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Arrábida | Pedreira da Mata Redonda em grau de intervenção “elevado”, devido a risco de tsunami

De acordo com a investigação TVI, não só se detetou o risco "elevado" da pedreira, como uma alegada ligação entre Nuno Lacasta, antigo presidente da APA, e cinco pedreiras localizadas no Parque, e cuja família terá lucrado ao longo dos anos.

Através de uma investigação TVI, foi revelada, esta semana, que a maior falésia de Portugal Continental, localizada no Parque Natural da Arrábida, pode causar um tsunami com “riscos importantes para a sociedade, em termos de vidas humanas e de impactes económicos significativos“. Esta é a frase que consta no processo da pedreira da Mata Redonda, arquivado pela Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG).

De acordo com a investigação, “após uma derrocada mortal numa pedreira em Borba, no Alentejo, em 2019“, o Governo procedeu ao contacto com as pedreiras e “classificou 191 pedreiras do país como estando em ‘situação crítica’“. Dessas 191, consta a pedreira da Mata Redonda, “com a exigência de um grau de intervenção ‘elevado’“. No entanto, “a informação passou despercebida”, ao ponto de nem o presidente da Câmara Municipal de Sesimbra ter sido informado da decisão, algo que pode ser atribuído, de acordo com a investigação, ao facto da pedreira ter sido incluída na Região do Centro, e não na de Lisboa e Vale do Tejo e “sem qualquer referência ao concelho“.

O documento da DGEG classificou a pedreira com “suscetibilidade a movimentos de massa significativos na arriba com eventuais riscos para a sociedade”, havendo a “necessidade de realização de análise da perigosidade e do risco de blocos/massas de grande dimensão na arriba Oeste da Serra do Risco, a sul da pedreira“. A necessidade prende-se com o facto da pedreira estar localizada a 100 metros de uma falésia com 280 metros de altura, e perto de outra com 380 metros, “no topo da Serra do Risco que é não apenas a arriba costeira mais alta de Portugal Continental, mas também a maior arriba de calcário da Europa“.

Porém, este risco já havia sido detetado em 2014, quando José Carlos Kullberg, especialista em Geologia da Arrábida e presidente da Sociedade Geológica de Portugal, preparava a candidatura do Parque Natural da Arrábida a património mundial, mas os alertas “não tiveram efeito“.

No entanto, a investigação não ficou por aqui: alega-se também que, Nuno Lacasta, antigo presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), seja “dono de cerca de 15% de cinco das onze pedreiras“, que existem no Parque Natural, sendo estas participações herdadas da mãe. Para além disso, também se fala de uma possível promiscuidade entre Nuno Lacasta e as pedreiras do Parque Natural, por ter sido presidente da APA na mesma altura em que a candidatura do Parque Natural da Arrábida a património mundial não avançou. Porém, Lacasta garante que, enquanto esteve no cargo, “nunca interferiu em qualquer assunto relacionado com pedreiras dentro ou fora do Parque Natural da Arrábida“.

O Parque Natural da Arrábida, estabelecido em 1976, conta com onze pedreiras licenciadas, “quase todas ainda em exploração”, e cujas licenças foram estabelecidas antes da criação do parque, o que permite que as mesmas continuem, ainda, a operar.

O setor, de onde se destacam empresas como a Secil, tem estado muito envolto em discussão. Se, por um lado, Joaquim Cascalheira, da Associação Nacional da Indústria Extractiva e Transformadora, diz que as pedreiras da Arrábida serão necessárias para extrair as matérias-primas para a construção das obras públicas anunciadas para os próximos anos (como o Aeroporto de Alcochete), por outro, Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista ZERO, pede “um plano para que dentro de uma ou duas décadas acabem estas pedreiras numa zona de parque natural“, de forma gradual.


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