Opinião

Europa: Compreender a tempo de votar

João Conde, Presidente da Juventude Popular de Setúbal

As eleições europeias decorrem dentro de menos de um ano, ao que tudo indica perto do

nosso feriado nacional do 10 de junho.

Portugal é um dos Estados-membros que, infelizmente, mais padece de uma abstenção

crónica a estas eleições. Há muito que se tentam escrutinar os motivos que levam a

grande maioria dos portugueses a desprezá-las, e cada vez mais se vão notando as

consequências desse desprezo, que se torna no motor de um ciclo vicioso de não

participação e desinteresse por Bruxelas.

Nas últimas 5 eleições europeias, o nosso país tem sido negativamente coerente, com o

aumento da abstenção. Em 1999 registámos 60% de abstenção, 20 anos depois, em 2019,

estabelecemos um novo recorde de 69%. Estamos no top cinco “piores” a ir às urnas.

Estes níveis consistentes de crescimento da abstenção em Portugal, creio que se devem

principalmente a três motivos: desconhecimento, divagação e como dizia Ribeiro e

Castro, algum complexo de inferioridade.

O primeiro motivo é algo paradoxal, tendo em conta que vivemos cada vez mais na

sociedade da informação acessível. Porém, se essa é uma realidade, também o é que essa

informação acessível é muito temperada por ruído, distração e desinformação. Os ecrãs

são um portal para o conhecimento e a arena onde se luta com unhas e dentes pela nossa

atenção. No entanto se o ruído é algo natural deste “ecossistema”, a desinformação, na

sua maioria não é, e há quem se aproveite do desconhecimento para a fomentar.

Relembro, por exemplo, que por altura do último ano de eleições europeias a Esquerda, e

mais concretamente a eurodeputada Marisa Matias, tentou levar a crer os portugueses

de que Nuno Melo e o grupo parlamentar a que pertence teriam votado contra o

salvamento de migrantes ( deu até origem a um cartoon que hoje em dia seria

interessante ver as reacções), quando o que se passou na realidade foi que estes

apresentaram a sua própria proposta de salvamento de migrantes.

Infelizmente este tipo de táticas que só ajudam a desinformar são muito adotadas no

palco político e só incentivam o crescimento de extremismos, que se alimentam deste

tipo de postura “ou estás comigo ou estás contra o mundo”.

O segundo motivo, a divagação, passa sobretudo pela forma como os partidos e alguma

comunicação social encaram as eleições europeias. Ao invés de se perguntarem e

discutirem os temas da atualidade, os desafios da União Europeia ou os posicionamentos

que os eurodeputados estão ou virão a ter face a essa agenda, opta-se por falar do que

não se discute em Bruxelas. Insiste-se em rotular as eleições europeias como “teste” ao

Governo, como estágio para as próximas eleições nacionais que virão.

Voltando a um exemplo protagonizado pela eurodeputada Marisa Matias, nas últimas

Europeias decidiu trazer para a campanha eleitoral a defesa do Serviço Nacional de

Saúde. Ora para este debate os portugueses não precisam das europeias para nada, pois

ele acontece diariamente.

Por fim, o complexo de inferioridade, o acharmos que somos pequenos, que o nosso

número de eurodeputados é irrelevante para influenciar o que quer que seja e que

portanto é inútil votar ou se for para o fazer, vota-se em consonância com o que é feito a

nível nacional. Este último motivo, como se deve notar, alimenta-se muito dos dois

anteriores.

Para inverter esta tendência de afastamento entre o cidadão português e o cidadão

português que é também europeu, acredito que o caminho se faz por uma maior

consciencialização do funcionamento das instituições europeias, do trabalho que os

nossos eurodeputados exercem e do resultado desse trabalho no nosso dia-a-dia. Com

mais e melhor informação, ganhamos todos, no presente e no futuro, pois não nos

podemos esquecer que em junho do próximo ano, serão mais umas eleições em que

muitos jovens adultos vão poder votar pela primeira vez.

Para inverter esta tendência é preciso começar com antecedência a discutir a Europa em

vez de esperar pelos 15 dias de campanha para querer que de súbito alguém se interesse.

É nesse sentido que a Juventude Popular de Setúbal vai realizar uma formação aberta a

toda a população e gratuita, online, pelas 21h00 do próximo dia 20, que será ministrada

por José Limão, coordenador do Gabinete de Estudos da Juventude Popular, que já foi

candidato ao Parlamento Europeu e é atualmente consultor em Bruxelas.

Convido o leitor a inscrever-se para assistir e com isso adquirir conhecimento e

ferramentas para interpretar e votar em maior consciência nas próximas eleições

europeias.


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