
Berlim, 29 de agosto de 2025 — Munique, 30 de agosto de 2025
No coração da cidadela: Berlin, Off Days, 29 de agosto
A Zitadelle Spandau — uma imponente fortaleza renascentista nos limites de Berlim — transformou-se naquela noite num salão para a reemergência. Sob o céu já escurecido, o público começou a se aglomerar por volta das 18h, enquanto o festival Off Days desenrolava as suas camadas musicais com doses de modernidade e nostalgia.
Quando Nelly Furtado subiu ao palco, carregava não apenas sua voz, mas uma promessa: provar que este retorno não seria apenas um revival, mas algo que se encaixasse no presente. A escolha do local — uma cidadela com muralhas, torres, água ao redor — conferiu ao evento uma aura quase mística, uma moldura arquitetônica que dialogava com a ideia de travessia entre passado e agora.
A performance e o repertório
Ao longo de cerca de 90 minutos (estimados, dada a escala de festival e a programação multidisciplinar), Nelly mesclou clássicos e novos temas — revelando uma artista que olha para trás com gratidão, mas insiste em caminhar adiante.
Destinos como “Promiscuous”, “Maneater”, “I’m Like a Bird” e “Say It Right” foram recebidos como se fossem velhos amigos reencontrados. Mas não faltaram surpresas: momentos de introspecção, intervenções visuais discretas e pausas que permitiam à plateia respirar entre os hits. A articulação entre luz, som e presença em palco mostrou um cuidado que transcende nostalgia e se lança no domínio da afirmação artística.
A plateia, diversa em faixas etárias, respondia em coro às músicas que marcaram os seus anos, mas que se deixava envolver nas transições menos esperadas — um sussurro coletivo quando “All Good Things (Come to an End)” ecoava líquido entre as pedras da cidadela.
Visualmente, Nelly pareceu planear cada visual como parte de uma narrativa: dos figurinos mais ousados às escolhas de luz e sombra, o espetáculo reforçava sua mensagem de confiança, autoconceito e reconquista de voz.
Se em Berlin o ambiente era mais contido e de proximidade — como um recital elevado —, trazia consigo a emoção crua do reencontro, carregada de expectativa.
Do micro ao macro: Munique, Superbloom, 30 de agosto
A transição foi drástica. Onde Berlin ofereceu intimidade, Munique ofereceu magnitude — o Superbloom Festival no Olympiastadion, dentro do vasto complexo do Olympiapark, transformou a noite em espetáculo de escala.
O festival celebrava seu “retorno triunfal”, com datas lotadas e uma plateia estimada em dezenas de milhares. Nelly Furtado foi anunciada como uma “surpresa especial” do primeiro dia — um ponte entre o presente e o arquivo afetivo de fãs (e curiosos).
Setlist e momentos marcantes
O setlist registrado para Munique confirma o que muitos esperavam: uma fusão de clássicos e novas inserções — “Maneater”, “Promiscuous”, “I’m Like a Bird”. Em meio à grandiosidade do estádio, cada refrão explodiu como faísca coletiva, e em cada canto ouvia-se vozes reproduzindo versos com precisão afetiva.
Em contraste com Berlin, Munique permitiu momentos de espetáculo visual mais vistosos: projeções amplas, efeitos de luz mais agressivos, e arranjos que “preenchiam o estádio” — não só com som, mas com ambiência sonora que abraçava a multidão. Em alguns instantes, Nelly parecia dirigir a orquestra humana, percebendo a magnitude do espaço sem perder a conexão emocional com o público.
A penumbra inicial cedeu a explosões de cor, enquanto ela transitava com segurança entre faixas dançantes e baladas introspectivas — tudo envolto numa produção que, sem opacar sua voz, a amplificava.
Se Berlin soou como um momento de reencontro íntimo, Munique provou que ela ainda pode dominar arenas — não só pela nostalgia, mas pela presença renovada.
Dueto entre as duas noites: reflexões e tensões
Assistir aos dois concertos consecutivos revelou contrastes que enriquecem o entendimento da “Better Than Ever Tour”. O que pareceu um luxo no contexto berlinense — pausar entre canções, atender a nuances — transformou-se em desafio em Munique, onde cada transição precisava dialogar com volume, ritmo e expectativa de massa.
Voz e corporeidade. Nelly, sabendo que carregava uma narrativa de “retorno”, deixou que sua voz falasse, mas permitiu que a encenação — visual, figurativa — sublinhasse a mensagem: não é apenas reedição, é reapropriação.
O diálogo com o público. Em Berlin era possível sentir os olhares, a respiração coletiva. Em Munique, o público era oceânico, mas ainda assim pulsava em uníssono: cada refrão parecia universal, cada silêncio um momento de coesão.
Produção vs intimidade. Há risco — sempre há — que a escala consuma a proximidade. Mas, nas horas mais contidas da apresentação em Munique, consegui respirar a presença de Nelly no meio da multidão. E em Berlin, cada nota era pessoal.
Para quem esteve nas duas noites, a tour se revelou ambiciosa e sentimental, híbrida em seus propósitos. Não basta revisitar sucessos — é ressignificá-los no presente. E, sob esse critério, Nelly Furtado deu um recado claro: ela retorna não como eco, mas como voz — melhor do que nunca.
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