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Desafios e Dedicação: A Liderança de João Guerreiro nos Bombeiros de Palmela

Bombeiros correm-lhe nas veias e sempre viveu para os bombeiros, militar de gema, mas bombeiros de alma e coração. João Guerreiro é atualmente o comandante dos Bombeiros de Palmela e falou com o nosso jornal.

Desde 2018, João Guerreiro, comandante dos Bombeiros de Palmela, enfrenta desafios com coragem e dedicação. Em entrevista exclusiva ao Diário do Distrito, compartilhou detalhes da sua trajetória e as dificuldades encontradas na liderança da corporação.

João Guerreiro iniciou a sua carreira na Marinha e, em 2009, ingressa o curso de oficial de fuzileiro, onde atuou por oito anos antes de retornar aos bombeiros. “Já vinha anteriormente da Marinha. Já eu era bombeiro. Entretanto, ingressei no curso de oficial de fuzileiro em 2009. Fiz o curso e depois estive lá durante oito anos, a exercer funções como oficial nos fuzileiros. Depois, voltei novamente a fazer serviço aqui nos bombeiros”, relembra.

Convidado pelo elemento de comando, João Guerreiro assumiu o posto de segundo comandante. Em dezembro de 2018, com a saída do então comandante, o jovem operacional é convidado pelo presidente Otávio Machado para assumir interinamente a função de comandante, posição que ocupa até hoje. “Exatamente. A partir daqui, fui convidado para comandante interino, porque não tínhamos nenhum comandante. Eu, como era segundo comandante, assumi as funções da casa. Depois, o nosso presidente Otávio Machado convidou-me para assumir as funções de comandante e fiquei aqui com a malta”, explica.

João Guerreiro destaca a qualidade humana da corporação. “Isto é uma casa maravilhosa, não há dúvidas disso. Não tem sido um percurso fácil, mas tenho tido ao meu lado os melhores, tanto no comando como no corpo ativo. Temos feito aqui um trabalho de parceria entre nós. Existem muitas dificuldades, que acho que de norte a sul do país os bombeiros estão a passar. Mas temos conseguido ultrapassá-las juntos”.

Um dos principais desafios é a escassez de recursos, especialmente os veículos antigos que demandam constantes reparações. “Os nossos veículos são bastante antigos e requerem uma reparação enorme. São veículos com muito desgaste, que andam diariamente quase 24 horas sobre 24 horas. Não é fácil gerir a frota em termos mecânicos”, afirma João.

No entanto, uma boa notícia traz esperança à corporação. “Vamos ter este ano, felizmente, para setembro, a chegada de um veículo de combate a incêndios urbanos, dado pela Câmara Municipal de Palmela. É um veículo totalmente novo, com tudo o que necessitamos”, comemora.

Na parte de previsões para o futuro, o comandante dos Bombeiros de Palmela tem muitas reservas para todas as corporações de bombeiros de Portugal: “A evolução das coisas tem, e eu acho que os corpos de bombeiros não acompanham esta evolução. O problema são os apoios. Tudo hoje em dia tem um preço, tudo é monetário. Se nós não tivermos um apoio, nós não conseguimos acompanhar o futuro”, afirmando ser necessário mais investimento em equipamentos, em apoio de viaturas e também a nível de tecnologia, os bombeiros de outros países comparados aos portugueses, estão num nível mais elevado, mas João Guerreiro acredita que com boa vontade dos governos, tudo poderá acontecer.

A relação com outras entidades de apoio, como o GIPS da GNR, é vista com cautela. “Toda a ajuda é bem-vinda, mas acho que se esqueceram um pouco dos bombeiros. O que forneceram aos GIPS, se dessem aos bombeiros, poderíamos estar melhores”.

Questionado se os bombeiros portugueses ficaram parados no tempo em relação aos novos meios que os governos e mais em concreto o ministério da Administração Interna apostou nos GIPS da GNR, equipando aquela força com mais meios e tecnologicamente mais bem equipados, o comandante responde-nos que:”Eu não digo que ficámos parados no tempo. Temos a certeza de que a evolução está a ser feita. O problema são os apoios. Se nós não tivermos um apoio, nós não conseguimos acompanhar o futuro.

João também enfatizou a necessidade de formação e preparação da comunidade local para lidar com situações de emergência, ressaltando a importância de programas como o “Aldeia Segura”, que foi testado e funcionou eficazmente durante um incêndio em Palmela.

A conversa já ia longa quando entramos na recordação do incêndio de Palmela, o comandante lembra-se de tudo como se fosse o 13 de julho de 2022 hoje, para o responsável dos bombeiros de Palmela, o socorro não foi tardio, “como comandante que sou, não vejo que o socorro foi tardio, não. Foi mesmo na hora”, mas admite que existiu falhas de algumas entidades como o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas: “Referente ao ICNF, aquilo que acho estranho é que queríamos fazer algumas faixas de contenção, mas não se pode fazer nada. Quando arde tudo, já se pode fazer tudo. E isto custa-me”.

Apesar das dificuldades, João expressou gratidão à população e aos seus colegas bombeiros pelo apoio constante. “É uma oportunidade que tenho e obrigado mais uma vez pelo Diário do Distrito entrevistar-me e dar-me a oportunidade de dizer isto em público, que eu não sei se chegou a muita gente, eu mais uma vez reitero o meu profundo agradecimento a todos os corpos de bombeiros que me vieram ajudar no dia do incêndio de Palmela. Não só a eles, mas também à minha população de Palmela, que foi incansável, e todos os apoios logísticos a nível de outras entidades que nos fizeram chegar, foram incansáveis. Desde desse dia até ao final do dia que eu desempenhar funções de comandante aqui, todos os dias agradeço aos homens e mulheres bombeiros, às pessoas de Palmela, às pessoas fora de Palmela e às entidades que nos ajudaram nesse dia. Foram incansáveis, sem dúvida. E acima de tudo agradecer ao comandante João Pinto e a todos os elementos que estavam na sala do CDOS, que foram também incansáveis comigo, nunca me deixaram falhar nada, nunca deixaram prestar o seu apoio e isso não há dinheiro nenhum no mundo que pague essa ajuda que nos deram, não há mesmo. E eu agradeço imenso, agradeço mesmo imenso. Aquilo que tu me dizes, se estamos, a nossa área de atuação e de intervenção, se estamos capacitados com meios humanos e meios materiais, eu posso dizer que por mais que tivéssemos muito, tudo o que tivéssemos era sempre pouco. É um facto. Posso dizer que sempre que acontece alguma situação, alguma ocorrência, posso-te garantir uma coisa. Palmela responderá presente e responderá na hora e operacionalmente. Se nos falta material, falta-nos. Falta-nos muito material. Falta-nos mesmo material. E como eu te disse, os nossos veículos não são novos. Faz-nos falta veículos. Faz-nos falta meios que conseguimos colocar no terreno que não estejam tão… se calhar a palavra não é certa, mas que não são os melhores carros a nível de mecânica, porque isto são carros muito antigos e que já têm muita rotação em cima. E se conseguíssemos ter aqui uma maneira de os renovar a cada cinco anos, seja o que for, para nós era o ideal. Mas posso dizer que com esta direção também, mas com a direção antiga conseguimos também irmos renovando o nosso material, e isso agradecendo ao presidente Otávio Machado, que também conseguimos colocar aqui um material novo dentro do nosso quartel. E também ao presidente atualmente, Manuel Simões, também agradecer o apoio que ele, embora tenha assumido funções recentemente, mas também mostra-se disponível para conseguirmos algumas coisas” prossegue com os agradecimentos: “Agradeço imenso a todos os corpos de bombeiros que me vieram ajudar no dia do incêndio de Palmela. Não só a eles, mas também à minha população de Palmela, que foi incansável. Todos os apoios logísticos a nível de outras entidades foram incansáveis.”

João é enfático sobre a importância da formação para a comunidade local. “Falta, falta de formação. Inclusive, no incêndio de Palmela, foi um incêndio de grande dimensão. Nós nunca tivemos nada aqui com esta parte habitacional. Porque, se formos a ver, o incêndio quase penetrou em Palmela”.

Mesmo diante de tantos obstáculos, o comandante expressa a sua gratidão à população e aos colegas bombeiros. “Agradeço imenso a todos os corpos de bombeiros que me vieram ajudar no dia do incêndio de Palmela. Não só a eles, mas também à minha população de Palmela, que foi incansável. Todos os apoios logísticos a nível de outras entidades foram incansáveis”.

A saúde em Portugal é outro tema que preocupa o comandante dos bombeiros de Palmela: “Respondemos à nossa área de intervenção e fora da nossa área de intervenção. Mas a saúde em Portugal, cada vez mais as pessoas necessitam mais de ajuda dos bombeiros. Os nossos meios não são muitos. Se houver o 6.º e o 7.º serviço, eu já não terei capacidade de resposta porque faço os outros. Alguém tem que vir ajudar”, desabafa.

Apesar das dificuldades, momentos de alegria também marcam a trajetória da corporação. João relembra o recente nascimento de uma criança na ambulância dos bombeiros, conduzida pelas bombeiras Joana e Mara. “Foi um trabalho espetacular. O nascimento de um ser numa ambulância para nós é sempre motivo de alegria”.

A adesão de jovens à corporação é motivo de otimismo. “Felizmente, este ano fizemos agora uma prova de ingresso que resultou na promoção de quatro novos bombeiros, com mais cinco a serem promovidos em novembro. Muita gente ainda tem o sonho de ser bombeiro, mas a vida está tão complicada que muitas vezes as pessoas não têm essa possibilidade”, comenta.

João Guerreiro relembra ainda que o seu dia a dia é feito também com o apoio dos homens e mulheres da corporação dos Bombeiros de Palmela, o comandante agradece todo o empenho que encontra nestes anos todos de comando, aos elementos de bombeiros e a todo o corpo de bombeiros daquela casa: “Agradeço imenso estes anos de comando aos elementos de comando aos elemento de bombeiros de Palmela e que me orgulho imenso deles, de todos!”.

Um dos momentos que marcou a entrevista a João Guerreiro, foi a questão do que em tantos anos de bombeiros e comandante, o que teria marcado na sua carreira, João parou com um olhar pensativo e as lágrimas a bailarem nos olhos…

Questão complicada que agora me colocas Miguel, é mesmo muito complicado para mim (interrupção e com voz embargada da emoção), foi sem dúvida… a morte do Paulinho, isso. Ninguém esperava. São momentos duros. Não há… Não há palavras que…

Para minimizar o ambiente pesado que tivemos com essa recordação que certamente ficará na mente de todos os que conviveram com o bombeiro Paulo, a seguinte foi para saber a situação mais feliz que a corporação teve, e já de sorriso no rosto, o comandante avança que “Já, tivemos aqui há poucos dias, há um mês, nasceu na nossa ambulância, foi com uma equipa dos nossos bombeiros, uma criança, a equipa que estava, que foi a Joana e a Mara, fizeram um trabalho espetacular e o nascimento de um ser humano pequenino que quis sair numa ambulância, e esses momentos para nós é sempre motivo de alegria, claro, óbvio. Sim, nem tudo são as tristezas. Tenho passado bastantes alegrias aqui com os meus homens e mulheres, à qual tenho um agradecimento durante este tempo todo, que sou elemento que mando e tenho um aprecio enorme por eles todos. Às vezes tiram-me aqui um pouco do sério. E é esta falta de cabelo que eu já tenho (risos). Esses cabelos brancos de barba e de cabelo que já tenho. Mandar os homens e mulheres é complicado. Mas tenho um profundo agradecimento por eles todos. E isso faz-me também às vezes a vontade de continuar e ir buscar mais cabelos.

No final da entrevista, João faz um apelo à comunidade: “Aquilo que peço é que não se esqueçam dos bombeiros. Nós existimos, estamos cá, damos de nós, noite e dia, para ajudar o próximo”.

Com dedicação e resiliência, João Guerreiro e a sua equipa continuam a servir a comunidade de Palmela, o concelho de Palmela, a região de todo o distrito e todo o país, enfrentando desafios com coragem e empenho.


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