Carlos Pólvora: “Sentimos que a Quinta do Conde está quase no fim do mundo”
Carlos Pólvora, presidente da junta de freguesia da Quinta do Conde, em entrevista exclusiva ao Diário do Distrito.
Carlos Pólvora, eleito pelas listas do PS, está à frente da Junta de Freguesia da Quinta do Conde desde 2020.
A cerca de um ano das eleições autárquicas, o presidente, em entrevista ao Diário do Distrito, explica qual é a realidade daquela que é a maior freguesia no concelho de Sesimbra.
Esta é a primeira, de duas partes, da entrevista a Carlos Pólvora, presidente da junta de freguesia da Quinta do conde.
Seria interessante começarmos por traçar o esboço geral das principais necessidades da Quinta do Conde.
Temos várias necessidades, algumas da responsabilidade do governo central e outras da responsabilidade da Câmara Municipal. É importante dizer isto porque a Junta de Freguesia debate-se com limitações financeiras.
Temos um orçamento de cerca de 600.000 euros por ano.
Desse orçamento, 65% vai para despesas com pessoal, como salários; 25% para manutenção e reparação e despesas gerais, e 6% para o movimento associativo. Talvez sejamos das freguesias do país que a nível de percentagem mais apoia os movimentos associativos. No final disto tudo, sobra-nos 4%, o que é pouco para gerirmos as nossas necessidades.
Dentro das maiores necessidades da Quinta do Conde, temos o projeto da nova Unidade de Saúde, a nova escola secundária da Quinta do Conde, o novo quartel para a GNR, a loja do cidadão e o novo lar de idosos. É o que precisamos e é responsabilidade do governo central.
Agora…a Câmara Municipal de Sesimbra é “governada” pela CDU há cerca de 19 anos. Há uma série de projetos do programa eleitoral da CDU que nunca foram concretizados.
Dizem-nos que vão construir a Biblioteca, o Auditório, o Pavilhão Multiusos e a estrada dos Almocreves (estrada que liga a freguesia ao concelho sem passar por Setúbal ou Seixal), entre outros.
Sentimos muita falta de infraestruturas. Não temos espaços para fazer concertos e o Parque da Vila apenas serve para o verão.
É necessária também a reconversão de toda a entrada da freguesia junto à Caixa Geral de Depósitos, assim como a reabilitação do Mercado Municipal e a instalação de um Spot Jovem no Parque da Vila.
De todo este conjunto de projetos, o único que está atualmente em construção é o Auditório, localizado no final do recinto da Feira Festa, uma obra que estava prevista há 7 ou 8 anos.
Há dois meses, a Câmara começou a publicitar investimentos, alguns em fase de concurso, outros já mesmo adjudicados, para a Quinta do Conde (Auditório, Biblioteca, Centro de Saúde, Spot das Artes e requalificação do Anfiteatro da Boa Água). Qual é o estado atual destes projetos?
É complicado de dizer porque esses projetos já têm anos. Todos os anos são atualizados, dizem que vai ser agora, vai ser agora…
Dizem que a biblioteca está a concurso, que o Spot Jovem está para começar… mas já ouvi isto há 3 anos atrás. Não sei se é verídico.
Como é a sua relação com o presidente da Câmara Municipal de Sesimbra?
A nível institucional, a nossa relação é normal e não diria que há problemas.
Mas sentimos que a Quinta do Conde está quase no fim do mundo. As coisas, quando são para fazer na Quinta do Conde, levam sempre muito mais tempo do que quando são para fazer nas outras freguesias.
Refere-se às freguesias que são CDU?
Sim, a falar das outras 2 freguesias do concelho – Santiago e Castelo, que, por acaso, são da CDU.
Nós estamos a mais quilómetros de distância e, como as duas estão juntas, se calhar é mais fácil para trabalhar.
Como é que explica essa dinâmica, tendo em conta que a Quinta do Conde é a freguesia mais povoada do concelho?
Temos uma população de mais de 30.000 pessoas, das quais 25.000 são eleitores recenseados com mais de 18 anos de idade. Não tenho explicação. Temos insistido em várias assembleias municipais. Só há promessas.
Creio que em 2025, como vamos entrar no ano de eleições, apareça muita coisa. Ainda agora recebi um e-mail a informar que vão haver 4 atividades culturais na Quinta do Conde, três em Novembro e uma em Fevereiro.
Vejam, durante o ano decorrem imensos eventos culturais na Fortaleza e no Cineteatro de Sesimbra. Aqui há 8 atividades culturais da Câmara, no verão.
Pode-se afirmar que, tendo em conta a dimensão populacional da freguesia, é a Quinta do Conde que sustenta financeiramente a Câmara de Sesimbra?
A Câmara diz que não.
E em termos práticos?
Achamos que sim. Dizem que o IMI é mais alto noutros lados do que aqui… mas diria que sim.
Isso é outra questão: a Assembleia Municipal tem 21 pessoas, das quais 6 são da Quinta do Conde. E os vereadores, que são sete, apenas um é da Quinta do Conde.
Tem a ver com os partidos. O PS, em sete pessoas, tem quatro da Quinta do Conde na Assembleia.
E a Assembleia discute quase tudo relacionado com Sesimbra. Isto quer dizer que, por vezes, os próprios partidos não ligam à Quinta do Conde.
Nas últimas eleições legislativas, o Chega ficou em primeiro na Quinta do Conde. A Câmara de Sesimbra é CDU. Este resultado terá implicações nas autárquicas?
O Chega ficou em primeiro nas legislativas (30,06% dos votos), de facto. No concelho ficou em segundo (25,03%). Mas também podemos falar das europeias, que aconteceram depois das legislativas, em que ficou em terceiro. Isto é muito volátil. Teve a ver com o momento. Nas autárquicas é diferente. A CDU tem vindo a perder votos de eleições para eleições.
Nas últimas eleições autárquicas, os votos que o PS obteve na freguesia do Castelo permitiram superar a diferença que teve a menos na Quinta do Conde. E foi essa diferença que empatou o número de vereadores do PS e da CDU, três para cada.
As pessoas estão a deixar de acreditar na CDU. Não sei se os 3 polos da CDU – Seixal, Sesimbra e Setúbal – continuarão a escolher o partido.
Mas agora deve começar a estratégia de apresentar obras para calar as pessoas, mas muitos partidos fazem isso.
Reforçam a necessidade desses projetos junto da Câmara Municipal?
É uma das grandes batalhas. Dizem-nos que está para breve, que está para breve. A biblioteca está outra vez em concurso. Só que as empresas, várias vezes, não se candidatam porque não estão satisfeitas com os preços apresentados.
Portanto, fica no vazio, e as coisas vão andando.
Não aceitar os concursos pode ser uma estratégia de negociação das empresas… que querem melhorar as propostas.
E a Câmara volta a abrir concurso com novos valores. E as coisas vão sendo empurradas com a barriga para a frente, de mandato em mandato.
Relativamente a um outro projeto, qual é a urgência de uma nova escola secundária na freguesia?
Saem todos os anos da Quinta do Conde cerca de 800 alunos para fazer o 10º, 11º e 12º ano fora da Quinta do Conde.
Não sei se tem havido uma má condução do processo. A escola secundária é de responsabilidade do governo central e a nossa interferência é pressionar o Governo.
Não podemos fazer mais do que isso.
E a ideia de requalificar a escola Michel Giacometti com novos pavilhões?
Uma das ideias era construir mais dois blocos no local do campo de jogos da Michel Giacometti e passar o campo de jogos para a parte de cima, onde estão aqueles pavilhões com mais de 30 anos. Sairia mais barato realmente, mas não sei qual é o ponto de situação neste momento.
Acredita que esses projetos avançariam mais rapidamente com o PS na Câmara?
Acredito.
Mesmo estando o PSD no Governo?
Sim, a relação e a sensibilidade seria diferente. Até acredito que seria construída uma piscina na Quinta do Conde. Não está no programa da CDU, mas estava no programa do Partido Socialista.
A única piscina pública que temos no concelho está a 100 metros da praia. A Quinta do Conde só tem uma piscina, que é privada.
E não dá vazão ao número de habitantes?
Não. E como nós não temos meios financeiros para mais, apostamos em fazer parcerias. Fazemos muitas parcerias com movimentos associativos e entidades privadas.
Temos uma extensa lista de protocolos, incluindo o IFP, a associação Anime, o centro de formação Eagle Intuition, a Universidade Sénior da Junta, com cerca de 150 pessoas e 20 disciplinas, entre muitas outras.
Como avalia a acessibilidade da população aos serviços da Câmara Municipal?
Adquirimos uma plataforma denominada A Minha Rua. Se tiver uma reclamação a fazer sobre a freguesia, vai ao nosso site, à secção A Minha Rua, faz a participação e nós recebemos aqui.
Temos uma plataforma de agenda onde os movimentos associativos podem publicitar os seus eventos, que poderia ser mais dinamizada.
Qual tem sido a adesão das pessoas a essa plataforma de notificação de problemas?
Tem sido boa. Nós temos algumas competências descentralizadas pela Câmara: a limpeza das ervas e a limpeza dos passeios, o nosso grande calcanhar de Aquiles, e as reparações nas escolas do primeiro ciclo.
Temos melhorado nos últimos meses. Temos 200 km de passeios onde podem crescer ervas.
Agora, as pessoas notificam-nos através da plataforma e temos um piquete – uma equipa de plantão – para responder rapidamente a emergências.
As outras reclamações remetemos diariamente para a Câmara.
Existem muitas zonas com excesso de mato, inclusive junto a passeios de escolas. Há fiscalização suficiente?
Se calhar não tanto como devia. A Câmara devia notificar os proprietários com mais rapidez e exigir que limpassem o espaço. Grande parte das zonas não limpas são de proprietários privados.
É cumprir sua lei. A Câmara tem que informar o proprietário, e se o prazo não for cumprido a Câmara pode limpar o espaço e passar os custos para a pessoa em questão. A junta tem apenas 20 funcionários. Não conseguimos dar vazão a tudo. Todos os dias mandamos cerca de duas reclamações neste aspeto para a câmara.
E qual a resposta?
Não temos. Se calhar em 2025… com as eleições, vai estar tudo limpo.
Vai-se recandidatar?
(Leia a segunda parte da entrevista na segunda-feira)
ÚLTIMA HORA! O seu Diário do Distrito acabou de chegar com um canal no whatsapp
Sabia que o Diário do Distrito também já está no Telegram? Subscreva o canal.
Já viu os nossos novos vídeos/reportagens em parceria com a CNN no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Siga-nos na nossa página no Facebook! Veja os diretos que realizamos no seu distrito
Então com 8 anos de governo do PS não foi feita a escola secundária mas a culpa é dos outros…
Tudo igual, presidente de uma junta com o discurso de partido qual é a diferença deste para os bonecos da CDU ?