As armas e os barões, agora sim, assinalados
Ia “eu no meu caíco”, aborrecido, já de dedo em riste, preparado para salvar o Camões das marés revoltas do esquecimento, quando recebo a notícia de que afinal a data comemorativa vai ser, espera-se, assinalada – sem vergonhas. Convido-o a refletir sobre os Descobrimentos.
O Governo criou um comissariado para as comemorações dos 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões. Só agora. Também nunca acreditei que o azedume (terminologia em tendência no discurso político recente) para com a História de Portugal falasse mais alto do que uma legião de defensores do nosso património literário e cultural. Ainda assim, indigna-me sentir que se demorou muito tempo a arregaçar as mangas, uma tendência que se inverteu, devo desconfiar, pelo bruaá gerado.
Especulações à parte, resta-me parabenizar a enaltação de Camões, que não é dado adquirido, e é esse o ponto que me interessa.
O poeta renascentista é um marco da literatura portuguesa e foi, por meio da composição dos Lusíadas, um veículo do símbolo mais manifesto e declarado do melhor que é ser português. Luís Vaz de Camões é, indubitavelmente, uma figura que representa uma identidade, com potencial intemporal, do que é ser português a sério. Camões deve ser celebrado e ensinado! Assim mesmo, com vigor e veemência!
Não me quero alongar em navegações dispensáveis, “não vá encalhar-me” fatalmente nos argumentos falaciosos e irritantes dos wokistas, que consideram que tudo aquilo que é referente aos Descobrimentos se prefigura como old fashioned e imoral. Isto porque tanto os Lusíadas, como os Maias, esta última obra de Eça de Queiroz, são, dizem alguns deles, “racistas”.
Haverá certamente um oceano ideológico que me separa da professora e investigadora Vanusa Vera-Cruz, quando sublinha que, nos Maias, a “linguagem do narrador reproduz superioridade da raça branca”. Da mesma forma, considero abstrusa a narrativa de que a obra Lusíadas representa “a exaltação de uma época que a nós, portugueses, nos devia envergonhar”, como escreveu Joana Fonte, militante do Bloco de Esquerda e cronista do jornal Público.
Algumas pessoas executam julgamentos pejorativos do passado com base nos princípios morais do presente. É evidente que nós, portugueses, sabemos que a vida não tinha muito valor há largas centenas de anos atrás, que todos países do mundo (os poucos que já tinham sido descobertos) tinham a pretensão de conquistar terras, que a aculturação era o pão nosso de cada dia e que muitos erros foram cometidos. Assim sendo, é suposto os portugueses andarem de cabisbaixo, envergonhados, vergados, deprimidos e investidos em empurrar o passado para baixo da cama? Não será mais vantajoso pegar nos pontos positivos da nossa diáspora heroica e retirar simbolismos que elevem a nossa autoestima como povo?
Ninguém diz que tudo foi correto, mas se não podemos alterar o passado, nem devemos escondê-lo, então o caminho faz-se enaltecendo a coragem, a determinação, a perseverança e a fé que nos caracterizou.
O mito, a lenda, a crença, a ambição e o sonho são alguns dos melhores pilares que Luís Vaz de Camões passou para a sua escrita. E você? Tem vergonha disso?
As opiniões expressas neste artigo são pessoais e vinculam apenas e somente o seu autor.
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