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Entrevista | Ricardo Bernardes apresenta-se como rosto da renovação após 28 anos do PS a governar o Montijo

Apresentando-se como rosto da renovação após 28 anos de governação socialista, Ricardo Bernardes garante estar “focado no futuro”, mas defende o passado com firmeza: “O PS fez muito pelo concelho.” Na entrevista, o candidato oscila entre prometer novas soluções e admitir que “há desafios que não dependem da Câmara”.

Nasceu e cresceu aqui no Montijo? 

Eu pessoalmente não nasci aqui no Montijo, porque a minha família paterna tinha ido viver para a Amadora, mas toda a minha família – quer paterna, quer materna – é aqui do Montijo, e eu vivo aqui desde os meus 12 anos, portanto o Montijo é a minha terra, para todos os efeitos, é assim que eu me sinto. 

Como foi crescer aqui?

Foi um misto de proximidade e de ligação à família, ligação às origens e foi uma experiência muito enriquecedora. É um conselho com muitos espaços verdes, com muita qualidade de vida, com boas escolas, portanto foi uma experiência enriquecedora e da qual tenho boas memórias. 

Do ponto de vista profissional, qual é o seu percurso antes de chegar à política?

Eu tenho profissão, sou docente universitário, dou aulas na Faculdade de Direito, que nunca interrompi, nem mesmo no momento em que desempenhei funções políticas aqui na Câmara do Montijo como vereador. 

Assumi também funções de dirigente no Ministério do Trabalho, na Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho, fui subdiretor-geral, e agora aqui no Montijo assumo funções de chefe de gabinete. 

Foram sempre coisas complementares à minha atividade profissional como professor, que nunca interrompi. Já lecionei várias disciplinas, mas a minha área de dedicação é o direito do trabalho, é nessa área que estou a fazer o meu doutoramento depois de ter feito o mestrado.

Não exerceu nenhuma outra profissão sem ser professor universitário? 

Transitoriamente, durante uns dois meses, fui jurista no departamento jurídico de uma associação de empregadores, mas ao fim desses dois meses comecei logo a dar aulas dentro dessa área. Desde o momento em que iniciei a minha vida profissional, só cerca de dois, três meses, é que não desempenhei estas atividades como docente, que foi sempre aquilo que eu quis desempenhar. 

Quando se dá o seu primeiro contato com a política? 

Bem, eu sempre me interessei muito por política, desde muito novo, não consigo precisar exatamente o momento da minha vida em que a política me começou a interessar. Mas posso considerar que foi quando concorri e fui eleito presidente da Associação de Estudantes da Escola Secundária Poeta Joaquim Serra, estava no 11º ano,

Desempenhei essa função duas vezes, no décimo primeiro e no décimo segundo ano. E acho que foi isso que, de algum modo, consolidou este meu gosto, este meu interesse para a política. Para a política no sentido positivo, enquanto atividade que é capaz de transformar a vida das pessoas, tomar medidas que fazem diferença na vida das pessoas. 

E o seu primeiro contacto com o Partido Socialista?

A maior parte da minha família – se não quase toda – são simpatizantes do Partido Socialista, portanto sempre tive uma inclinação para o PS, por isso comecei logo com 18 anos a integrar as listas do nas autárquicas de 2005 para a Assembleia Municipal. 

Comecei a participar na Juventude Socialista com 16 ou 17 anos mas só me filiei mais tarde, com 24 anos. Durante o tempo que estava a tirar a licenciatura não tive atividade política, estava a estudar porque queria ter boas notas para poder dar aulas. Não reconheço nenhum momento em que tenha tido outra identificação partidária. 

Há muitos anos que está envolvido na vida política do Montijo, até como eleito. 

Que avaliação faz destes 28 anos seguidos do Partido Socialista à frente do executivo da Câmara Municipal?

Como é normal com quem está no poder há muito tempo, fazem-se coisas boas e coisas menos boas e nós temos que ter essa objetividade e esse sentido crítico. Eu acho que o PS fez obras estruturantes, muito importantes para o nosso Conselho, construiu e reabilitou escolas, construiu e reabilitou equipamentos culturais, implementou medidas de política social que tiveram na vanguarda em muitos pontos do território, mas como disse, todas as experiências de poder tem coisas boas e tem coisas menos boas.

O nosso foco agora – passados estes 28 anos, em que o PS, como disse, fez muitas coisas positivas para transformar o nosso Conselho – é abrir um novo ciclo político e é isso que eu acho que as pessoas esperam do Partido Socialista, um novo ciclo político com novas ideias, mas também com novos protagonistas, com pessoas preparadas do ponto de vista técnico e do ponto de vista político. 

Hoje as funções políticas não são funções que possam ser desempenhadas com amadorismo e com boa vontade, simplesmente por se dizer que é da terra, é necessário a pessoa ter preparação técnica e política para poder desempenhar estes cargos e, portanto, são candidatos com esse perfil que nós vamos apresentar.

O que destaca desses “efeitos da obra do PS” de que falou, qual foi a grande transformação promovida pelo PS no concelho do Montijo?

Acho que neste momento essas medidas foram sendo julgadas e esses mandatos foram sendo julgados ao longo dos anos em várias eleições autárquicas, por isso é que o PS ganhou sete vezes consecutivas, com cabeças de lista distintos. 

Neste momento o que as pessoas esperam de nós é que preparemos o futuro e sejamos capazes de apresentar um projeto político sério que esteja à altura deste novo contexto do Montijo de agora, que é uma terra maior, um concelho que cresceu muito e que vai ser confrontado com a fixação de um aeroporto, que é uma oportunidade fantástica e que temos que aproveitar do ponto de vista da qualificação do nosso território. 

Aquilo que as pessoas esperam é um novo Partido Socialista, com novas ideias, com novos protagonistas, um programa com medidas sérias, exequíveis, e que possam responder aos desafios que o Conselho enfrenta. Acho que é isso que as pessoas hoje esperam do Partido Socialista, e é nisso

Sobre a lista independente liderada por um antigo autarca e dirigente do Partido Socialista. 

Antes desta divisão no PS, como era a sua relação com o candidato Fernando Caria?

Acho que não me cabe a mim fazer comentários sobre as listas de candidaturas adversárias. Isso não é uma tarefa do Partido Socialista. 

Não sobre as listas, especificamente sobre a sua relação com um antigo colega do Partido Socialista, o Fernando Caria?

Pessoalmente, foi meu camarada do Partido Socialista e é uma pessoa por quem tenho consideração, foi durante muito tempo visto como muito próximo do presidente Nuno Canta, mas tomou a sua decisão, pelas razões que são públicas, de abraçar um projeto alternativo.

Eu acho que o foco do Partido Socialista não deve ser olhar para os seus adversários, mesmo que eles sejam seus anteriores militantes, deve concentrar-se na preparação do seu projeto político, um projeto renovado, com quadros qualificados e que responda de forma séria e exequível aos desafios do Montijo. 

Do ponto de vista do funcionamento interno que repercussões é que esta divisão teve nas estruturas do PS Montijo?

Eu acho que o Partido Socialista é um partido livre, portanto, respeita as decisões que são tomadas pelos seus militantes, mas é um partido que está unido e está muito concentrado na preparação do projeto autárquico que, neste momento, somos nós que estamos a protagonizar, na Câmara, nas Juntas, na Assembleia Municipal.

Foi líder da bancada do PS na Assembleia Municipal durante vários anos, mas agora apresenta-se como candidato a presidente da Câmara e fala em novas ideias e novos protagonistas. 

Porquê falar em novas ideias e em novos protagonistas se lidera a bancada de um partido que está no poder há 28 anos?

Bem, em primeiro lugar, novos protagonistas, porque os protagonistas anteriores cessaram os seus mandatos. Nós tivemos dois presidentes de Câmara que cumpriram os mandatos, candidataram-se o número máximo de vezes que era possível, e portanto, logo por aí, teria que haver uma necessidade de novos protagonistas.

Acho que estamos sintonizados com o sentimento da população de que neste momento o Montijo é um concelho com outra dimensão, é um concelho que vai receber em breve um aeroporto, é um concelho em forte crescimento e precisa de um projeto com essa medida.

E é isso que nós apresentamos, um projeto renovado, pela positiva – não é dizer mal de ninguém – mas apresentamos uma lista com pessoas qualificadas e um projeto com soluções exequíveis. É nisso que nós estamos focados, não é propriamente na história e nem nos efeitos diversos dessa história. 

Falou num projeto renovado. Mas concretamente, em que medida é que PS Montijo é um projeto renovado ou diferente do anterior? 

Olhe, eu apresentei aqui várias medidas que são medidas novas, que não vinham do passado. Aliás, de tudo aquilo que eu referi, a única coisa que vinha do passado é o projeto da construção de um novo centro de saúde. Mesmo assim, o que nós vamos fazer é a etapa seguinte. Porque neste mandato foi feito o projeto, nós vamos executar a obra. Todas as medidas que lhe falei até agora são medidas novas. 

Nesse caso, admite que não será um projeto de continuidade? 

É um projeto renovado, porque a política é feita de ciclos. Nós estamos neste momento a iniciar um novo ciclo político.

Sobre o futuro do Montijo e esse novo ciclo político. 

Quais são os problemas que o Partido Socialista identifica como prioritários resolver num futuro próximo, sendo que é um concelho que tem sido – desde 1997 – governado  pelo PS? 

Eu, mais do que a palavra problemas, prefiro falar em desafios, até porque muitos deles são fenómenos nacionais e até internacionais que se repercutem no Montijo e para os quais é necessário dar resposta. E nós temos vindo a identificar esses desafios desde o momento da apresentação da candidatura. 

São desafios na área da educação, na área da saúde, na área da habitação na área da gestão dos movimentos migratórios e também na área da captação de investimento. Para além destas prioridades, obviamente há outras áreas de atuação que têm de merecer a nossa atenção, ao nível da segurança, da cultura e do desporto. 

Não tanto áreas de atuação, mas que problemas concretos é que a sua candidatura identifica?

São desafios – digamos assim – o que eu acho que importa é fazer frente. Por exemplo, ao nível da educação, o Montijo – entre 2011 e 2021 – cresceu 9% acima da média da área metropolitana de Lisboa, são 2%, e cresceu também em termos de população jovem. 

Diz-se muitas vezes que são só migrantes, também são imigrantes, mas não são só, eventualmente, na sua maioria, são imigrantes nacionais, digamos assim, que vêm de outros pontos do território e que aqui se fixaram. 

Portanto, nós temos o desafio de construir novas escolas que permitam dar resposta a este crescimento populacional, este crescimento de jovens em idade escolar. E já assumimos esse compromisso de construção de um novo centro escolar, do terceiro ciclo, da pré-escola ao terceiro ciclo, aqui na União de Freguesias de Montijo e Afonsoeiro. 

Assumimos também o compromisso da reabilitação faseada, quer da Escola Secundária Poeta Joaquim Serra, quer da Escola Dom Pedro Varela, que não eram da responsabilidade da Câmara até mais ou menos 202 ou 2022. Para além da obra do Centro Escolar de Pegões, que é também uma obra antiga mas que neste momento está a concurso.

Há cerca de um mês o prazo foi prorrogado por questões de pedidos de esclarecimento de oponentes ao concurso, mas que é uma obra que nós esperamos que tenha condições de ser adjudicada ainda neste mandato e, portanto, no próximo mandato teremos que dar execução a essa obra, se ela ainda conseguir ser adjudicada neste mandato. 

Mas considera que existem problemas apenas na área da educação?

Também ao nível da saúde, acho que esse é também um novo desafio que se coloca e aquilo que nós perspectivamos como necessário é a construção de um novo centro de saúde. A Câmara não tem competências para contratar médicos de família, para contratar enfermeiros, isso são competências que ficaram reservadas ao Governo Central.

Nós assumimos esse compromisso neste  últimomandato e foi feito o projeto, tendo em vista a construção de um centro de saúde em instalações que a Câmara também adquiriu no passado, por isso nós assumimos o compromisso de construir esse novo centro de saúde no próximo mandato.

Como pretende combater os efeitos locais e regionais da atual crise da habitação na área metropolitana de Lisboa e em particular no concelho do Montijo?

Ao nível da habitação, temos aqui um exemplo típico de um problema que não é só do Montijo, é um problema nacional e até internacional. O desafio que hoje se coloca é de conseguir disponibilizar fogos, habitação a custos acessíveis. A esse nível, como sabe, a Câmara apresentou algumas candidaturas para a construção e realização de fogos ao PRR, que neste momento está a executar. 

Eu acho que o caminho tem que passar não só pela construção, ou pela Câmara e por entidades públicas, mas também por mobilizar os privados para este esforço. Por exemplo, cedendo terrenos ou espaços que sejam públicos da Câmara a esses privados, às instituições privadas sem fins lucrativos, para que neles possam construir habitação a custos acessíveis. 

O mercado da construção no Montijo já é dinâmico. Negociando com os privados a possibilidade de implementar taxas urbanísticas.  São taxas muito caras que, em vez de serem pagas em dinheiro, poderiam ser pagas em espécie ou em fogos que sejam cedidos à Câmara e que possam ser colocados no mercado a um custo adequado às classes médias. Não temos ainda todo o programa fechado ao nível da habitação.

Todo o programa ainda está em preparação, estou a adiantar apenas algumas medidas. Por exemplo, pretendemos dar isenções de taxas, de tarifas e de benefícios fiscais aos privados. Com a criação de um gabinete de apoio ao investimento queremos também facilitar os circuitos e, de alguma maneira, desburocratizar ao nível da Câmara Municipal. 

Mas o problema que aqui se tem colocado, e que hoje, de facto, é um problema, é que efetivamente nós recebemos um número de imigrantes superior àquilo que tínhamos eventualmente capacidade de receber, e isso às vezes ressente-se também ao nível da habitação.

E tem algum compromisso eleitoral relativamente aos efeitos da imigração no concelho do Montijo?

Qualquer compromisso sobre isto só pode ser assumido partindo de dois pontos – o primeiro é que, em maior ou menor quantidade, esta mão de obra é necessária. E nós já tínhamos esse pré-entendimento, mas fizemos um conjunto de visitas e de reuniões com empresários, particularmente na União de Freguesias de Pegões, e confirmámos que a generalidade dos empresários diziam que essa mão de obra era necessária para o desenvolvimento das atividades económicas no nosso concelho.

Mas os empresários com quem falou disseram-lhe que aqueles trabalhadores em particular eram necessários para o desenvolvimento das atividades económicas no concelho?

Não daqueles em particular, mas sim uma mão-de-obra com aquelas características. 

Está a falar em mão-de-obra barata?

Não digo que seja mão de obra barata, porque toda a mão de obra deve ser toda bem paga, mas mão-de-obra com as características para o desenvolvimento daquelas atividades. É preciso haver pessoas que trabalhem na agricultura, que trabalhem em outro tipo de atividades, no turismo, etc. Portanto, essa mão de obra é necessária e a verdade é que nós não a temos em quantidade suficiente.

Depois, o outro ponto de partida, que é um ponto de partida que também deve ser assumido com muita honestidade, é que a Câmara não pode regular movimentos migratórios. Não pode proibir, não pode autorizar. Portanto, independentemente de nós podermos achar que as políticas migratórias foram mais ou menos reguladas, essa não é uma questão que a Câmara ou as Juntas de Freguesia conseguissem fazer diferente.

O que acha que a Câmara e as Juntas de Freguesia podem fazer para ajudar a gerir esta situação? 

Combatendo situações de habitações indignas. Uma das propostas que nós temos é aprovar um regulamento municipal que fixe critérios orientadores do número de pessoas que podem viver em cada fogo de acordo com a tipologia dos fogos. Isto, naturalmente, não seria para pessoas do mesmo agregado familiar.

Este é um vazio que há na lei e que também tem justificado alguma dificuldade de intervenção das autoridades, mas esse regulamento, uma vez aprovado, permitirá às juntas de freguesia recusarem atestados de residência quando houver várias pessoas que se apresentem na mesma morada. Portanto, ajudamos aqui, de algum modo, a corrigir estas situações. 

Por outro lado, o esforço que a Câmara e que as Juntas de Freguesia devem fazer – porque justamente não têm esse tal poder de regulação, de proibir ou de autorizar – é de garantir que as pessoas que vêm para cá viver e que são úteis, respeitam a nossa cultura, os nossos valores, o nosso modo de vida. 

Portanto, é aqui um trabalho de integração das pessoas, da nossa cultura, do nosso modo de vida, das nossas regras e é para aí que deve ser direcionada a nossa estratégia. Nós depois vamos apresentar um programa mais detalhado quanto a isso. 

Entre discussões no Conselho Municipal de Segurança e as críticas que vamos ouvindo dos comerciantes e dos habitantes, especialmente no centro histórico, fala-se num “sentimento de insegurança”. 

Percebe de onde é que vem este sentimento e de que se queixam estas pessoas? 

Há um número de assaltos que têm acontecido aqui nesta zona da cidade e qualquer pessoa que seja vítima de uma situação desta já é mau e já é grave. Há sempre aqui uma dissociação entre os casos concretos da pessoa A, B ou C e os grandes números que nos mostram o quadro. E os grandes números não apontam para este aumento, mas há uma perceção e, portanto, nós temos que ajudar a combater essa perceção.

É preciso que se diga que o grosso deste trabalho é um trabalho das forças de segurança, da polícia, designadamente reforçando o policiamento. Mas a Câmara Municipal pode dar aqui um contributo, visto que é impossível contratar empresas privadas para fazer vigilância. O que a Câmara pode fazer, que isso sim é legal, tem acontecido no Porto, em Leiria, noutros concelhos, é disponibilizar ao um serviço de guardas noturnos.

Os guardas noturnos são profissionais liberais, mas é uma atividade que é licenciada pelas câmaras municipais e a Câmara pode impulsionar isto especificamente aqui para esta zona do nosso concelho e pode encontrar também mecanismos de apoio financeiro que permitam manter esta atividade. 

Não faz nenhuma ligação direta entre o despovoamento e degradação do centro histórico e esta percepção de insegurança?

Eu não sei se concordo inteiramente com isso. Os números não dizem que seja propriamente um problema, os números oficiais não dizem propriamente que tenha havido um aumento da criminalidade, ou sequer da criminalidade violenta, mas há um aumento da sensação de insegurança, e isso mexe com as expectativas das pessoas. Concretamente aqui no centro da cidade, na zona da Baixa, isso tem sido muito relatado pelos comerciantes, já motivou inclusivamente reuniões do Conselho Municipal de Segurança.

Eu acho que o município tomou, já há cerca de 10 anos, um conjunto de medidas que têm tido efeitos muito positivos e que têm acelerado a recuperação de edifícios no centro histórico da cidade.Falta-nos, eventualmente, outra possibilidade de intervenção que está prevista na lei e que nunca tomámos, mas que é a nossa intenção tomar. 

Portanto, pode haver incentivos fiscais à recuperação do edificado, de prédios no centro histórico e pode haver penalizações, designadamente em sede de IMI, a quem não reabilita, a quem não recupera. Pode ter o seu contributo, provavelmente, para esta sensação de insegurança, mas na realidade o problema é mais grave. Se calhar, há 10 anos atrás, não havia esta sensação de insegurança.

Relativamente às dificuldades no acesso à saúde no concelho. Já existe uma CUF e houve agora um investimento milionário das clínicas Affidea, mas mesmo assim o Montijo continua a ser dos concelhos do Distrito de Setúbal com maior dificuldade de acesso à saúde – mais de 70% da população não tem acesso a um médico de família.

Considera que a construção de clínicas privadas foi uma boa solução?

A afirmação do setor privado da saúde é normal, aconteceu em muitos outros pontos do território e também aconteceu no Montijo. Nós não temos nenhum preconceito quanto à iniciativa privada. Agora, não consideramos é que área da saúde privada seja alternativa ao Serviço Nacional de Saúde.

Como disse, ao nível da contratação dos médicos, dos salários dos médicos, todas essas questões, são da responsabilidade do Governo. Portanto, um candidato a uma Câmara Municipal que viesse prometer isso, ou não sabia do que falava, ou estava a mentir – as duas coisas seriam más.

Mas pode negociar o número de vagas e o número de médicos. Há casos de várias autarcas no Distrito de Setúbal que fizeram pressão junto do Governo Central. 

Se for eleito entende que não deve fazer essa pressão?

Quem se comprometer a resolver o problema não está a falar a verdade. Aliás, mesmo o Governo Central, que tem o poder de resolver os problemas, o Governo do Dr. Montenegro tinha-se comprometido em resolver tudo em dois meses e parece que só piorou, não é?

O que a Câmara pode fazer é ao nível da infraestrutura e nós assumimos esse compromisso da construção deste centro de saúde e depois, mais tarde, de outras infraestruturas que se venham a revelar necessárias. Portanto, esse é o nosso foco para tentar responder a esse problema. 

Relativamente aos transportes e em particular a ligação de barco a Lisboa, há quem se queixe que o cais é muito longe do centro do Montijo e que existem falhas na ligação. 

Quais são as soluções do PS para responder a este problema?

Relativamente aos transportes, também aqui é necessário perceber o que depende da câmara e o que não depende da câmara, mesmo dependa de forma relativamente indireta. Quanto ao transporte rodoviário – os autocarros – as câmaras têm competência ao nível do transporte municipal, apenas dentro dos concelhos. 

Essa rede intermunicipal é financiada parcialmente pelos municípios e o município do Montijo é dos que tem o maior esforço financeiro para esse financiamento, mas é um processo que é todo ele gerido pela a Área Metropolitana de Lisboa. 

Acho que é um sentimento generalizado das pessoas de que a oferta de autocarros tem melhorado significativamente. Isto são coisas que só se podem avaliar no médio prazo e acho que esse deve ser o nosso compromisso. Ao nível do transporte fluvial do barco, isso não é uma competência da Câmara,

Pergunto especificamente sobre a ligação de transportes entre o cais dos barcos para Lisboa e o centro do Montijo, que é da competência da Câmara reforçar horários e carreiras quando necessário.

Na perspectiva do PS esta é uma ligação que funciona bem para quem trabalha em Lisboa e vive no Montijo?

Eu acho que a ligação aos barcos hoje funciona de forma regular. Consegue-se que haja uma ligação entre as várias carreiras, com autocarros a sair do Seixalinho e a vir para o centro do Montijo. Não temos nota de nenhum problema.

Havendo alguma descoordenação, ela deve ser corrigida. Mas, de acordo com a informação que temos, a situação funciona de forma relativamente regular. Acho que o problema se põe mais na necessidade de haver mais barcos.

Continuando a falar sobre a relação do Montijo com o Rio Tejo, tem algum projeto previsto para a zona da Frente Ribeirinha?

É muito comum nas campanhas eleitorais usar-se o chavão de virar o Montijo para o Rio, virar a cidade para o Rio, já tem sido utilizada nesta candidatura também. Nós não vamos fazer uma campanha com base em frases feitas, porque achamos que isso não é isso que responde às pessoas, vamos fazer uma campanha baseada em propostas concretas.

E apesar daí haver vários constrangimentos, ao nível da recuperação e da reabilitação da Frente Ribeirinha, porque a maior parte dos terrenos que nós estamos a falar são terrenos privados e portanto é preciso negociar e encontrar soluções de articulação com os privados, nós temos já alguns compromissos que assumimos e que são compromissos exequíveis.

Queremos recuperar o edifício aqui do antigo terminal fluvial do Cais dos Vapores e usá-lo para fins náuticos, recreativos, também para espaços de lazer e de restauração, para permitir também que aí atraque uma embarcação para fins turísticos que a Câmara Municipal do Montijo está a construir. 

Assumimos também o compromisso de construir um parque urbano com um corredor verde, reabilitando aquela zona ali onde funciona a Feira de São Pedro, porque tem ali um terreno de terra batida e tem ali estacionamento. Portanto, esse espaço assumimos o compromisso de o reabilitar, de construir aí um parque. 

Mas nos últimos mandatos não houve nenhuma alteração e a zona da Frente Ribeirinha continua ao abandono. 

O que está a dizer é que esse projeto do PS já está em curso?

Está em curso a candidatura e depois vai ter que se apresentar um projeto para a obra e depois fazer a obra. Dizia também, agora com negociação com outras entidades, recuperar o espaço ali onde funciona o mercado da reforma agrária, que é um espaço da APL, e portanto terá que haver uma negociação com a APL nesse sentido. 

Terá que haver também aí uma negociação com privados, quer pela via de contrapartidas de operações de loteamento, quer de outras formas. Pretendemos também construir um conjunto de jardins temáticos dedicados às atividades económicas tradicionais, ali na Rua da Bela Vista. 

Mas o Partido Socialista do Montijo nunca acompanhou propostas de outras forças políticas sobre a reabilitação da Frente Ribeirinha e também ainda não se pronunciou sobre os projetos do Governo para esta zona. 

Pretende integrar este projeto no mega-empreendimento do Arco Ribeirinho do Sul?

O PS nunca acompanhou nenhuma dessas propostas. O projeto Parque Cidades do Tejo não contempla estas intervenções que lhe estou a referir. Mas elas são perfeitamente coerentes com os propósitos desse projeto. 

Nesse sentido, porquê falar agora da questão da recuperação da Zona Ribeirinha se sempre rejeitou todas as propostas? 

Às vezes diz-se que o PS nestes anos todos não fez nada na frente de Ribeirinho. Também não é verdade. Se olharmos aqui para  zona que vai até ao antigo terminal fluvial, todo este espaço foi reabilitado em tempos de executivos do PS.

Na governação autárquica há sempre coisas que se fazem e outras que não se fazem. Naturalmente o PS poderia ter feito muito mais aqui nesta zona, mas concentrou-se eventualmente noutras áreas e noutras prioridades. 

Mas eu acho que o que as pessoas hoje estão mais interessadas não é no que não se fez no passado. As pessoas estão mais concentradas em saber de soluções, que propostas é que os partidos têm para o futuro.

Relativamente às buscas da Polícia Judiciária que foram feitas na Câmara Municipal do Montijo e em particular aos gabinetes do executivo socialista. 

Que repercussões é que isto pode ter para a sua candidatura?

Bem, em primeiro lugar é preciso ter atenção que os factos que estão em causa e que motivaram essa investigação não são factos onde têm tido intervenção nenhuma das pessoas que atualmente é candidata, nem à Câmara, nem às juntas, nem a nenhum desses órgãos.

Por outro lado, estamos a falar de investigações, portanto, não há ainda pessoas que tenham sido acusadas ou sequer tenham sido constituídas arguidas, portanto, o bom princípio no Estado de Direito é que nós devemos partir da inocência das pessoas e não da culpa, portanto, devemos presumir que as pessoas são inocentes.

Nós temos que separar aquilo que é a política daquilo que é a justiça. Compete à justiça esclarecer os factos, ver se eles são ou não crime, tomar as medidas que entender e nós respeitamos integralmente a atuação da justiça. Aquilo que compete aos políticos é preparar projetos políticos que respondam às necessidades dos cidadãos. É nisso que nós estamos concentrados e eu acho que é isso que as pessoas vão valorizar, não é propriamente outras coisas.


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