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Inês de Medeiros e Maria das Dores Meira: duas mulheres que desafiam a tradição no poder local

Contra a corrente de um mundo político ainda dominado por homens, Inês de Medeiros em Almada e Maria das Dores Meira em Setúbal conquistaram as câmaras municipais, afirmando-se como símbolos da força e da resistência feminina na liderança autárquica.

Cresce a presença feminina nas câmaras — mas a paridade continua distante

Nas eleições autárquicas de 2025, verificou-se um salto significativo no número de mulheres eleitas para liderar municípios, sinal que algumas barreiras estão a ceder. Ainda assim, o caminho para a igualdade real permanece cheio de obstáculos — e os casos de Inês de Medeiros, em Almada, e Maria das Dores Meira, em Setúbal, emergem como marcos desse trajeto.

Um balanço nacional: avanços, mas insuficientes

Segundo dados provisórios da Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna, 48 mulheres foram eleitas presidentes de câmara entre os 308 municípios do país — o que corresponde a cerca de 15,68 % do total.
Trata-se de um quase dobrar face ao resultado das autárquicas de 2021, em que apenas cerca de 9 % dos municípios tinham mulheres como presiden­tes.

Contudo, essa subida não elimina as desigualdades estruturais. Na elaboração da lei de paridade, o limiar mínimo legal definido é de 40 % para os órgãos representativos — um patamar ainda longe de ser alcançado no poder local.
Em muitas regiões e distritos, os valores continuam muito baixos: em sete distritos (mais de 100 municípios), a representatividade feminina nas presidências Câmara ficou abaixo dos 10 %.
Nos Açores, porém, há um indicador mais positivo: oito dos 19 concelhos passarão a ser liderados por mulheres.
Outros distritos de destaque são Faro (5 mulheres eleitas) e Porto, Setúbal e Vila Real (4 mulheres eleitas em cada um).

Apesar desse panorama de progresso, persiste no debate político e social a percepção de que a política é ainda um “mundo de homens” — expressão usada para sublinhar que, por mais que visibilização ou estatísticas mostrem avanços, as práticas, a cultura institucional e os obstáculos pessoais continuam a condicionar fortemente o protagonismo feminino.

Em entrevistas ao JN e ao DN, as autarcas eleitas referem que não vivenciaram discriminação explícita — mas relatam episódios simbólicos ou subtis, que revelam preconceitos latentes. Por exemplo, uma candidata recordou que lhe disseram, num debate, que “não pode fazer na Câmara uma gestão doméstica” — uma frase carregada de estereótipos de género que foi veementemente rejeitada.

Inês de Medeiros e Maria das Dores Meira: vozes e faces do novo panorama local

Dentre essas mulheres eleitas, duas figuras destacam-se pela singularidade política, simbólica e pelo peso local: Inês de Medeiros, vencedora da câmara de Almada, e Maria das Dores Meira, que conquistou a presidência da câmara de Setúbal.

Inês de Medeiros surge como um nome com visibilidade nacional — já com experiência em cargos públicos – é o terceiro mandato à frente do munícipio de Almada -, com perfil mediático e com uma trajetória que a torna um sinal de mudança. A vitória em Almada representa não apenas uma conquista local, mas um simbolismo democrático: uma mulher, com visibilidade cultural e política, assume o leme de um município importante. Em contextos em que a política municipal tem sido historicamente marcada por lideranças masculinas, a eleição de Inês de Medeiros pode inspirar eleitoras e candidatas a acreditarem que cargos de direção local são acessíveis a mulheres com perfis plurais.

Maria das Dores Meira, em Setúbal, representa igualmente uma vitória simbólica e real nas margens do rio Sado. Setúbal é um município com desafios sociais, urbanos, ambientais e de coesão territorial. Ao conquistar a presidência da câmara, Maria das Dores Meira testemunha que a liderança feminina pode ocorrer também nos grandes centros urbanos periféricos — locais onde, muitas vezes, as barreiras políticas, sociais e culturais são mais intensas. A sua eleição reforça que a escolha do eleitorado e dos partidos também pode abraçar essa mudança, mesmo onde as redes de poder local são mais cristalizadas.

Estas vencedoras não apenas “preenchem um número” nas estatísticas: trazem visões próprias, trajetórias pessoais e compromisso com a diversidade — e ao fazê-lo, correm riscos, enfrentam resistências e contribuem para alterar percepções.


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