Copo meio cheio, copo meio vazio

Dizem que na vida, a nossa postura e a nossa atitude face ao que nos rodeia depende sempre da perspetiva que abraçamos.
O titulo deste artigo é um chavao classico dessa analise. Qualquer situação pode ser simultaneamente positiva e negativa. Acontece que, na minha opinião, o excesso de consumo dessa prerrogativa pode conduzir-nos a flagrantes incoerências, especialmente quando forçamos muito para que qualquer situação nos seja proveitosa e muitissimo especialmente quando esse comportamento é adoptado em política.
O PCP e a sua sucursal “ecologista”, PEV, são pródigos utilizadores da visão copo meio cheio, meio vazio, o que lhes confere também um título de pesos pesados da incoerência. Se quem está a ler este texto tentar lembrar-se de intervenções que comunistas tenham acerca de empresas, certamente lhe virá à cabeça os ralhetes de Jerónimo de Sousa e companhia, sobre os malefícios do capitalismo, dos empresários mercenários e da praga que é a acumulação de capital ou o pecado de se obter lucro.
É tudo uma questão de perspectiva. Abriu em Setúbal esta semana, o supermercado do grupo empresarial espanhol Mercadona. Com prontidão terá sido convidado para a inauguração o Presidente da Câmara de Setúbal, e com prontidão terá aceite o convite. Deu-se então a tradicional benção marxista ao projeto capitalista espanhol em terras lusas. Também muito rapidamente se apressou, André Martins, em prestar declarações à comunicação social, elogiando a implantação de mais uma grande superfície comercial na nossa cidade, isto porque, (aí vem o copo meio cheio), demonstra “um sinal inequívoco da confiança que os investidores têm na capacidade da autarquia de gerir este território e de gerar novas e atrativas oportunidades.” No fundo, os senhores autarcas comunistas estão-nos a dizer que o malvado capitalismo flui muito bem em Setúbal graças a eles.
Como dizia o autor brasileiro Raúl Seixas, “o ponto de vista é o ponto da questão”. A Mercadona é um boa notícia para a grande maioria dos setubalenses, principalmente para os que foram contratados; uma facada na luta contra o capitalismo para o PCP; e um inequívoco sinal de que os comunistas são muito bons a atrair empresas, também para o PCP mas na sua versão autárquica.
Cada um escolhe o seu ponto de vista e o presidente André Martins faz como sempre fez o seu partido: muda de perspectiva quantas vezes forem necessárias para ficar bem na fotografia, mesmo que a fotografia não tenha nada a ver com aquilo em que acredita.
PS: Esta semana voltámos a ver noticiada outra contratação duvidosa na Câmara Municipal de Setúbal. Infelizmente voltámos também a ter a mesma resposta do presidente para ler, ou seja, nenhuma porque se recusou a responder à publicação que o noticiou.

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