Autárquicas | Fernando José compromete-se com transportes gratuitos “já em janeiro de 2026”
Entrevista exclusiva com Fernando José, candidato do Partido Socialista à Câmara Municipal de Setúbal. O candidato defende os tempos de Mata Cáceres no executivo e diz ter "um enorme orgulho" no trabalho que foi feito

Nasceu e cresceu em Setúbal?
Nasci e cresci em Setúbal, toda a minha vida foi feita aqui. O meu pai nasceu em Olhão e a minha mãe numa aldeia perto do Fundão, e encontraram-se aqui nos anos setenta, vieram para Setúbal porque havia muita indústria, vieram à procura de uma nova oportunidade.
Como foi crescer aqui?
Lembro-me de uma cidade que não tinha praticamente nada. Fiz a primeira classe no bairro salgado, depois fiz da segunda à quarta classe numa escola privada que agora já não existe, em frente ao Liceu. Depois andei na secundária do Liceu.
Qual é o seu percurso profissional?
Eu interessei-me por seguir direito, mas comecei a trabalhar no segundo ano de faculdade como auxiliar de ação educativa, e mais tarde fui animador cultural na D. João II. Depois ingressei na Escola Secundária D. Manuel Martins como assistente administrativo, terminei o curso e acabei por ingressar em 2005 na carreira de técnico superior jurista na Direção Geral de Emprego e Relações de Trabalho, como técnico de mediação e conciliação. Em 2007 defendi a primeira mediação com acordo, num conflito entre a SATA e o Sindicato Nacional dos Tripulantes de Aviação Civil.
Em outubro de 2016 assumi de forma interina de Diretor Geral do Emprego e Relações do Trabalho. Depois paralelamente à minha atividade profissional, estive também como administrador de 3 agências europeias do emprego, com sede em Salónica, outra em Dublin e outra em Turim. Também estive a representar Portugal num acordo com os Estados Unidos da América, por causa do um conflito laboral dos trabalhadores da base das Lajes, tínhamos reuniões em Lisboa e em Washington, que eram no pentágono.
Eu acho estranho quando algumas pessoas vêm alegar a minha falta de experiência para assumir o cargo de Presidente de Câmara, eu gostava que se comparasse o meu currículo delas ao pé do meu currículo, um currículo que guardo sempre com humildade e simplicidade e que não é muito divulgado.
Muitas vezes fala-se que estas acontecem porque andamos na política, tudo na minha vida tem acontecido não por andar na política, eu entrei na administração pública sempre por concurso, as coisa têm acontecido pelo trabalho que tem sido desenvolvido. Além disso, também fui deputado na Assembleia da República entre 2019 e 2025.
Quando tem o seu primeiro contacto com a política?
Houve um momento na minha juventude em que eu e os meus amigos tomámos a liderança de uma coletividade na zona das Amoreiras, em Setúbal, que estava um pouco abandonada e nós tentamos dar uma nova dinâmica. Isso permitiu-me ganhar o gosto pelo serviço público e um pouco pela política.
Nessa altura a vereadora Paula Costa convidou-me para trabalhar na Câmara Municipal de Setúbal e a juntar-me ao Partido Socialista, e eu entendi que não era o momento porque estava ligado a uma coletividade, não queria misturar. Quando saio das Amoreiras em 1999 para assumir o cargo de animador cultural, o Carlos César convida-me para ir trabalhar com ele e decidi ingressar no Partido Socialista.
Depois de 16 anos de Partido Socialista a governar Setúbal, a população não fez uma apreciação positiva e decidiu voltar a dar o executivo à CDU.
Que avaliação faz desses anos de PS à frente do executivo em Setúbal?
Essa avaliação feita pelos setubalenses está datada no tempo, foi em 2001, em que entenderam que o último mandato do Mata Cáceres, o último mandato do partido socialista, não foi um bom mandato, e eu subscrevo, efetivamente foi um mandato em que os autarcas se fecharam em si e isso teve um reflexo na votação dos setubalenses na altura.
Mas tivemos 16 anos em que o Partido Socialista foi poder aqui em Setúbal e temos um enorme orgulho do trabalho que foi feito, porque conseguimos mudar o concelho. Há uns paraquedistas que vão caindo e que não sabem o que é viver em Setúbal, mas eu na altura ia das Amoreiras ao Bairro Salgado por estradas de terra batida, não havia iluminação.
Foi por intervenção do Mata Cáceres que nós conseguimos ter ruas alcatroadas, saneamento básico, que não chegava a todas as pessoas. Na altura construímos também mais de 860 fogos, tivemos soluções para quem não tinha casa para acabar com as barracas. Não fizemos tudo bem, mas deixámos investimento que ainda hoje é utilizado pelos setubalenses.
Porque é que os setubalenses devem voltar a confiar no PS?
Este é o momento de fazer diferente, é o momento de fazer o que ainda não foi feito. De passar das ilusões das promessas para a concretização de projetos, e em primeiro lugar concretizar projetos icónicos como âncora para um concelho que tem de se afirmar como capital de distrito.
Um exemplo claro dessa ilusão foi o Estádio do Bonfim, gastámos 1 milhão de euros naquela pintura, e em quem olha por fora diz: espetacular. Mas quem olha lá para dentro aquilo está completamente degradado, pintou-se dando a ilusão que está tudo bem e não está.
Quais são os principais problemas que identificam no concelho?
No âmbito da mobilidade é um compromisso nosso que a partir de janeiro de 2026 quem reside em Setúbal deixa de pagar transportes públicos, o que já acontece em Cascais. Quando ouço dizer que é impossível, vão a Cascais e vejam como é possível. Como também é possível termos um pavilhão multiusos, desloquem-se a Portimão e vejam. Também temos o compromisso de trazer a videovigilância para a baixa e ao pé dos espaços noturnos, para que sejam seguros. Queremos também criar uma empresa municipal para a construção pública, para podermos dar uma resposta à nossa classe média.
Também pretendemos motivar mais os trabalhadores da Câmara Municipal, através da implementação da semana de quatro dias e de mecanismos como o teletrabalho, para criarmos maior eficiência e eficácia.
Em entrevistas anteriores muitos candidatos mostraram-se preocupados com a dívida avultada do município. Como pretendem resolver esta questão?
Não há varinhas mágicas que resolvam estas coisas de um dia para o outro, herdamos dívidas brutais de anteriores executivos, com as dívidas que temos, não pode ser assim, a Câmara Municipal de Setúbal tem de ser uma pessoa de bem, comprometemo-nos a fazer um plano de pagamentos.
Com a transferência de competências de algumas escolas também temos uma fatura brutal de energia. Por exemplo, o que a Câmara Municipal de Sesimbra fez foi avançar com um projeto para colocar placas solares em todos os estabelecimentos de ensino, o que reduziu para metade o consumo.
Temos de ter outra visão para a cidade, com projetos que sejam icónicos, como é o caso dos passadiços da Arrábida, que tem uma dimensão de turismo sustentável na nossa terra, mas também uma ligação de Setúbal a Azeitão.
Se o Partido Socialista ganhar, como vai lidar com a questão do estacionamento tarifado?
Setúbal tem obviamente de ter estacionamento tarifado, não há nenhuma cidade com a mesma dimensão que não tenha de ter, mas tem de ser apenas em zonas de pressão. Não faz sentido que vá do Bairro do Liceu para as Amoreiras, e depois para a Urbisado, não faz sentido nestas zonas. Tem de se criar condições para que um próximo contrato sirva os interesses das populações.
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