da Belle Dominique “Vidas e Armadilhas”. Foi o último que entrei, em que nós fizemos a última temporada até janeiro, em que retratámos a vida do Domingos Machado, da Belle Dominique. Eu fiz de Belle Dominique jovem, foi quando apareceu em “Minas e Armadilhas”, quando apareceu no “Big Show SIC”, e que tive a oportunidade de ter o próprio Domingos ao meu lado a dizer-me “olha, aqui mexe mais a anca”, “aqui, faz mais isto, para atrair o público”. Foi ótimo, acho que fizemos uma homenagem em vida, algo que não acontece muito neste país. É muito raro haver uma homenagem em vida. Nós fizemos um espetáculo em homenagem ao Domingos, e foi de louvar, porque ele acompanhou-nos em todos os espetáculos, ia-nos dando conselhos, ia-nos dando pormenores. Foi maravilhoso.
Como surgiu o contacto com o Domingos Machado?
Eu regressei a Setúbal, depois de ter estado, durante alguns anos, em Lisboa, e o Bruno disse-me que ia produzir um espetáculo, e que precisava de alguém para fazer a Belle Dominique. Eu disse-lhe que não sabia, porque ainda estava a acabar o meu trabalho, mas, entretanto, o contrato de trabalho chegou ao fim, eu falei com o Bruno, e a vaga ainda estava disponível, disse “vamos a isso”.
A partir daí, foram workshops de maquilhagem, marcar reuniões com o Domingos para saber como é que era a Belle Dominique. Nós sabíamos, através dos registos que tínhamos, dos dados que nos eram facultados, mas, acima de tudo, falar com o próprio foi uma experiência de louvar. Foi marcar almoços, marcar lanches, marcar reuniões, e saber de que forma é que eu podia retratar a sua Belle Dominique, porque era uma responsabilidade enorme nós estarmos em palco e sentirmos “eu tenho de fazer isto muito bem porque está a própria Belle Dominique na plateia”. Eram os nervos totais.
Esse contacto com o Domingos tem continuado?
Tem continuado. Pelo menos, uma vez por mês, eu tento lá ir ao Cacém, que ele vive lá na casa dele, e eu tento ir lá almoçar com ele, ligo para saber como é que ele está, e continua jovem. Está tal e qual como a Natália: vai almoçar, vai ao barbeiro, tem ali a vida dele, e cada vez que eu lhe ligo, parece que estou a falar com um colega meu, porque aquilo é uma animação ao telemóvel que nunca mais acaba.
Falou agora sobre o Domingo, falou há pouco da Natália Guimarães. Como é que vê essa relação entre atores mais velhos e atores mais jovens? Não só na vitalidade que têm, mas, também, na experiência que carregam consigo?
Acho de louvar a partilha de experiências, ou seja, se nós estamos aqui, é porque eles deixaram os alicerces para nós podermos estar aqui, neste momento. É de louvar ouvir as suas histórias, o caminho que tiveram de percorrer para chegarem ao chamado sucesso, porque o verdadeiro sucesso é atingirmos as nossas metas. Eles conseguiram, eles viveram tudo isso. Tiveram de passar por diferentes etapas, numa época em que era muito mais complicado do que agora. Numa época em que ser ator era “algo de loucos”, “a vida boémia”, “a vida de luxo”, coisa que não era tão simples assim. Aliás, acho que é o meio mais desafiante que há em todas as carreiras. Mas é de louvar cada momento com eles, cada café, é maravilhoso, ouvir as palavras de incentivo que partilho com eles. Quando eu tenho uma música que está a ser produzida, vou a estúdio, e digo “ouve esta música, vê lá se gostas”, “eu acho bem, vamos a isto”. Ouvir essas palavras é um espetáculo.
Nesse âmbito, qual foi o melhor conselho dado por um ator mais velho, que tenha impactado a sua carreira?
“Nunca deixes de ouvir essa voz que está aí dentro para nunca esqueceres quem tu és”. Acima de tudo, eles dizem-me, várias vezes “sonha sempre em grande, porque, para pequenos, já chegam as pessoas que te dizem que não mereces voar”. Mudaram a minha perceção.
Eles dão-me sempre força, estão sempre a dizer-me “a tua cabeça anda sempre a mil, andas a produzir mil e uma coisas”, ou é teatro, ou é música. Dizem “lança cá para fora, as pessoas precisam de ouvir o que tens para dizer”, e eu faço isso (risos).
Em 2020, fez parte do projeto independente teatral “Reinventar”, em homenagem aos artistas de circo. Como surgiu o contacto com o meio circense?
Estava em casa, sem fazer nada, durante a pandemia e, de repente, contactou-me um colega, que faz animação nas ruas e disse-me “estou sem fazer nada, eu tive uma ideia louca, completamente fora da caixa, e eu acho que tu vais aderir”. Não quis ouvir mais nada e disse “bora, vamos a isso”, e ele “então, vamos fazer um espetáculo em homenagem aos artistas de circo, vamos gravar aqui alguns vídeos e, para a semana, já nos vamos poder reunir”. Portanto, “traz as máscaras, traz as luvas, e vamos produzir um espetáculo em homenagem aos artistas de circo”. Metemos malabarismo, metemos magia, metemos acrobacia, juntámos todos, uma hora marcada para cada um e acabámos por juntar tudo num vídeo. Foi muito bom.
Tem prevista a continuação de algum projeto anterior?
Nós temos falado em fazermos uma parceria, agora que estou a produzir os meus próprios espetáculos. A ideia de produzir estes espetáculos é criar uma equipa fixa que dê para ir às terras, ao Alentejo, a locais que não têm tanta facilidade me receber teatro, de forma a entreter essas pessoas. É importante chamar, de novo, as pessoas para o teatro. É importante trazer, de novo, as pessoas para as coletividades.
A minha missão é juntar um elenco fixo, que vá às coletividades, e que volte a trazer teatro a essas pessoas. Criar uma nova companhia na cidade, uma companhia que vá a diferentes lados, tal como houve nas antigas companhias (Companhia Amélia Rey Colaço, Companhia do Teatro Nacional). Tudo isso é importante, para trazer malta nova para o teatro.
Já tem alguns nomes pensados para essa nova equipa?
Nós temos 10 pessoas, que vão ao casting amanhã [dia 5 de setembro]. Vamos ver como irá correr, eu estou bastante ansioso para saber como é que vai ser a adesão das pessoas.
Ao início, eu pensei fazer eu a personagem principal deste espetáculo, mas, depois, a personagem principal tem 40 e tal anos. Mesmo que eu me maquilhasse e desse uma caracterização mais velha, com o desgaste que a personagem precisa, a nível da pele e a nível emocional, tem mesmo de ser uma pessoa com 40 e tal anos. Tem de ser mesmo uma pessoa que sinta e que viva aquela personagem. Eu, como no próprio texto que já fiz, eu mal escrevo a peça, gosto de dar logo as indicações e escrever no texto “o ator vai para a direita, o ator vai para a esquerda”. Eu acho que iria estar a fazer a minha personagem e iria estar preocupado com a marcação dos outros, e estar a encenar a mim, também. Seria muito complicado, por isso, tive de decidir em que lado é que estaria: se estaria na personagem principal, ou se estaria por trás a coordenar tudo aquilo. Eu acho que me vai dar um sabor especial estar por trás a coordenar toda a história.
Como conjuga os papeis de encenador e de ator?
Eu acho que vai ser um verdadeiro desafio. Para já, irei só me focar no papel de encenador. Irei, depois, ajudá-los a libertar as emoções, a explorar as mesmas. Eu já tive uma primeira experiência na Galeria da Lurdes Pólvora D’Cruz, onde fui assistente de produção. Fui lá assistente de encenação também, e estive a ajudar o Bruno Frazão numa das peças de teatro, e foi maravilhoso. Gostei bastante da experiência.
Agora, quando eu falei com o Bruno e lhe disse “gostava que visses a peça, se está tudo bem, se eu posso melhorar alguma coisa neste guião que escrevi”. Ele disse-me “porque não seres tu a encenar? Está na época de voares, também”, e eu disse “pronto, vamos a isso”. Ele disse-me “alguma coisa que precisares, está aqui a companhia por trás, naquilo que precisares a nível de adereços, de cenários, tudo o que precisares estamos cá para ajudar”. Foi maravilhoso, aliás, eu tenho-me reunido de pessoas maravilhosas, o João Praia, o Bruno Frazão, a Companhia de Teatro. Aliás, uma pessoa que eu fico muito grato por alinhar nas minhas loucuras é o Artur Jordão. É quem está por trás do instrumental e de toda a parte musical das minhas músicas. Eu chego lá com uma ideia e eu digo “Jordão, é esta a letra”, e eu gravei, mais ou menos, o que eu quero para a música. Ele disse-me “ok, então fecha os olhos e vê lá se é isto que queres”. Ele vai logo para o piano, e faz a melodia, e eu digo “é isso mesmo, Jordão, vamos a isso”. Só ele para alinhar nas minhas loucuras e, até ao final do ano, podem esperar grandes surpresas.
Sobre as figuras de que falou: o João Praia, d’”Os 13”, o Bruno Frazão e o Artur Jordão, como é que surgiram os contactos com eles?
Eu aos 12/13 anos, comecei a fazer teatro com o Bruno Frazão. Nós fizemos um espetáculo que teve muito sucesso, que foi o “É Só Pagode”, que esteve quase dois anos em cena, e que foi maravilhoso, sempre com salas esgotadas, a coletividade do Independente esteve sempre muita gente a assistir à peça, e foi um êxito estrondoso.
Depois, acabei por fazer uma cegada musical, e aí, começou, também, o contacto com o Artur Jordão. Depois, aos 18 anos, acabei por ir para Lisboa, para uma companhia de teatro, e fiquei lá durante algum tempo.
Quando regressei para fazer a Belle Dominique, veio aquele bichinho, aquele contacto com os meus colegas e eles disseram-me “está na altura de produzires as tuas próprias coias, de tirares da gaveta as coisas que tu escreves durante as tuas insónias à noite. Mostra às pessoas que estás aqui e que tens alguma coisa para dizer.”. Fui ter com o Jordão e disse-lhe “Jordão, está na altura de começar a produzir as minhas próprias coisas”, e ele disse “vamos a isso”. Assim nasceu o “Diz-me”, o “Vem para me salvar”, e todas as outras até ao final do ano.
O Joel também tem sido padrinho da marcha d’”Os 13”. Como surgiu o contacto com João Praia?
Conheci-o quando fui com 12/13 anos para o “É Só Pagode”. Fizemos o “É Só Pagode”, fizemos a cegada de carnaval. No ano passado, também fizemos outra cegada juntos, depois da Belle Dominique, e mantivemos uma amizade desde os meus 12/13 anos. Assim se manteve e assim se irá manter.
Este ano que passou, ele convidou-me para ser padrinho da marcha d’”Os 13”, ao qual eu aceitei com o maior agrado, e foi um desafio enorme. Quem sabe se, para o ano, não estarei aí de volta, não só como padrinho infantil, como, também, de uma outra mais adulta, porque não? Estou aberto a propostas.
Qual é o principal desafio como padrinho das marchas?
Quando estás numa marcha adulta, tens de responder às expetativas de toda a marcha. Quando estás numa marcha infantil, tens um maior desafio, que é agradar a todas as crianças e, acima de tudo, fazê-las sentir que, para além de estar ali alguém a representar a marcha, eles têm ali um amigo, e que, quando vão para a marcha, têm ali alguém para lhes dar um abraço, para os compreender. Mas, acima de tudo, haver animação, as pessoas irem para os ensaios e sentirem “vou com vontade de ir, vou manter uma tradição, mas vou feliz”. Muitos deles disseram “vou para ali, porque é a minha segunda família”, e é ótimo ouvir isto. É chegar lá e, no dia em que sairmos da Avenida e virem à corrida darem-nos um abraço, acho que é de louvar.
Qual é o segredo para ter um bom contacto com o público?
Acima de tudo, compreendê-lo, parar para ouvi-lo, sentir as necessidades do mesmo, corresponder às necessidades. Depois, é ir aos temas que eles gostam. O que eles gostam? Gostam de marchas. Ok, vamos produzir coisas sobre marchas, vamos falar sobre temas com que eles se identificam, vamos falar sobre temas que eles querem ouvir, vamos estar um bocadinho com eles, vamos olhá-los nos olhos, vamos sentir o que eles estão a sentir. É maravilhoso. Eu adoro o contacto com o público.
Sente que tem o carinho do público consigo, tanto nas marchas, como nos palcos?
Eu adoro, sobretudo, ouvir o público antes da peça, sobre as expetativas que eles têm para a peça, e ouvir o público depois da peça, ver o que acharam. Ouvir alguém, no final de um espetáculo, dizer “obrigado, porque me fez esquecer da minha vida lá fora, durante esta hora/hora e meia”. Não há dinheiro que pague aquilo que se sente ao ouvir uma pessoa a dizer “obrigado, gostei muito” e dar-me um abraço. É de louvar e isso fico muito grato por todos aqueles que vão lá, que gostam do meu trabalho, e dizem “força, continua” e eu espero, acima de tudo, em todas as músicas, aumentar essa curiosidade das pessoas irem ver o que eu produzo. As pessoas continuarem a gostar do meu trabalho, porque eu trabalho para o público, e é isso que eu quero. Só quero que as pessoas sintam que eu estou a trabalhar para elas, a produzir conteúdo para elas. No dia em que eu não estiver a trabalhar para o público, eu paro. Eu quero continuar a produzir coisas com que o público se identifique, que sinta que eu estou a fazer uma linha contínua.
Aliás, nas minhas músicas – não só através das letras, mas, também, a partir dos títulos – tenho estado a transmitir essas mensagens. Tenho o “Diz-me”, tenho o “Por isso te digo”, o “Vem para me salvar”. Todos os títulos das minhas músicas vão fazer uma linha de continuidade e, depois, vão ver até chegar ao álbum.
O álbum irá abordar o tema da saúde mental, ou alargar a um outro leque de temas?
Será um álbum que falará sobre diferentes temas, mas, acima de tudo, a mensagem principal vai estar através do título de todas as músicas. Da primeira até à última do álbum, irá encaminhar o público para uma mensagem que fará pensar e que, dependendo de pessoa para pessoa, vai surtir um efeito em cada uma delas. Acho que vai ser maravilhoso.
Já tem alguma data pensada para o lançamento?
Gostava de dia 4 de outubro a um ano, poder lançar o meu álbum. Não é impossível. Anteontem, fez um ano que foi lançado o “Diz-me”, já fiz o “Vem para me salvar”, já fiz o videoclipe, já estou a preparar outras músicas até ao final do ano, portanto, acho que é uma boa data para as pessoas esperarem pelo meu primeiro álbum.
As músicas já estão preparadas?
O “Diz-me” e o “Vem para me salvar” já estão mesmo prontas. Outras duas estão a ser preparadas, pelo menos, até ao final do ano para serem lançadas.
Quais vão ser os temas das músicas?
Uma irá falar sobre amor, também, mas irá fugir um bocadinho do “Diz-me”. A outra, irá falar sobre um tema atual, basta as pessoas estarem atentas às notícias e a um dos problemas atuais que mais se vive, sobretudo, na faixa etária mais idosa, que é nessa parte que me irei focar agora. Esperem grandes surpresas, que eu espero, também, que as pessoas irão gostar daquilo que irei produzir.
Para além disso, brevemente, também irão ter acesso ao videoclipe do “Diz-me”, porque um videoclipe chega muito mais facilmente ao público, do que uma música só. Portanto, se gostaram do “Diz-me”, se gostaram da forma como eu tentei misturar uma melodia da Disney com uma melodia com genérico de novela, para fazer ali a captação boa das pessoas, esperem grandes surpresas. O melhor ainda está para vir.
Como foi feito o videoclipe?
Eu já tinha, mais ou menos, uma ideia do que seria para o “Vem para me salvar”. Acima de tudo, queria que as pessoas sentissem e fossem embaladas pela música e que o refrão fosse como um renascer, uma luz ao fundo do túnel. Tentei mesmo como se fosse estar no fundo de um poço, e gritar por ajuda. Foi isso que eu tentei que fosse aquele refrão, e foi maravilhoso. O Jordão atingiu ali com a cereja no topo do bolo aquilo que eu queria. Foi mesmo de louvar.
Falei com o Som da Baixa, que foi quem veio gravar o videoclipe lá ao Teatro Armando Cortez, na Casa do Artista, disse-lhes o que eu queria, e combinámos para o dia a seguir. Porém, nessa noite, depois da minha insónia, lá acabei por adormecer e sonhei com o videoclipe. Cheguei lá ao pé deles e disse “esqueçam tudo aquilo que vos disse, vamos gravar tal e qual como eu vou dizer”, e gravámos tal e qual como eu disse. Depois, acabaram por me lançar as gravações e eu, em casa, no dia a seguir acabei por fazer a montagem e os efeitos, e lancei nas redes sociais.
Toda a parte da produção tenho sido eu, não tenho tido ninguém por trás a produzir as músicas. Tanto eu ir a estúdio, como estar a divulgar no Spotify, no iTunes, no TikTok, no Instagram, tenho sido tudo eu, até agora.
Em relação à parceria com os Sons da Baixa, como é que começou?
Começou a fazer parceria com a Companhia de Teatro de Setúbal. Eles foram gravar o espetáculo da Belle Dominique, em Moura (o Domingos Machado nasceu em Moura e cresceu lá), e fizemos questão que o espetáculo estreasse em Moura.
Acabámos por falar, porque estava com a ideia de produzir a minha música. Depois, a minha música começou a ser transmitida, aqui, na Baixa, e eu disse “estou a gravar um videoclipe, e pensei em vocês”. Eles responderam, “mas nós não temos muitos equipamentos”. Eu perguntei “têm alguns, não têm? Por isso, vamos a isso”. Foi assim, e o videoclipe ficou maravilhoso. Cada vez que olho para aquilo eu digo “superou as expetativas”. Foi com isto mesmo que eu sonhei e, felizmente, se tornou realidade e são eles que serão os responsáveis pelas próximas gravações, em parceria com um colega meu, que também irá tratar das gravações, que é DJ, o Ricardo, que irá tratar de toda essa parte. Nós temos conversado um pouco. Ele acabou por fazer o som da Academia de Santo Amaro, onde eu estive durante alguns anos, e eu falei com ele e eu disse “quero muito ajudar-te a fazer o videoclipe”.
Vou começar o diálogo com a Câmara Municipal de Setúbal, para se poder gravar em alguns pontos da cidade, como as praias, no Castelo, mas, sobretudo, numa Igreja. Esse videoclipe irá envolver diferentes cenários e irá, também, envolver a Serra da Arrábida, e vai ser maravilhoso.
Como vê Setúbal na sua inspiração para as músicas?
As paisagens são lindíssimas, e há sítios maravilhosos para nós gravarmos. A Serra da Arrábida tem os seus encantos. Se quisermos falar de uma música sobre amor, porque não irmos para o meio da Serra, para retratar essa história de amor? Acho que é maravilhoso.
Aqui, junto ao mar, também se podem gravar cenas lindíssimas. Temos o Moinho de Maré da Mourisca, que, também, poderemos gravar lá. É tudo uma questão de fazer os contactos necessários para as coisas poderem funcionar. É assim e há que valorizar as qualidades da cidade. A cidade tem tantas qualidades. Basta sabermos observá-las e sabermos dinamizá-las.
Estamos quase no fim, mas gostaria de perguntar quem é Joel Carvalho?
É um jovem talento de Setúbal que luta todos os dias por uma oportunidade de estar em cima do palco, quer a nível de teatro, quer a nível musical. Estarei cá sempre para entreter o público. Estarei cá sempre para produzir conteúdos para o público. Estarei cá sempre para lutar pela cultura, pela valorização da mesma, para lutar contra o encerramento dos teatros, para lutar por uma valorização da cultura em Portugal, porque um país sem cultura, é um país sem identidade.
Caso eu nunca tenha a oportunidade de interpretar o vilão de uma novela, ou assim, cá estarei a fazer as minhas produções a nível teatral, quer seja como ator, quer seja para dar a oportunidade a outros jovens que não têm essa oportunidade de entrar no mercado, já que o mercado é tão pequeno e há tanta gente a querer entrar. Muitas das vezes, quem tem talento, fica sempre à sombra, e é importante trazer para a claridade essas pessoas. Fazê-las acreditar que é possível sonhar. Nós nunca devemos deixar os nossos sonhos morrer e é importante alimentar esses sonhos.
Tocou agora num ponto essencial, que é o estado da cultura em Portugal. Como é que vê como possíveis soluções para ultrapassar o atual estado de crise?
Acima de tudo, produzirmos mais coisas nossas. Produzirmos mais teatro, organizarmos mais companhias de teatro, produzirmos telefilmes, curtas, novelas, séries. Há tantas histórias que nós podemos criar, para que é que vamos buscar coisas de fora? Escrevam, vamos criar coisas novas. Vamos envolver o público. Acho que, hoje em dia, preocupam-se mais com audiências, do que com o conteúdo para o público, e é isso que está a afastar, muitas das vezes, o público da televisão.
As pessoas acendem a televisão, e vêm mais um conteúdo, mais um programa, e não tem de ser assim. As pessoas têm de pararem em frente à televisão e sentirem “é este o programa com o qual me identifico”.
Eu cresci a ver os mestres a trabalhar, o Nicolau Breyner, o Tozé Martinho. Foram os pais da ficção nacional e que fizeram de tudo para que nós possamos ter aquilo que temos hoje. O tempo avança – e isto não é ser saudosista -, e agora temos de nos focar no presente para construirmos o futuro. A próxima geração que vem aí, o que é que vai ter a nível de audiovisual? O que vai ter a nível de conteúdo? O que vai ter a nível de séries? É importante que se vão fazendo agora conteúdos com que as pessoas se identifiquem, no futuro, e que produzam mais e mais e mais. É isso que eu pretendo fazer.
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