A grande obra de André Martins
Um fundo branco, um senhor sentado, de braços cruzados, sorridente. À sua volta, de pé, quatro homens e três mulheres, com as mãos apoiadas nos ombros uns dos outros.
Todas estas pessoas estão por baixo da frase “com a CDU/Continuar Setúbal”. Lembra-se desta imagem?
Certamente que não. Não é que tenha sido há muitos anos atrás, passo a redundância, é mesmo só uma imagem de um outdoor insonso das últimas autárquicas que a dizer nada disse tudo.
O homem sentado no centro era André Martins, o nosso atual presidente da Câmara Municipal. Há sua volta estavam aqueles que viriam a pertencer à sua equipa.
O outdoor dizia realmente muito pouco mas simbolizava bem a atitude com que a CDU estava a encarar as Autárquicas de então. Sentadinhos, bastava-lhes anunciar que eram da CDU e que era para continuar. O resultado desta brilhante estratégia?
Passar de uma maioria absoluta expressiva para quase perder as eleições (como aliás previ num artigo que escrevi aqui no Diário do Distrito).
Porém este “continuar” do outdoor seria para ser levado mais ou menos à letra, e assim foi até determinado ponto.
A postura de tomar os setubalenses como garantidos prosseguiu e foi assumida com tanto afinco que a certa altura, onde se leu “continuar” soava até a “não mexer para não estragar”. Durante um bom período do mandato, o executivo limitou-se a prosseguir com os projetos que transitaram dos anteriores responsáveis (alguns era os mesmos).
No entanto, mesmo sem vontade de se mexer, o presidente conseguiu destacar Setúbal na comunicação social, por duas vezes, com grande êxito.
A primeira, quando André Martins, inspirado, especulo eu, nas grandes personalidades democráticas que o PCP idolatra, decidiu desatar aos gritos com um vereador da oposição, deixando bem claro quem mandava na sala.
A segunda ocasião em que este executivo conseguiu chamar toda a atenção nacional para Setúbal, veio a propósito de uma demonstração de comovente sensibilidade, em que, no contexto de uma invasão da Ucrânia pela Rússia (ou como diria Jerónimo de Sousa, uma operação militar), surge a notícia de que a autarquia achou natural que refugiados ucranianos fossem recebidos em Setúbal por cidadãos russos.
Perante estes cenários, o comité da 5 de outubro, ainda tentou injetar alguma personalidade ao mandato de André Martins.
Apenas “continuar”, não estava a resultar. Reacendeu-se então a narrativa da reconquista do parque de merendas da Comenda, digna certamente de ficar nos anais da história da cidade, as vigílias de crocodilo à porta do Hospital São Bernardo – como se não tivesse sido culpa do PCP deixar o SNS entregue ao desgoverno do Partido Socialista – e também o regresso da gestão das águas para o domínio da autarquia.
O pior é que, paralelamente, a malvada da comunicação social teimava em escrutinar o que por cá se passava e, não com tanta notoriedade quanto as notícias anteriormente descritas, Setúbal passou outra vez pela imprensa nacional quando, por coincidência, alguns familiares e amigos de dirigentes do PCP descobriram um talento especial para ganhar concursos em vagas de trabalho lançadas pela Câmara Municipal.
Tema a que os setubalenses nunca tiveram direito a um esclarecimento.
O percurso feito até agora pelo executivo que tomou posse em 2021, tem sido o expectável de uma força política demasiadamente acomodada ao poder e completamente seca de ideias.
Ainda assim conseguiram exceder-se e o presidente André Martins viu, há alguns dias, o resultado do seu trabalho.
A grande obra deste mandato: o anúncio da recandidatura de Maria Dores Meira.
Esta liderança tem sido tão má que criou os alicerces para que quem achou os mandatos da anterior presidente bons, agora os tenha no patamar de lendários e anseie pelo seu regresso.
Como também seria de esperar, o PCP em Setúbal tremeu de alto a baixo com o anúncio da recandidatura e lançaram-se imediatamente ao ataque à ex-militante.
À boa moda comunista, se alguém não está de acordo com o partido, é porque é movido por interesses duvidosos, como fizeram questão de lançar para o ar no seu comunicado de imprensa.
Já para não falar no aumento exponencial de trolls pelos grupos de Facebook a aplicarem as doses diárias de propaganda de guerrilha com o alvo na anterior presidente.
Só que o único culpado deste regresso ter pernas para andar é André Martins e quem o aconselhou, que com arrogância acharam sempre que Setúbal estava no papo. Agora, confesso que é com boa disposição que assisto ao PCP, tal e qual uma barata de costas, a espernear contra o vento a tentar evitar o inevitável em 2025.
João Conde, Presidente da Juventude Popular de Setúbal
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