A Europa da panela cheia e dos campos vazios

A União Europeia (UE) é vista, e bem, como um símbolo de cooperação e progresso.
No entanto, para muitos agricultores portugueses, a União Europeia acarreta uma conotação de estrangulamento da sua atividade. Sob uma espécie de véu do progresso e da uniformidade, as regulamentações da UE muitas vezes sufocam a diversidade e a tradição agrícola de Portugal.
Não minto. A agricultura é uma área que me é cara. Nasci no campo e aqui tenciono continuar, conheço a realidade. Ouvi na primeira pessoa um agricultor num destes dias e ouvi o seu sentido crítico acerca da forma como as normas da UE afetam a produção de alimentos tradicionais.
Cresci no litoral alentejano e o arroz é uma cultura emblemática, com variedades locais que proporcionam sabores únicos e incomparáveis. No entanto, o bom arroz português muitas vezes é preterido em favor de normas padronizadas que privilegiam a uniformidade em detrimento da autenticidade e identidade nacional.
É irónico que enquanto o arroz português de qualidade encontra mercado em países como Israel e outras nações do oriente, enquanto em Portugal muitas vezes contentamo-nos (sem noção disso) com arroz importado do Suriname.
Este arroz chega aos nossos portos em caixotes com bolor e é de seguida lavado e tratado em fábricas portuguesas, um testemunho chocante da inversão de prioridades que ocorre no nosso sistema alimentar.
Enquanto exportamos boa produção nacional (e europeia), aceitamos produtos de mercados “terceiro-mundistas” no que toca a qualidade, a pesticidas e acima de tudo a verificação dos padrões de excelência que não estão no primeiro ponto da agenda destes produtores.
O problema vai além da qualidade dos produtos. As normas da UE também afetam a forma como os agricultores portugueses podem cultivar a terra. É hora de repensar o modelo agrícola europeu. Trate-se o diferente por diferente. A UE deveria promover práticas agrícolas sustentáveis que valorizem a qualidade e a autenticidade dos alimentos.
Devemos procurar um equilíbrio entre a regulação necessária para garantir a segurança alimentar e a flexibilidade para preservar as práticas agrícolas tradicionais.
Não é dizer não à importação de alimentos exteriores à comunidade, é dizer sim à economia de mercado aberta mas em situação de paridade que é inexistente neste momento. A concorrência desleal é um elefante na sala.
Temos as Eleições Europeias à porta e é fundamental a discussão e a valorização da tradição agrícola portuguesa. Este é o momento.
Isso significa investir em programas de incentivo, facilitar o acesso aos mercados locais e promover a educação sobre a importância da agricultura e do setor primário enquanto atividade económica. Aliás, em última análise, a agricultura não deve ser vista apenas
como uma atividade económica, mas como um pilar fundamental da segurança alimentar europeia e até da identidade cultural de cada país.
Creio que a única alternativa que tem a capacidade para levar a discussão construtiva e intervir nesta matéria em Estrasburgo é a Aliança Democrática. A experiência política e a presença no terreno (até no sentido literal, neste caso!) é a única capaz de romper com as normas que estrangulam a nossa agricultura e de abraçar um futuro onde a qualidade, a autenticidade e a produtividade sejam valorizadas no seio europeu.
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