Abril inquietações a mil
Pedro Contreiras, secretário da CPC de Setúbal - Vogal da Comissão Política Nacional

O ano avança, os meses galopam e chegamos a abril. O cenário já nos é familiar. Nas escolas, os mais jovens começam a preparar as celebrações do 25 de abril, as autarquias também organizam os seus momentos de festividade, seja com exposições, concertos ou as tradicionais sessões solenes.
Na Assembleia da República, também vão sendo definidos os moldes da celebração e no espaço mediático vão surgindo algumas ondas de debate sobre a temática.
Particularmente, vivo este período com alguma ambiguidade. Agrada-me genuinamente o envolvimento popular na celebração e valorização da democracia. Creio ser um momento oportuno para abrir mentalidades e alargar horizontes dos jovens estudantes.
Porém, por outro lado, entristece-me a forma vazia e manipulada como muitos o fazem, seguindo uma determinada agenda, que para além de irreal, quando confrontada com a realidade, expõe toda a sua hipocrisia e falsidade.
Mas fico ainda mais inquieto quando sou confrontado com determinados discursos dos arautos da moral e da verdadeira defesa da Liberdade.
Escutando-os de forma atenta e tentando ao mesmo tempo confrontar com a realidade do país, surgem-me imediatamente algumas questões como: Se vivemos num país assim tão livre, como é que possível que o nosso sistema educativo continua a condenar milhares de alunos ao insucesso e à falta de preparação, apenas por derivas ideológicas?
Esses jovens não podem ser livres.
Se vivemos num país tão livre, como é que é possível tantos continuarem a ter de morrer sem poder aceder a cuidados médicos continuados, apenas por derivas ideológicas?
Essas pessoas não podem ser livres.
Se vivemos num país tão livre, como é possível continuarmos a condenar tantas famílias à pobreza hereditária, apenas por derivas ideológicas? Essas famílias, não podem ser livres.
Afinal de contas, aquilo que me estão a tentar dizer é que a expressão última da Liberdade é apenas o voto, independentemente da condição em que o sujeito exerce esse seu direito? Será o indivíduo verdadeiramente livre no exercício do voto, quando se encontra amarrado financeira e intelectualmente pelo Estado?
Mas as inquietações que me surgem extravasam o campo da conceptualização daquilo que é a Liberdade. Prendem-se mesmo com questões muito práticas e concretas.
Como é que aqueles que se dizem tão defensores da Liberdade e da Democracia, são os mesmos que suportam regimes como o de Nicolás Maduro ou Vladimir Putin?
Como é que aqueles que se dizem tão defensores da Liberdade e da Democracia, são os mesmos que têm como seus ideólogos figuras como Lenine, Estaline ou Mao Tsé-Tung?
Como é aqueles que se dizem tão defensores da Liberdade e da Democracia, são os mesmos que se agarraram a estes falsos democratas para poderem chegar ao poder, depois de umas eleições perdidas?
Mas mais ainda, como é aqueles que se dizem tão defensores da Liberdade e da Democracia, foram os mesmos que tantos violentaram, roubaram e mataram depois do 25 de abril?
É suposto continuar a olhar para tudo isto e nada dizer? É isso a defesa da Liberdade e da Democracia?
Creio que não.
51 anos volvidos desde aquele memorável dia, é momento de olharmos para a nossa história com maior racionalidade e sem agendas ideológicas ou partidárias.
Bem sei que não é fácil, mesmo para mim, mas é essencial.
Só isso permitirá o avanço e a construção de pontes. Apenas esse caminho renegará as polarizações e abrirá as portas de um diálogo que pretenda verdadeiramente evoluir na tensão, em vez de apenas querer abafar a oposição.
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