Opinião

Estamos sempre atrás

João Conde, Presidente da Juventude Popular de Setúbal

Parece que a Península de Setúbal volta a destacar-se pela negativa. Os dados recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), que colocam a Península de Setúbal como a região mais pobre do país em termos de PIB per capita, reacendem um alarme e convidam ao debate sobre as causas subjacentes a esta situação.

Esta região, é historicamente sabido, foi sempre marcada por profundas desigualdades socioeconómicas. É interessante constatar que, recentemente as explicações são sempre associadas ao acesso a fundos comunitários. Há bem pouco tempo o problema foi estarmos, em termos de geografia territorial, integrados na Área Metropolitana de Lisboa (AML).

Neste momento, a questão é que, apesar de desintegrados, e com a nova oficialização da Península de Setúbal como região, continuamos a sofrer os efeitos do contexto anterior, mas agora destapado o quadro, sobra a pintura de uma “nova região” que passa automaticamente a ser a mais pobre do país.

Agregados com a AML somos dos mais pobres, desagregados somos os mais pobres.

Parece que este é o nosso rótulo crónico. Há também, na minha opinião um pequeno grande padrão, que acredito que tenha o seu pequeno grande impacto em todo este cenário. São as políticas públicas.

Desde 1974, a região tem sido um bastião autárquico de partidos de esquerda, como o Partido Comunista Português e o Partido Socialista . A nível nacional, o PS, governou Portugal por quase 30 anos. Sendo estes partido que alegam constantemente ter na redistribuição de riqueza e na justiça social o foco principal das suas políticas, a Península de Setúbal seria agora um território privilegiado e abençoado com tanto tempo que estes tiveram para implementar as suas políticas redistributivas e de combate à desigualdade.

Pois a bênção tem-se estranhamente assemelhado muito a uma maldição, que precisa de ser quebrada urgentemente.

Dizem-nos também os dados que estes recentes resultados estatísticos são provocados por grande parte da população ativa residente na Península de Setúbal, trabalhar na Grande Lisboa, transferindo a sua capacidade de criação de riqueza para a capital.

Mas a incapacidade de gerar atratividade nos próprios concelhos, para empresas e cidadãos, não é também um sinónimo do fraco desempenho das políticas públicas locais?

A situação da Península de Setúbal não é apenas uma questão de má sorte ou desagregação estatística. É o reflexo de décadas de ação que, embora alegadamente bem intencionada, falhou e continua a falhar. Não temos de estar condenados a ser a cauda de Portugal, mas para isso é necessário coragem para uma mudança de abordagem, que combine os princípios de justiça social com uma visão pragmática de desenvolvimento.


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