Quarta-feira, são 10h da manhã, encontram-se 2200 escuteiros no Sesimbra Natura Parque. Ou quase todos, alguns têm outras atividades na Lagoa da Albufeira.
É o maior acampamento conjunto da região de Setúbal e acontece a cada 4 anos. Por região entenda-se a Diocese de Setúbal, os agrupamentos não estão organizados pelo distrito civil, mas pelas dioceses, que cruzam muitas vezes as suas fronteiras.
Neste penúltimo dia do acampamento regional está um tempo ameno, “tem estado calor, mas não demasiado.” Descreve Henrique Matos, um dos chefes dos escuteiros e o responsável pela comunicação do acampamento.
Há muitas árvores e os mais novos constroem papagaios à sombra, com estacas de madeira.
Estes são os Lobitos, e a sua secção ficou com o elemento do vento, representando o Reino de Éolo.
O ACAREG (ACA=acampamento mais REG=Regional) teve a última edição há 10 anos, devido à Pandemia do COVID-19, no espaço onde ocorre o festival Superbock, SuperRock.
Até o final da semana, o recinto recebe escuteiros de todos os agrupamentos da região, entre os 6 e os 22 anos.
O espaço que escolheram desta vez foi o Sesimbra Natura Park. Localizado no concelho de Sesimbra, trata-se de uma propriedade agroflorestal com 867 hectares e inclui uma lagoa com piscina e desportos náuticos.
Ao chegarem ao campo, os escuteiros dos diferentes agrupamentos distribuíram-se por grupos, cada um a representar um elemento (terra, fogo, ar e água).
Veem-se dezenas de tendas, zonas de comer improvisadas, espaços de jogos em terra e na água e, inclusive, chuveiros e zonas de lavar a loiça.
Todas as atividades planeadas durante estes cinco dias destinam-se a convidar os elementos dos grupos a trabalhar entre si. Daí a divisão por elementos, que tendo diferentes características, precisam uns dos outros para se balançarem.
Os mais pequenos ficaram com o vento. Chamam-se lobitos, vão dos 6 aos 10 anos e usam o lenço amarelo.
Dos 10 aos 14 chamam-se exploradores e usam o lenço verde. Neste acampamento ficaram com o elemento da terra.
Os pioneiros usam o lenço azul, vão dos 14 aos 18 anos e aqui representam Poseidon, Deus do mar.
Por fim, os caminheiros, os mais velhos, ficaram com Vulcano, Deus do Fogo. Usam lenço vermelho e vão dos 18 aos 22 anos.
Todos os participantes pagaram 120 euros pela inscrição, que lhes deu acesso às infraestruturas e a comida para os cinco dias. Alguns “trabalharam ou venderam pertences” para estar ali, explica Henrique.
O tema deste acampamento é AETHER-Em Busca da Centelha Perdida. Esta palavra, que todos os escuteiros conhecem, refere-se a uma “entidade” unificadora de povos, explicou Henrique Matos.
Pensa-se que através da colaboração entre os diferentes grupos, seja possível conseguir a união dos “povos”, e reacender esta “Centelha.”.
Henrique Matos éjornalista da agência Ecclesia, a Agência da informação da Igreja Católica em Portugal, onde apresenta diariamente na RTP2, o Programa Ecclesia.
No acampamento, apesar de estar de férias, Henrique ajuda na área da comunicação.
É um momento útil para ele. “Se calhar muitos miúdos iam estar em casa com uma consola de jogos”, cita.
“A ideia não é só vir montar uma tenda”, “qualquer empresa de atividades faz estas coisas, o que nos interessa é o que está para além disto”.
O campo conta também com uma enfermaria, onde trabalham voluntários, assim como sistemas de saneamento instalados por quem tem competência nestas áreas.
Aos dirigentes cabe acompanhar sempre os escuteiros, em todas as atividades.
A hierarquia do escutismo
Os escuteiros estão divididos em agrupamentos, por paróquias e por região, estão distribuídos por vigárias.
A nível nacional é responsável o CNE-Corpo Nacional de Escutas, a maior organização de juventude, com 80 mil jovens no país inteiro.
Também existe a Associação de Guias, mais reduzida, só de raparigas, e a AEP- Associação dos Escuteiros de Portugal. Estes últimos podem não ter ou praticar uma religião fora do catolicismo, como o islamismo, e não têm de participar nas missas, ou em procissões.
Todos os grupos estão debaixo do guarda-chuva da OMME- organização mundial do movimento escutista, e têm de obedecer a certos critérios para serem escoteiros, como a vida no campo, e uma lista de princípios do escuteiro.
Todos os jovens hoje presentes frequentam a catequese. A fé está muito ligada ao escutismo. É proposto que se faça um caminho na igreja, a nível da catequese. Normalmente todos “participam”, se o grupo assiste à missa, é natural que não se afastem só porque não praticam a religião, explica Henrique.
No entanto, a crença não fecha as portas a quem quer entrar. E os motivos da participação estendem-se para além da fé.
Debaixo de um toldo, os mais velhos conversam entre si. Fabiana, pertence ao agrupamento do Montijo há 2 anos. Entrou por sugestão de conhecidos.
Outros são escuteiros desde os 6, com familiares que já andavam nos escuteiros.
Todos estão ali por partilharem os mesmos “ideais” e pelo apreço às “amizades” que foram criando, dizem.
Os agrupamentos costumam estar juntos em atividades de âmbito regional, mas apenas algumas vezes por ano.
Durante uma semana acordam às 7h, vão ao supermercado, almoçam e jantam juntos, e colaboram entre si nas muitas atividades.
“Isso quer dizer qualquer coisa”, explicam ao Diário do Distrito.
Nestes cinco dias, os participantes fazem uma série de jogos de equipa, como tiro ao arco, contam histórias, divertem-se, fazem arborismo, desportos náuticos e ainda mergulham na Lagoa.
A natureza tem aqui um papel muito importante neste meio. “Estar na natureza ajuda-nos a despertar muitas coisas, como o cansaço, o cansaço põe-nos mais frágeis, e precisamos dos outros”, explica Henrique.
Este será um fator que talvez os ajude a alcançar o tal “AETHER”, que falava Henrique falava há bocado, e a manter as pessoas um pouco menos isoladas entre si.
Como se tornar escuteiro? As inscrições abrem em outubro. Até fevereiro ou março a criança conhece “o que é o escutismo”. Consoante a faixa etária, é colocado numa das 4 secções. Depois faz uma promessa. Esta cerimónia ocorre na missa com o resto do grupo, ao estilo do juramento das bandeiras. Há uma saudação, diz a promessa e o padre entrega-lhe o lenço benzido. Cada agrupamento projeta a sua atividade “ao seu critério”. Não vão sempre à missa com o agrupamento, mas é normal irem com as famílias. A ideia é preparar “pessoas para a vida.”, Explica Henrique. “O escutismo trabalha metodologias educativas elaboradas consoante estas faixas etárias” |
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