25 de Abril enche as ruas de Lisboa com, juventude e vozes pela liberdade
Milhares de pessoas ocuparam as ruas de Lisboa esta sexta-feira, 25 de Abril, numa manifestação marcada pela alegria, pela memória e pela luta, que reuniu diversas gerações, dos que viveram a Revolução dos Cravos aos jovens que a descobriram pelos livros e pela vontade de resistir.

Lisboa foi, mais uma vez, palco das celebrações do 25 de Abril, numa marcha que percorreu a Avenida da Liberdade, desde a Praça Marquês de Pombal até ao Rossio.
A manifestação decorreu num ambiente de alegria, paz e resistência, com palavras de ordem contra o fascismo e em defesa da democracia e dos ideais de Abril.
Frases como “Abril está na rua, a luta continua” e “25 de Abril sempre, fascismo nunca mais” ecoaram por entre os milhares de manifestantes, muitos deles empunhando cravos vermelhos, símbolo maior da Revolução dos Cravos.
Entre os participantes, registou-se a presença expressiva de jovens, sinal claro de que, mesmo sem terem vivido a revolução, não a esquecem.
Os manifestantes também levantaram diversas reivindicações sociais, como o aumento dos salários, a ampliação da licença de paternidade, melhores condições de habitação e, especialmente, o fim da privatização dos hospitais públicos — uma das grandes conquistas do 25 de Abril.
Cartazes com frases como “O público é de todos, o privado é só de alguns” eram visíveis ao longo da avenida.
A pluralidade marcou o evento, com várias bandeiras estrangeiras presentes além da portuguesa. Questionados sobre este simbolismo, alguns participantes explicaram: “O 25 de Abril é um dia para se comemorar a liberdade de todos, incluindo dos imigrantes que vivem em Portugal, ou até mesmo para pedir pela liberdade de outros países.”

Como é o caso de Mahamud, um jovem sudanês que vive o seu primeiro 25 de Abril em Portugal. Com a bandeira do Sudão nas mãos, partilha: “Sei um pouco sobre o que se comemora este dia, sei que é sobre a liberdade, e isto é tudo que desejo para o meu país.”
Tiago,um manifestante portugês, contou que desde o ano passado sente a obrigação de “cumprir Abril” e renovar o pacto feito há mais de 50 anos. “Tivemos uma revolução pacífica, e é importante termos este símbolo, demonstrando, como fomos um movimento, não violento”, reforça, segurando um cravo.
Gustava, do coletivo “Cravo com Q”, explica que a importância do 25 de Abril vai além do fim da ditadura: “Às vezes a gente pensa o 25 de Abril só em relação a um critério, a uma parte da opressão, e não tem como falar de libertação coletiva sem falar da libertação de todas as pessoas — interseccionando racialização, género, classe, lugar de origem, etnia e tantos outros marcadores sociais.”
Durante o desfile, encontramos dois amigos profundamente ligados a Abril.
Um deles esteve nas ruas em 1974 a clamar por liberdade, paz e o fim do fascismo, e desde então participa anualmente nas comemorações.
O outro era militar e soube da revolução no próprio dia: “Assim que aconteceu, tudo mudou.” Ambos destacam a importância de preservar e recuperar conquistas de Abril. Questionados sobre o que lembram desse dia, responderam em uníssono: “TUDO”.
Emocionados, disseram: “Este ano está espetacular. Dá-nos um enorme prazer ver tantos jovens na rua.”
Entre essa nova geração está Maria João, de 19 anos, que tem tatuado no braço um dos símbolos de Abril: o rifle com cravos.

Explica que, após assistir a uma palestra de um capitão de Abril na sua escola, sentiu-se profundamente tocada pela história: “Eu já tinha feito uma tatuagem sobre o meu autismo, e queria fazer outra. Fui a essa palestra e senti que aquilo me abriu os olhos.”
Maria João conta que foi pesquisando cada vez mais sobre a Revolução dos Cravos, e que quanto mais aprendia, mais compreendia a importância de manter viva essa memória: “Fiz esta tatuagem no aniversário dos 50 anos porque me senti imediatamente presa a essa história. Quando desci a avenida pela primeira vez, foi mágico.”
Para a jovem, o crescimento da extrema-direita em Portugal é preocupante, e associa o fenómeno à desinformação e à propagação de ideias racistas e sexistas: “Muitas pessoas acreditam nesses ideais por ignorância. Todos nós já fomos ignorantes em alguma fase da vida.” Acrescenta que a diversidade presente nas comemorações mostra aos mais novos que há razões reais para lutar pela liberdade e justiça social.
Outro rosto conhecido entre os manifestantes foi o compositor Alexandre Delgado, neto do antigo presidente Humberto Delgado.
Além dos tradicionais cravos, carregava consigo uma piaçaba com o rosto de Donald Trump. Quando questionado, alertou: “Os Estados Unidos estão a tornar-se um Estado fascista, e isso seria uma catástrofe para o planeta.”

Sobretudo um país que era o nosso aliado, ser o nosso inimigo, é uma coisa impensável, inimaginável”, afirmou, referindo-se ao atual rumo político dos EUA com Trump. “Para já não falar da desgraça humanitária, a desgraça para o planeta, para a crise climática. Tudo isto é uma catástrofe, é uma emergência mundial.”
Alexandre recorda que tinha apenas oito anos em 1974, mas lembra-se perfeitamente do dia: “Nunca tinha ouvido falar de política. E eu sou de uma família com uma grande matriz política. O meu avô foi assassinado em 1965, o ano em que nasci, e isso tornou-se um tabu em casa.”
Foi apenas no 25 de Abril que descobriu quem era realmente o seu avô: “Foi o primeiro dia que ouvi falar de política.”
Para si, celebrar esta data é algo essencial: “Quem não gosta do 25 de Abril são verdadeiramente só as pessoas que eram a favor de Salazar.”

Esta também foi a primeira celebração do 25 de Abril para a pequena Amélia. Juntamente com os pais, leu o livro “O Meu Primeiro 25 de Abril”, de Hélder Teixeira Peleja e José Jorge Letria, e aguardava com entusiasmo poder estar presente com um sorriso no rosto e um cravo na mão.
Do outro lado da faixa etária, encontramos Alfredo Fernandes, com mais de 90 anos, que todos os anos marca presença nas celebrações, carregando orgulhosamente uma grande bandeira de Portugal: “Esta bandeira é o símbolo da pátria e o meu partido. A democracia é o meu partido.”
Recorda que no dia da Revolução estava a dormir, e só soube do acontecimento no dia seguinte, ao chegar ao trabalho, porém a mudança foi clara após isto.
Promete continuar a participar enquanto a saúde o permitir.
A celebração encerrou-se com Grândola vila morena, música tema da revolução, que foi cantada diversas vezes durante o percurso.
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