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Autárquicas | Jessica Pereira critica “retrocesso” no Barreiro sob governação socialista

Em entrevista exclusiva, a candidata da CDU acusa o PS de ter deixado o concelho “ao abandono” e defende a recuperação dos serviços públicos e da atividade produtiva como pilares do seu programa.

Nasceu e cresceu no Barreiro?

Eu nasci no Alto do Seixalinho em 1994 e desde então que vivo aqui no concelho, fiz aqui toda a minha escola, na escola Básica e Secundária Cidade de Sol, antes de ir para Lisboa para a Universidade. 

Como foi crescer aqui no Barreiro?

Foi muito bom, nós já temos muito orgulho em ser barreirenses, mas esse orgulho ressalta quando vamos para fora do concelho. A ideia de termos crescido num concelho com tanta história, com uma história de luta muito importante para o país, não é ser bairrista, mas temos uma identidade operária de perseguir os nossos sonhos e objetivos muito característica, dizer que somos do barreiro dá-nos muito orgulho.


Qual é o seu percurso profissional? 

Depois de fazer a licenciatura no ISCTE, em ciência política, saí e comecei a trabalhar no continente como operadora de caixa ao mesmo tempo que fazia a pós-graduação em crise e ação humanitária, no ISCSP. Depois fiz o mestrado no ISEG em desenvolvimento e cooperação internacional.

Quando estava a acabar a dissertação tive a oportunidade de concorrer a uma bolsa de investigação, sobre o movimento associativo popular. O que tenho feito até agora tem sido investigação em colaboração com a Confederação Portuguesa das Coletividades.

Quando é que se dá o seu primeiro contacto com a política e em particular com o PCP?

Eu lembro-me de no secundário já ser muito interessada pelo que se passava no mundo e em meu redor. Tive uma mãe que foi uma das mulheres despedidas no período inicial da Troika, de uma fábrica em Palmela e vivi todo aquele periodo com esse fardo, com uma mãe que sempre trabalhou em fábricas e até aos 50 anos e depois fica sem o seu ganha-pão e tem muita dificuldade em sustentar os seus filhos. Isso formou muito a minha ideia de termos de romper com esta realidade que não é justa, eu vi a minha mãe a lutar todos os dias por uma vida melhor.

Depois de forma mais natural, aqui no Barreiro, comecei a participar na Comissão de Utentes na altura em que se discutia o aeroporto ir para o Montijo. Mais tarde comecei a participar também nas questões da saúde, também junto da comissão, e comecei a perceber que nestas reivindicações o PCP estava sempre lá, para mim tornou-se claro que a determinada altura mais valia tomar partido, e inscrevi-me em 2020.

Depois de ter perdido a Câmara em 2017 para os socialistas, qual é a análise que a CDU faz do tempo em que estiveram no executivo? 

Esta ideia de que a CDU não fez nada durante 40 anos foi propagandeada e pegou muito, pela forma como foi metida na rua. Aliás, não foi só aqui, é uma vaga que se tem verificado na região ao nível autárquico. Apesar dos resultados temos sido sempre uma força presente nas ruas, sempre que existem reivindicações nós estamos lá, como a única força que tem conseguido combater as medidas do PS na Câmara Municipal.

Esta ideia dos 40 anos coloca em causa os vereadores do PS, do PSD e os trabalhadores da Câmara que estiveram connosco em vários executivos. A CDU é responsável pela instalação do primeiro saneamento no Barreiro após o 25 de abril, projetamos a devolução das nossas frentes ribeirinhas, a primeira fase da Polis. E depois a construção de vários equipamentos, como a escola de Palhais. 

Ainda sou desse tempo e lembro-me de uma programação mensal de música e teatro que agora não existe. No fundo, havia maior participação da população, nessa altura foram implementadas reuniões periódicas com as populações em todas as freguesias. Havia mais proximidade e uma gestão mais democrática que permitia que as pessoas soubessem o que se estava a passar na cidade, o porquê de determinada obra, quais eram as suas queixas e dificuldades, permitia que falassem diretamente com o presidente da autarquia.

Qual foi o trabalho desenvolvido pela CDU nestes últimos 4 anos?

Eu acho que é completamente impossível não falar do trabalho que a CDU tem feito em defesa do Hospital do Barreiro e dos cuidados de saúde públicos no concelho. Nestes últimos oito anos o que temos visto é o desmantelamento do Hospital do Barreiro, primeiro o fecho intermitente de serviços e agora a título definitivo à cardiologia, nesse sentido temos feito um trabalho de denúncia, esclarecimento e proposta, denunciando os fechos e encaminhando propostas relativas à fixação de médicos no Barreiro.

Que problemas têm vindo a identificar ao longo destes últimos anos?

É inevitável dizer que são considerados um grande retrocesso para o Barreiro em questões fundamentais. Na questão da saúde, o PS tem estado conivente com tudo o que tem acontecido, desde o fechos intermitentes no Hospital, da ginecologia, do bloco de partos, tudo isso começou quando António Costa estava no Governo, que na altura disse que o fecho era feito para dar previsibilidade às grávidas e, de facto, ficou mais previsível, chegavam lá e estava sempre fechado. Este é o mesmo PS que tem um presidente da Câmara do Barreiro que nunca meteu um pé nas manifestações dos utentes, chegou até a criticar e a ridicularizar as reivindicações dos utentes.

Outra questão é a habitação, que é uma questão que deve ter uma resposta nacional e não se devem responsabilizar os municípios, nem municipalizar competências que têm consequências para os próprios habitantes. Não é com medidas de propaganda que se resolve este problema de dimensão nacional. Temos de ter uma câmara que que reivindique e exija ao Governo, e isso não tem acontecido em diversos assuntos. Os governos têm posto areia na engrenagem para atrasar estes projetos estruturantes para o desenvolvimento do concelho, e esta Câmara tem ido sempre atrás do que o Governo dizia. Esquecem-se que estão ali para servir os munícipes e não os seus interesses.

Temos ali a escola número seis no Alto do Seixalinho em que, ao mesmo tempo que estamos aqui a falar, estão crianças a fazer as suas atividades, ou no recreio a divertir-se, com maquinaria dentro da escola, separadas por um pano que não protege as crianças dos buracos, das máquinas. Está assim há tempo suficiente para que a Câmara Municipal tenha encontrado uma solução para deslocar as crianças temporariamente para outras escolas, ou de planeamento para que a obra seja feita rapidamente. A mesma câmara que cedeu um terreno público a uma escola privada para construir um pavilhão por uma bagatela, para além de estarem a fazer coisas que não são da competência da Câmara, naquelas que têm competências fazem um mau trabalho.

Por fim, a falta de cuidado com a cidade, temos estradas em que temos buracos há anos e que os vemos agora a fazer a repavimentação, quando essa obra devia ser um processo pensado e recorrente. O último plano de repavimentação anual foi feito pela CDU em 2017 e já executado pelo PS no ano seguinte, desde então que estas obras não são feitas regularmente e são feitas sem qualquer planeamento.

Quais são as propostas da CDU para resolver os problemas que indentificou?

É preciso trabalhar para requalificar o parque escolar, construir a escola 2 e 3 dos Fidalguinhos e reivindicar o aumento de rácios para as escola, relativamente a professores e pessoal não-docente, para responder às necessidades. Na saúde, em que os municípios não têm competências, cabe-nos reivindicar junto do Ministério da Saúde, a requalificação de centros de saúde, a devolução da total capacidade e valências do Hospital do Barreiro, trazer de volta o centro de saúde do Alto do Seixalinho que foi encerrado durante a Troika. Também é necessário que estes serviços cheguem a outras freguesias como Palhais e Coina.

Que outras propostas pode destacar da sua candidatura?

Nota-se um descontentamento com o desmazelo do espaço público. Por muitos mais anúncios de obras e operações publicitárias que se paguem, a verdade é que o Barreiro está ao abandono. O Barreiro precisa também de apostar na sua produção que foi perdendo ao longo dos anos, precisamos de desenvolver o nosso aparelho produtivo. Só este ano fechou a SGL Carbon, que deixou mais de 200 pessoas sem trabalho. Precisamos de ser capazes de fixar postos de trabalho digno, é isso que nos faz reter população e dar futuro às próximas gerações.

Existem mais de mil edifícios devolutos no centro do Barreiro, o que se faz notar quando andamos na rua. Como pretende resolver este problema?

A CDU defende uma estratégia clara de requalificação dos imóveis devolutos no Barreiro, tanto para responder ao problema da habitação como para recuperar a imagem urbana do concelho. O relatório municipal indica uma redução significativa do número de casas devolutas, mas a realidade mostra que a construção entre 2018 e 2022 estagnou e as novas habitações são, na sua maioria, de luxo — inacessíveis à maioria dos barreirenses, já que cerca de 60% da população aufere menos de mil euros por mês. Assim, propomos isentar e apoiar os proprietários que queiram reabilitar os seus imóveis, facilitando o processo de requalificação. Ao mesmo tempo, a Câmara deve adquirir e reabilitar casas dentro das suas capacidades, colocando-as ao serviço da população a custos controlados. Esta política permitiria não só melhorar o acesso à habitação, mas também revitalizar o espaço urbano, combatendo o abandono e dando o exemplo na valorização do património municipal.

Falava em apostar na capacidade produtiva do Barreiro, tem exemplos de propostas da CDU relativamente ao desenvolvimento económico?

Uma das propostas era exatamente defender-se a continuação da SGL no Barreiro, com aqueles 200 postos de trabalho, porque isto é mais uma machada no nosso concelho e no seu aparelho produtivo. Depois de não respeitar e valorizar os comerciantes que, por exemplo, só foram avisados uma semana antes que as obras na Rua Miguel Bombarda, uma das principais artérias da cidade. Temos ali comerciantes que vão ter um grande desfalque nas suas vendas e ninguém lhes foi perguntar como os podem apoiar.

Depois também pretendemos valorizar os mercados tradicionais do Barreiro, como o mercado do Lavradio, o mercado municipal de Coina e os mercados do Levante, que têm sido abandonados. Para aquelas pessoas que ali trabalham a sua banca é o seu ganha-pão. Temos de arranjar condições para que as pessoas se fixem aqui.

Existe inúmeras queixas relativamente à falta de cuidados na higiene urbana. O que pretende fazer para resolver este problema?

A CDU tem sido sempre crítica desta privatização, entendemos que não estão a ser servidos os interesses dos barreirenses. Para além de desviar 2 milhões e 500 mil euros de por ano para a concessão privada, o que nós vemos é um amontoado de lixo na rua e o número de caixotes do lixo na rua foi reduzido. Defendemos o fim da concessão, sendo que esta privatização foi feita sem estar fundamentada em nada, sem nenhum estudo prévio. Esta foi sempre uma concessão gerida e negociada à revelia do interesse público.

Defendemos que se invista esse valor para os serviços municipalizados, para a contratação de mais trabalhadores para a recolha de resíduos e que se invista mais e melhor nestes serviços, ao cuidado do município. Quando é a Câmara a fazer tem-se uma maior noção de onde se deve agir e temos mais rapidez na resposta aos problemas.

Na área da cultura, há alguma proposta que queixa destacar?

Queremos retomar um trabalho próximo com todos os agentes culturais do concelho, dinamizando a vida cultural para além do centro do Barreiro e envolvendo as freguesias mais periféricas. A Câmara tem equipamentos e estruturas que devem ser colocados ao serviço da população, com uma programação diversificada, regular e acessível. 

Defendemos o regresso de iniciativas como a Rota da Resistência e a criação de um Centro Interpretativo Ferroviário, valorizando o património histórico e industrial do Barreiro. Pretendemos também potenciar espaços como o AMAC e a Casa da Cerca, e criar uma Casa da Fotografia em homenagem a Augusto Cabrita, dando palco aos fotógrafos e artistas locais. Acreditamos que a cultura deve ser um direito e não um privilégio, e por isso rejeitamos medidas superficiais, como o “cheque cultura”, apostando antes numa oferta democrática, aberta e sustentável, que envolva escolas, associações e coletividades.

Relativamente à segurança, e em particular à criminalidade, há candidaturas que defendem a videovigilância e as polícias municipais. O que defende a CDU nesta área?

A CDU reconhece as preocupações legítimas da população com a segurança e a sensação de insegurança, mas entende que estas não se resolvem com videovigilância ou com a criação de uma polícia municipal de funções limitadas. O essencial é reforçar o policiamento de proximidade, com mais efetivos da PSP e da GNR, valorizando as suas carreiras e garantindo condições para que exerçam o seu trabalho no terreno. 

Antigamente, o Barreiro tinha várias esquadras da PSP espalhadas pelo território, o que permitia um patrulhamento a pé e uma relação direta entre polícia e comunidade — algo que se perdeu com a centralização das “superesquadras”. Além disso, a Câmara tem um papel determinante na prevenção: deve cuidar do espaço público, investir na iluminação e na reabilitação urbana, porque ruas escuras e abandonadas geram insegurança. Defendemos, portanto, uma abordagem integrada, que una a valorização dos profissionais da segurança e do seu trabalho à criação de uma cidade mais cuidada e segura para todos


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